11 de dezembro de 2016

Eram

Era sorriso. Um puro sorriso vindo dali. Era uma presença, presença boa que percebi.
No meio do caminho, tropeçamos. Nas quedas do caminho, nos encontramos.
Já era noite. Era sorriso. Era madrugada. Era um abrigo.
Já era madrugada e eu seguia, seguindo. Era profundo, silêncio, sozinho.
Solidão, não era a assim tão ruim. Quão temeroso seria aceitar que o seu melhor estado era assim, sem platéia ou troféu?
Só me deixe assim aqui quieto, porque o vento da madrugada já chegou. Era frio. Era um sorriso. Que sorriso!
Era singelo, um abrigo.

24 de novembro de 2016

Teus olhos

Nunca vi teus olhos
Mas parece que os reconheço
Baixos, profundos e acompanhados de um sorriso

Nunca vi teus olhos 
De perto
Mas parece que os reconheço
e nas palavras que ouvi, 
havia uma voz, que gostei, pela qual tive apreço

Eu nunca vi teus olhos
e talvez nunca os veja
mas já valeu a pena ter de novo essa
sensação
de que minhas palavras são colhidas por alguém

Às vezes são só o que tenho
Por vezes são tudo que tenho
Na maioria do tempo não tenho nada
Mas agora tenho os teus olhos
Que eu nunca vi
Mas hoje sei que existem

21 de novembro de 2016

Addio

Deixe, morto e decrépito aquele sentimento que outrora nutrimos, esvaído no tempo de tanto desprezo.

Se perfaz em nada como o vento que sopra em outra direção sem ter o que carregar, seguindo o caminho perdido das estradas vazias.

Leve, morto o que já não existe mais. Admiração, respeito, consideração acabou, não há mais nada, sequer amor. Não há verdade, não há rancor.

Sua beleza se foi e agora é apenas um pedaço de carne perdido no mundo, não é nada mais além de uma arcada amarelada, nem perto daquele sorriso. Não há mais, amigo. Não há mais amigo.

A pior morte é aquela por envenenamento, que vai matando aos poucos sem deixar rastros. Aquela em que se bebe uma dose de decepção, uma dose de desprezo por dia, uma dose de trevas que tomam o coração.

Era importante, relevante, hoje já não faz diferença. Parabéns! Conseguiste o que tanto queria: O nada sobre o que havia em tudo que nunca existiu.

10 de novembro de 2016

Ah, ela, era

Os olhos fechavam e se viam
Ela se encontrava com alguns gosto que eu tinha
Era estranho como as coisas se encontravam no ar, mas eu não a via
Será que ela realmente existia?

O pouco tempo de vida se esvaia nas palavras firmes de uma moça, doce
Ela aparecia assim, um dia sim, outro dia talvez, quem será que trouxe?

Ela perdia as palavras quando as palavras descreviam o que ela via
Sozinha, gostava de ficar e resolver os seus próprio conflitos, em dia

E assim ela seguia, maior do que parecia, mais firme do que devia e mais promissora do que sabia.

17 de outubro de 2016

Poesia Pura

Uma cantoria embaixo da janela
Um beijo, uma risada
Não dá pra ver tristeza ali
Porque alegria dela sempre gritava

Ela é uma alma leve
Era livre como o vento
Tinha uma poesia que agradava
Até seu coração fora do corpo
Lhe mostrar que ela não tinha
controle sobre nada

Ela tinha ido, 
apesar de nunca ter sumido
Inexplicavelmente voltou
E era como se nunca tivesse partido

Dona de um olhar carregado 
de sinceridade
Se perfaz em sorriso 
De uma presença que demonstra coragem

Transborda e deixa a borda
cheia de si
Com um encanto que 
Não tem palavra que possa definir

Uma amiga incrível
É bem verdade
Com quem tenho o prazer 
De dividir a velhice da loucura
apesar da nossa pouca idade.

14 de agosto de 2016

Fica

Ora, vejo longe aquilo que já considerei parte de mim
Vejo de longe algo que sei não haver mais por aqui
Pior quem de tão longe acaba por deixar de existir
E torna tão insignificante a verdade que fazia parte de um sentido ou algo assim

Nem de lá nem de cá
Se perdeu no limbo do desprezo
Ignora a falta que faz e as coisas seguirão
De qualquer jeito

Segue a dor das perdas cotidianas que agora insistem em virar rotina
Na verdade não era o medo de perder você que afligia
Era o receio de saber que se esse vínculo se perdesse e não fizesse diferença, o que mais importaria?
"Estarei condenado a rabiscar?
Depressa recorro ao meu tinteiro.
Escrevendo rios de tinta.
Que belas ondas!
Talvez a escrita não esteja muito nítida...
Que importa? Ninguém lê o que escrevo."

Friedrich Nietzsche 

12 de agosto de 2016

Solitatis

Era uma saudade atrás da outra, como se já não bastasse as faltas guardadas no peito, não bastava se acostumar. Não fosse o bastante as cicatrizes marcadas no coração, agora inventou de colecionar.

É, colecionar saudade.

Como um anjo aparecido depois de tanto tempo desejando, com um carinho guardado, meio de lado, meio de canto. Veio, e logo fez do ambiente o seu lar, transformou tudo na maior bagunça e não ficava um segundo sem parar, sem pular.

Ficou e transformou completamente a rotina, fez de qualquer poça a sua piscina. Que sina! Estava grande, tão grande que mal cabia mais naquele lugar. Salutar, elementar que ocupava mais espaço do que o disponível, sinceramente, não poderia ficar.

Era alegria, era um lar, vindo de um encantamento genuíno e só faltava falar. Era lindo, puro, completamente doce e o que não falava com palavras, o olhar traduzia, sem vacilar.

Era agora uma ida sem volta, para um lugar mais feliz com gramado por toda a sua volta. Era agora um caminho em outra direção, paralelos, mas distantes a cada curva, mudando pouco a pouco a cada ocasião.

Era uma saudade atrás da outra, como se já não bastasse as faltas guardadas no peito, não bastava se acostumar. Não fosse o bastante as cicatrizes marcadas no coração, agora inventou de colecionar.

É, colecionar saudade.

Todas elas tinham uma história diferente, vinham de sangue, vinham de olhares, de proximidade e de toda gente. Era uma de nem saber quanto, uma de lá tão longe que nem se lembrava mais e aquela que fez chorar o coração da gente, era a saudade mais recente.

Evita falar o nome, evita pensar, evita viver, evita chorar, mas quando vê o rosto já foi o palco para a corrida da dor que se esvai em lágrimas. Tudo é dor e tão tamanha apequenesse nossos corações, aperta, machuca e lembra que um dia foi tão grandioso e apesar de simples, tão bom.

Colecionador de saudades, sim. Não se busca uma a cada esquina, mas sem saber como reciclá-las, resolveu que era melhor limpar a poeira da angústia da falta e as manchas de orgulho para guardá-las na vitrine das experiências que nunca mais serão.

Sem dúvida, há saudade.

Com carinho, à saudade.

7 de agosto de 2016

Confundindo

Nos triviais que se instala uma mudança completa, ela vem e traz consigo o caos. 

Senta à mesa sem ter sido convidada e insiste na história sortida que traz à superfície uma conexão. 

E aqui estamos na armadilha montada em que nos propomos cair, nós queremos sucumbir e sentir o sabor do descontrole ao mesmo tempo em que abraçamos o caos.

Por que fazer chorar se os olhos brilhavam ao te ver e toda a verdade guardada não fazia mais questão de se manter adormecida, talvez isso assustasse, é verdade, mais talvez ainda, ainda assuste.

Não há rima e nem roteiro, são todos efêmeros e passageiros demais. 

Mas obrigado, muito obrigado por ter devolvido a inspiração, pois com o velho, ranzinza e sábio tempo ensinou: É possível viver sem algo, sem alguém, sem algum lugar, sem quase tudo, menos sem a inspiração carregada no peito. 

O propósito de tudo foi voltar a ser exatamente como era, mas dessa vez mais forte em si mesmo.

Me dê mais um gole e deixe que eu celebre ao seu maior legado em mim: As boas memórias.

E agora já é tão claro quanto o brilho da lua que só acontecerá de novo se aquele perfume, aquela sensação ou algo parecido tocar a alma de um maltrapilho bêbado e sozinho.

Mas livre!

5 de agosto de 2016

Heaven hell

São constantes batidas em meus ouvidos conduzindo a minha mente para o mais profundo estado de transe.

Vem até mim uma virada sensacional que transforma meu corpo em mero objeto em meio aos graves insistentes e por incrível que pareça, naquele caos eu sou completo.

Lá se vai mais uma garrafa morna corpo adentro molhando o caminho que percorre e todas aquelas almas e todos aqueles corpos e todo aquele calor junto, misturado, entrelaçado.

Sou rei, sou dono, sou pleno e uma voz distorcida me diz exatamente o que fazer e o tempo não para. A noite ganha contornos cada vez mais interessantes, assim como os olhares se entendem.

A falta de voz é preenchida pelas voltas dos bpms e todos dançam na mesma melodia, a mesma que dita o ritmo do que será daquilo tudo.

Que êxtase impressionante, por um momento alia alegria, felicidade, euforia e paz. BUM!

Não há mais nada a se dizer. Aliás, nunca ouve. Somos todos um só ritmo, uma só melodia e quem sequer faz ideia se tratamos de uma coisa boa ou ruim, basta avaliar os sorrisos em volta.

Foda-se, amanhã é outro dia.

12 de julho de 2016

Psicose

Acho que estou ficando louco e preciso de um psicólogo. Acho que estou ficando louco e comendo assim tão pouco, têm dias que o jejum é toda a minha refeição. De um jeito desencontrado e sem conexão, acho que estou ficando louco e me tranco no banheiro do aeroporto enquanto os aviões vêm e vão.

Preciso de alguém que me ouça e saiba o que fazer e não reflita todas as minhas angústias como se estivéssemos no mesmo barco que afunda sem prever. Preciso ouvir coisas sobre as coisas que eu disse sem que isso seja usado contra mim em algum momento, porque falar de si é como espalhar espinhos por um caminho que atravessará descalço mais tarde.

Percebo que estou ficando louco quando o brilho da manhã não me atinge mais e, apesar de entender a beleza dos raios de sol, não consigo ter o vigor que as outras pessoas tem para correr pelo parque nos períodos matinais.

Estou louco para voltar pra casa e me esconder do mundo, trancar-me em um cômodo escuro com a mesma roupa de ontem. Estou ávido por um período de silêncio em si, onde não aprendo nada, não penso em nada, não sou nada, só estou por ali.

Não fale comigo porque não estou em condições de te ouvir. Já faz tempo que não há nenhum sentido pra sair daqui. Acho que estou ficando louco.

Já coloquei a culpa na falta de tempo, nas responsabilidades e em todo o mundo e seus métodos. Já coloquei a culpa no destino, em mim mesmo, no acaso e nos remédios. Já me afoguei em álcool para esquecer o que me afligia e acordei pior no dia seguinte lembrando exatamente do motivo da minha agonia.

Acho que estou ficando louco e preciso de um psicólogo. Acho que estou ficando louco e comento assim tão pouco têm dias que o jejum é minha única refeição. De um desencontro e outro vou me afastando de um jeito torto e já não sigo o mesmo caminho, prefiro chegar ao meu destino pelos becos, pois larguei o carro na garagem, pois nem isso quero guiar.

Naquele dia na festa sozinho me senti como um homem verdadeiramente invisível, assistia os sorrisos nos rostos de todos e sabia exatamente o tamanho do vazio. A música parecia distorcida e os movimentos eram lentos. Foram horas que me cansaram e voltei pela madrugada. Não quero dormir para não me entregar à exposição do sono.


Acho que estou ficando louco e me perdi no caminho para a harmonia.

11 de julho de 2016

Notas sobre ela

Ela é constante em suas mudanças. Não como uma banalidade qualquer,  fuga ou covardia, seria mais a inquietude de ser assim, finita. Ora, como aceitar ser apenas uma coisa, com tantas outras possibilidades?

Quando ela está em casa consegue, sozinha, controlar tamanha inquietude longe de desesperar-se. Não obstante salte os olhares com uma presença imponente, prefere a simplicidade sobre as coisas. Simplicidades sobre todas as coisas.

Ela prefere o duradouro e pretere a empolgação das coisas intensas, pois sabe que na maioria das vezes isso passa, e quando passa não há mais nada. Por que então perder tempo e desgastar-se?

Ela prefere a liberdade de ser o que quiser, quando quiser e nada lhe convence do contrário. Prefere a conversa aberta com os pontos de vista postos à mesa do que cartas com histórias mal analisadas por quem quer que seja.

Ela é o próprio desafio de expectativa, gosta de alternar a si mesma entre intensidade e suavidade, explorando todos os prismas, alterados ora sim, ora não. Ela busca novidades e sensações, se traveste de ousadia em busca de um caminho inédito e se molda com o curso que atravessa, como um rio.

Ela é original e se sente bem com essa visão, carrega consigo ideias vanguardistas tão leves quando o vento. Em seus pensamentos extravasa e traz exageros junto aos fatos, pensa em si fora daqui, longe de si e em outro planeta. Não se assusta com a possibilidade de acordar amanhã e tudo mudar, nada é insubstituível.

Ela busca a maior racionalidade possível em todos os pontos, em todos os planos e em todos os conflitos. Pensa estar correta quando consegue alcançar o concreto em suas atitudes, se perfaz em fatos e consequências e nada do que possa surtir efeito lhe assusta tanto assim, pelo contrário, lhe encanta.

Ela é constante em suas mudanças. Não como uma banalidade qualquer,  fuga ou covardia, seria mais a inquietude de ser assim, finita. Ora, como aceitar ser apenas uma coisa, com tantas outras possibilidades?

Ela está mais em si do que qualquer outro, pois entende que a maioria nunca foi assim tão inteligente e que as ideias maciças tem o condão de estarem carentes de fundamento e empatia. Prefere a solidão de suas próprias conquistas intelectuais.

Ela mantém em si uma mente aberta e ávida pelo novo, pelo inédito e pelo diferente. Sua solidariedade contagia o leque de todas as suas posições, pois ao não pensar só em si é capaz de renunciar a várias coisas que normalmente se apegaria.

Ela é o melhor pelo melhor e não o melhor para si, mesmo que tudo fique pior. Pra ela não há diferença significativa entre o outro e o cascalho, desde que ambos cumpram bem o seu papel e sejam firmes em seus questionamentos, respeitosamente, sempre.

Ela não gosta de brigas, mas compraria a maior delas contra aqueles que não tem a capacidade de considerar novas ideias. Ela se irrita com o gesso das mentes retrógradas.

Ela trata tudo e todos com a melhor postura possível, sem avançar depois, pois quando as coisas começam a se misturar é hora de decantar de uma vez e seguir...  Ela é constante em suas mudanças. Não como uma banalidade qualquer,  fuga ou covardia, seria mais a inquietude de ser assim, finita. Ora, como aceitar ser apenas uma coisa, com tantas outras possibilidades?

30 de junho de 2016

Estrela

Te coloquei 
como uma estrela no meu céu, onde eu possa te ver sempre que quiser.
Te coloquei 
na constelação mais bonita que poderia, assim posso observar quando quiser.
Te coloquei 
lá em cima, pra poder lembrar nas noites que chegar tarde do trabalho e não esquecer que existiu.
Te coloquei
 onde continuará sempre existindo, provavelmente saberei apenas o seu nome e nada mais, talvez de que grupo que pertença e a direção que indica, mas não navegarei em seu sentido.
Não mais.
Te coloquei
 como uma estrela lá em cima, perto da lua que quando estiver cheia vai me fazer lembrar.
Te coloquei
 naquele céu estrelado, como um entre tantas as outras, mas saberei exatamente pra onde olhar.
Te coloquei
 lá em cima, pra poder lembrar.
Tantas estrelas no meu caminho, hoje figuram o céu da minha existência, pra onde eu posso olhar e lembrar bons momentos, sem depender de crença.
Te coloquei 
lá em cima, só pra poder lembrar.


26 de junho de 2016

Cadê

Cadê você, pra me dizer que não vem?
Hoje a noite vazia e sem lua representa o vazio da ausência de uma gargalhada sem fim.
Cadê você, pra me dizer: Não vem!
E vir com raiva, com os olhos cheios de desconfiança.
E chegar perto borbulhando de ódio por não ter controlado aquilo.
Sua omissão lhe custou um abraço, que logo acalmou as coisas.
Cadê você pra dizer que não vem?
Meus dados estão parados e tudo é tão cinza sem aqueles testes. 
Cadê 
você?

19 de junho de 2016

Cólera de um preconceito

Estive pensando nos preconceitos em mim. É fácil se colocar em uma posição favorável, é melhor se sentir superior, oras, bem melhor viver assim.

Tratar como frescura o peso de ser inferiorizado por uma característica. Dizer que é cultura ser normal, quando se é normal.

Realmente, percebi o quão medíocre sou. Percebo agora a que lugar eu vou. Aonde estou?

Perdido no conforto de ser comum, estando bem por ser só mais um. E escondido atrás de piadas acabo por depreciar algo, alguém, importante e relevante.

Sou mesmo muito pequeno, em ação e formação. Um homem para assumir as consequências que insistem em aparecer.

Estive pensando nos preconceitos em mim. É fácil se colocar em uma posição favorável, é melhor se sentir superior, oras, bem melhor viver assim.

Me proponho a ser melhor todos os dias, mesmo que não aja muito bem em prol disso. Mas por vezes confundo ser melhor com melhor performance, mais vantagem, mais resultado, mas veja, hoje meu pensamento deu uma volta, percebi que ser melhor de verdade é simples: Basta começar por deixar de ser um completo idiota.


7 de junho de 2016

quem é você

quem é você
vejo seu rosto sem poder entender
quem é você
vejo sorriso que desvia o olhar
mas
continuo sem perceber
quem é você

quem é você
me pergunto
a intensidade do por quê
e mesmo assim 
de olhar tão perto
não sei 
quem é você

o mundo gira
devagar
e aos poucos as coisas
vão vinho
e é até fazer se obter
mas o contínuo mistério
intriga
as facilidades banais
ora, quem é você?

vejo no espelho
meu próprio olhar irreconhecível
e a sombra que
acompanha 
minhas
costas
quem é você?

quem é você
acordo aos gritos
e surfando no susto
esbarro no silêncio mais
absoluto
engulo seco a pouca saliva
e me pergunto
agoniado
quem é você?

apenas o vento
madrugada
entra pela janela 
como se
não
houvesse absolutamente nada
pra lembrar
que tudo que veio 
acabou
que todos que vieram
já se foram
quem é você, na verdade
sou eu de volta a mim mesmo
depois de uma viagem louca
você sou eu
irreconhecível
apreensivo
desprendido 
de mim mesmo

quem é você
perguntava
sem perceber
que era meu próprio reflexo
encarando meu olhar
no espelho sujo 
do banheiro 

quem era eu?

5 de junho de 2016

Suicidado

Uma arma munida da bala que atravessa a cabeça e leva junto todos os anseios e desejos. É o breve fim antecipado de dores e sofrimentos profundos, transformando crises existenciais em um mero laudo cadavérico.

Em sonho o tiro é certeiro quando entra pela têmpora e acaba por sair  pela cabeça, com o projétil deflagrado, bem como todos os projetos frustrados.

Todo enforço em vão transforma aquele espaço em um vão sem encaixe ou visão, qualquer que seja a direção.

Em vão foram as noites perdidas, as palavras lidas, os problemas resolvidos, os destinos desprendidos.

Em vão foi a lágrima, foi o sorriso, foi o abraço e o companheirismo porque agora, logo agora tudo se resume a apenas um tiro.

No fim da vida de um martírio, onde a única real intenção era viver em paz, acabou, morrer em paz de repente passou a ser uma solução bem mais prática.

Afinal, pra que chorar em vão, sorrir em vão, tudo tacabou. Puxou o gatilho e não há mais nada, tudo se transformou em fim. O fim é o derradeiro, é  o cessar das dores de acordar.

Agora ninguém acordará mais, seria apenas um retrato com a lembrança de quem fomos, e quando não houver foto alguma, durará o tempo que a memória permitir, pois o coração mesmo já não sente mais nada.

Uma arma munida da bala que atravessa a cabeça e leva junto todos os anseios e desejos. É o breve fim antecipado de dores e sofrimentos profundos, transformando crises existenciais em um mero laudo cadavérico.

Abrace o corpo sem vida porque a alma já o abandonou. Foi o fim anunciado internamente tornando um grande nada a cadeia de coincidências que pareciam o centro do mundo. Mas o mundo segue e o centro agora é qualquer outro moribundo.

4 de junho de 2016

Náus

Acordado pela náusea consequente de reiteraras noites de excessos e dias espessos. Tudo meio ruim de um mal estar sem fim, nauseante trânsito em trânsito às obrigações derradeiras na fogueira de provar da única forma que disseram ser válida.

Ser tomado pelo esgotamento e nervosismo da famigerada ansiedade que parecia estar superada. Afinal, olhando bem estavam todos no limbo de qualquer plano, todos em frangalhos, afogados em medos disformes e ameaçadores que logo menos passarão.

Era isso e mais nada. Era isso e, olha que cilada ainda faltava tanto a ser feito. Obrigado por obrigações impostas pelas escolhas, além dos anseios tão firmemente perseguidos.

Ei, lá se vão as rodas da locomoção e o teto da independência, em um pequeno espaço no meio da cidade.

Lá se vão os olhares e abraços que permitiam a rápida fulga da alma fugás.

Decrépito organismo vivo se mantendo em automático, vestido de máscara que hoje caiu. As olheiras denunciam o final, o final de um esforço pretérito forte.

Vômitos e expulsões geram a catarse das escolhas falidas, dos caminhos viciados e do fim do mesmo filme de roteiro parecido.

Defecadas as impurezas expurgadas dos lugares onde se acumularam o peso além da força.

Ainda acordado pela náusea consequente de reiteraras noites de excessos e dias espessos. Tudo meio ruim de um mal estar sem fim, nauseante trânsito em trânsito às obrigações derradeiras na fogueira de provar da única forma que disseram ser válida.

31 de maio de 2016

Falta

Que falta que o senhor me faz
O senhor que me disse tanto lá 
Naqueles tempo atrás 
Que falta que o senhor me faz 
De lágrima em lágrima me arrasto 
Constante, distante cada vez mais 
Que falta que o senhor me me faz 
Ao redor da mesa onde o almoço virava jantar eu ouvia 
Mas nunca soube o que falar
E de menino calado 
Me tornei homem com tanto pra dizer 
Mas o que tenho a ser dito não pode chegar até você 
Que falta que o senhor me faz
Teus gritos graves na minha falta de atenção 
Me tornaram atento até demais, por vezes sem razão 
Até depois de tanto tempo
Que falta que o senhor me faz 
Dizem que sofrer por antecipação é coisa que não se deve fazer
Mas 
confesso que sofro antecipadamente por cada ano que terei que aguentar e ser capaz 
Ao passo que fico distante decaio em vazio, cada vez mais 
E acordo todo dia pensando na falta que o senhor me faz 
Da música cantarolada acapela aos livros que pude ouvir falar 
É legado que me comove e não me deixará jamais
Das lições de vida filosofada sem conselhos intermináveis 
Mas, fazer o que se eu não tinha maturidade para aproveitar tua existência como gostaria 
E hoje, ainda sim não aprendi a lidar e 
às vezes 
duvido de que um dia 
devolvam minha paz 
Que falta que o senhor me faz.

30 de maio de 2016

Poetasto


Um renascer em quem se fez caminho.
Por entender o melhor lado sozinho.
O tempo age como uma boa safra em vinho, 
que vindo já cresce e traz um estranho ao ninho.
Pois não há heróis quaisquer 
Já que nem a morte apagaria uma crueldade sequer
Tanto faz o infortúnio que vier
Da euforia ao fracasso,
é apenas um pé 
Deixe aqui um pedaço de si
Mas devolva o que levou sem se permitir 
Ou se perca no canto do coração incólume 
Faça escárnio e um disparate 
Ora, mas que descalabro.


23 de maio de 2016

A guarda aguarda.

Já era assim, ansioso até o fim. Era assim, perdido nas possibilidades, principalmente nas que dão errado. Era assim, levado pela consideração de todas as possibilidades medianas as quais poderia estar sujeito. Era assim.

Não era tão assim ao perceber que não era proveitoso. Não havia por quê ser assim por não ser prático, por não ser tácito, por não ser nada fantástico.

Pensar em alguma noção de como seria vantajoso manter-se pensante na linha de teoria sem prática, sem ter a menor noção de como seria ao fazer, pois a prática é a sabedoria do mundo em consequências.

Já era assim, ansioso até o fim. Era assim, perdido nas possibilidades, principalmente nas que dão errado. Era assim, levado pela consideração de todas as possibilidades medianas as quais poderia estar sujeito. Era assim.

Era o futuro construído em um espaço desconhecido sob o eco das declarações reveladas em duas ou três oportunidades que, apesar do filme repetido teriam sido suprimidas em um passado distante e voltaram às telas de uma nova velha história.

Não deixar que fosse assim porque o deslinde dessa história já era mais que conhecida. Oras, muito melhor morrer falante e com as palavras gravadas no coração do que de desfalecer em silêncio de um abismo de coisas a serem ditas.

Parcimônia e paciência são as armas em uma guerra de receios, que observam de soslaio a redoma que se forma em volta do medo de ser pleno e de ter dentro. Calma que o tempo é rei, calma que as coisas sempre irão se ajeitar, apenas é preciso respirar.

Respira um pouco e sente aqui, espera um pouco e sente aqui, é só questão de tempo até tudo ruir e passar a ser nada além de um momento a se ignorar.

É um tempo a ser valorizado como poucos, são reles ninhadas perdidas sem qualquer rumo a se seguir...

Apenas um pouco de paciência, se acalma, respire e sente aqui porque a vida nada mais é do que o eterno equilíbrio entre as consequências a foram dadas causas.

19 de maio de 2016

150

Ele caminhava em sua própria companhia pelas ruas desertas pela madrugada. O silêncio perturbador tornava possível ouvir a queda de uma folha seca ao chão. Fazia frio, muito frio.

Nada de carro ou amigos por hoje. Nada de mensagens ou abrigos por hoje e fazia tanto frio.

Enquanto caminhava afrouxava sua gravata e desabotoava o primeiro botão da camisa para sentir um pouco de alivio. Fazia frio, muito frio mesmo.

Aos pensamentos se misturavam lembranças e angústias mal resolvidas. Naquele misto de sentimentos ele se perguntava e tentava encontrar o problema, pois já estava convencido de que havia alguma coisa errada e isso vinha dali mesmo, de onde estava.

Já não raciocinava direito quando encontrou um barraco abandonado. Parou e se abrigou ali, pois fazia frio, muito frio. Era uma estrutura frágil e de madeira velha, mas que protegia um pouco dos fortes ventos daquela noite gelada. Ao lado um espelho que apesar de sujo estava inteiro sob uma caixa velha de madeira.

Ele não sabia muito bem o que fazer, sentia-se cansado. Deu um passo ao lado e entrou na rota do reflexo, podia ver o seu corpo vestido de uma roupa gasta de um dia inteiro de trabalho. Foi se aproximando do espelho até poder enxergar seu rosto, e no sujeito do reflexo conseguiu enxergar seu olhar.

Confuso, não parecia estar sozinho. Era estranha a sensação. Nada se falava. Nada se via. O que se sentia não era possível classificar, entender então nem se fala. Nada se tinha e pra onde, será pra onde que caminhava?

Ele pegou nas mãos o espelho sem moldura e conseguiu colocar em cima de duas outras caixas mais altas para que pudesse encarar aquele reflexo de pé. Foi se aproximando até enxergar no fundo dos seus próprios olhos, mas parecia que olhava outra pessoa.

Ele não conseguia reconhecer quem estava do outro lado do espelho. Com a ponta do nariz praticamente encostada ao reflexo percebeu que não fazia ideia de quem estava do outro lado. Aonde você ainda se reconhece?

Ele desejava um copo de whisky, mas além de tudo tinha que lidar com a droga de sua sobriedade. Era cada vez mais duro ver a hora passando, as pessoas de costas indo embora e ter que assistir, porque assim deveria ser.

Um ponto em si mesmo. Um louco que organizava seus próprios desatinos. Um líder dos progressos da sua própria instabilidade. Um exemplo do que não se conhecia. Um vazio que nada preenchia.
Que diferença faz? Perguntava-se.

Não era possível entender. Seja qual for o caminho, nessa estrada ele precisava seguir e continuar...
Depois de tanto tempo olhando para aquele reflexo de si mesmo, não reconheceu ninguém. Sequer o menino que fora um dia. Sentiu vontade de chorar, o coração dava pontadas de aperto e a voz que há muito não se ouvia já dava sinais de embargar. Sentiu vontade e queria chorar, mas estava seco, não conseguiu.  E fazia frio, muito frio dentro e fora daquele lugar.

Ele ficou ali por cerca de meia hora e saiu sem qualquer resposta, carregava sob os ombros apenas os fatos e frangalhos de algumas lembranças. Ele era a soma daquilo tudo caminhando entre pernas que bambeavam em uma cabeça que considerava tudo e sequer poderia se entorpecer.

Havia várias possibilidades, mas ele não queria mais lutar. Ele queria apenas seguir o curso do seu caminho e descobrir aonde tudo aquilo iria dar... Já não podia gritar, já não podia chorar e fazia frio, muito frio mesmo.

Ele voltou à estrada e continuou a caminhar errante por entre as fases daquela madrugada até virar a esquina e encontrar um fio de luar no céu.


Ele não fazia ideia para onde estava indo, mas havia acabado de decidir o que fazer...

30 de abril de 2016

Meu orgulho

Meu orgulho
Se
Desfaz
em
Saudade
e
Vontade de te ver

Meu orgulho
Miserável
Me torna escravo
Do que não posso ter

Meu orgulho
Tem calado
a vontade
de chamar sua atenção
quando passa e não dá pra reconhecer

Meu orgulho
Fez de mim o que sou
Um resto
Frangalho do que passou

Sou isso agora
Eu
Meu orgulho
e o que é possível se manter
Por fora

O que é uma pena
Viver de orgulho
e
amanhã não poder mais
quebrá-lo
porque vamos rápido demais
sem ter
tempo de falar
saudade.

24 de abril de 2016

Decisão

Hoje me livrei definitivamente de todos os meus demônios. Tudo aquilo que me atrasava o caminho. Hoje me livrei do que me livrava e do que me satisfazia com frequência. Hoje me livrei daquilo que me deixava desinibido e completamente valente. Hoje me livrei definitivamente de todos os meus demônios.

Hoje é o dia que me livrei, mas sem empolgação. Não há esperança exacerbada ou qualquer tipo de motivação para que isso tenha acontecido justo agora. Hoje eu simplesmente me livrei. 

As coisas são mais bem feitas quando planejadas e trabalhadas com maestria do que quando são apoiadas em planos mirabolantes e intenções das mais diversas. Ninguém faz nada com boas intenções. O inferno está cheio delas, não é isso que dizem os mais velhos?

Hoje me livrei daquilo que me acelerava e daquilo que me aquietava. Hoje me livrei de toda e qualquer coisa que viesse a amenizar ou tornar o caminho nebuloso, tudo que aquilo que aliviasse a realidade sob os nossos ombros.

Hoje me livrei definitivamente de todos os meus demônios, mas eles continuam por perto. Não é uma liberdade pautada em me esconder ou evitar certos encontros, é a liberdade de estar no controle de toda e qualquer coisa que eu não queira mais. Simplesmente não quero mais. Eu quero mais. Mais que isso.

Estamos constantemente presos ao que nos faz bem, escravos dos nossos prazeres e fortemente influenciados pelas boas sensações. Quero bons fluidos. Quero bons caminhos, de paz. 

Hoje me livrei da alegria exagerada e da empolgação desmedida. Hoje me livrei de tudo aquilo que me prejudicava. Hoje eu sou o mesmo com uma atitude diferente porque eu quis assim. Eu QUERO assim e nada mais se tornará pendência por pura incompetência ou procrastinação.

Hoje é o dia que constatei que me livrei, pois já há tempos venho me afastando de situações que não colaboram para o bem estar de minh'alma. Hoje sou, muito mais do que já fui, fã da lua, da noite e das estrelas. O silêncio é o meu grande amigo e maior aliado nos momentos de felicidade e tristeza. 

Hoje me livrei de tudo aquilo que não vale a pena e me farei melhor na companhia de todas as coisas que admiro e que me trarão boas recompensas, nada de grande complexidade, mas de valor imensurável.

Hoje me livrei de uma vez por todas de todos os meus demônios, principalmente de mim mesmo que costumo ser o maior e mais perigoso deles. 

Hoje, eu, definitvamente, me livrei.

Vela

O céu estava estrelado naquela noite, não havia indícios de chuva. Jorge havia ido acompanhar seu amigo até aquele lugar por saber que se tratava de algo mais complexo do que se imaginava. Os dois saíram do metrô por volta das 20h. Jorge carregava sua mochila nas costas e um olhar de curiosidade e receio. 

Eles passaram por fora de um belo edifício no centro da cidade, bem iluminado e bem frequentado. Logo ali ao lado havia uma área verde perdida no meio da cidade rodeada de pistas e viadutos onde os motoristas passavam todos os dias, mas dificilmente alguém reparava.

Os dois desciam por um estrada de terra entre a mata quase virgem e o orvalho caia sob suas cabeças. O silêncio era pleno, embora tudo aquilo estivesse rodeado de cidade. 
Mais abaixo Jorge conseguiu avistar um casebre de madeira pintada de branco e uma tímida varanda.

Foram recebidos por um rapaz jovem, bem magro, alto, de pele parda e sorriso fácil. Sem se identificar ele os tratou como esperados convidados e os convidou a entrar.

Chegando na sala, havia um sofá velho e algumas cadeiras ocupadas por vários garotos, com aquele mesmo olhar de apreensão. Pareciam estar esperando alguma coisa. 
Seu amigo deu a volta por trás da casa e sumiu.

Jorge continuou ali, conversou um pouco com os rapazes, todos jovens, não passavam de vinte e poucos anos. Em seguido chegou uma mulher de meia idade que não aparentava se preocupar muito com a vaidade. De cabelos loiros e encaracolados como de um anjo, ela usava roupas velhas e chinelo. Ao cumprimentar Jorge disse que ele seria recebido como convidado aquela noite e que alguém gostaria de conversar com ele.

Algum tempo passou e mandaram chamá-lo: ele foi levado até uma sala completamente sombria, iluminada apenas com algumas velas e poucos móveis. Ao fundo havia uma senhora, aquela mesma que o encontrara mais cedo, mas ela estava diferente. Não obstante a pouca idade, falava como um velho senhor.

- Boa noite, meu filho.
- Boa noite. 
- Qual é o seu problema?
- Não sei. Alguns.
- Seja mais específico, para que eu possa te ajudar.
- Na verdade, ultimamente tenho estado no epicentro de algumas situações estranhas.
- Por exemplo?
- Confusões, perseguições... Sinto que atraio essas coisas.
- Hm. Fale mais a respeito...
- Eu não crio problemas com ninguém, mas estou sempre envolvido em alguma coisa.
- Quer dizer que as pessoas chegam até você através de problemas?
- Isso. Ninguém me procura pra saber se estou vivo, mas sou a primeira opção quando necessitam. Por vezes, pessoas nem tão próximas assim. 
- Meu filho, você é vela. Sabe o que isso significa?
- Não.

Então a mulher apontou para uma vela que havia perto dos dois, colocou a palma da mão em cima da chama por longos segundos e disse:

- Coloque sua mão perto do fogo até não aguentar mais.

Hesitando um pouco, o garoto colocou a mão e a sentiu arder, logo afastou. Então a mulher indagou:

- Sentiu?
- Sim. Minha mão quase queima.

- É. Dificilmente alguém brinca com a chama de uma vela. Ela é forte, atrai os olhares e as pessoas, principalmente as que necessitam de luz. Mas a chama é forte e não deixa que ninguém se aproxime tanto assim, pode queimar.

O garoto continuava sem entender a metáfora. A mulher continuou:

- Você é uma vela, rapaz. Você será uma das primeiras pessoas que irão procurar quando precisarem de ajuda. Você certamente ajudará e se apagará até a próxima vez que alguém precisar e enxergar a luz em você. Pessoas assim são responsáveis por colocar as coisas em ordem, por harmonizar os conflitos. Mas é preciso tomar um cuidado.
- Qual?
- Se não souber distribuir bem a luz, irá se esvair em si mesma. Como uma vela faz, até acabar.

23 de abril de 2016

Despedida

Essa noite eu tive um sonho. Um sonho esquisito. Sonhei que ia embora e ninguém se perturbava com isso. Sonhei que ia embora e ninguém se importava comigo.

Essa noite eu tive um sonho e nele me propunham ir embora de todo esse passado e deixar todas as coisas pra trás. Sonhei que ia embora e pegava a estrada, sem ter certeza pra onde e sem solidez de nada.

Essa noite eu tive um sonho e nesse sonho eu chegava em algum lugar, depois de ir embora eu estava completamente sozinho, mas me sentia muito bem. Nesse sonho eu chegava em um lugar alto e conseguia ver o mar enquanto o sol refletia nas ondas os raios mais intensos.

Essa noite eu tive um sonho e enquanto eu sonhava não me sentia incomodado, sequer com medo. Era sensação de ter aproveitado bem as oportunidades e as belas lições que a vida colocou. Nesse sonho eu ia embora, sem malas, com a roupa do corpo, mas carregava uma bagagem cheia de história. 

Essa noite, quando sonhei e me situei que não estava mais por aqui eu fiz uma relação, no próprio sonho, das coisas e pessoas que me fariam mais diferença de longe e de perto.

Essa noite eu tive um sonho e diante de toda aquela confusão de histórias que vivemos sem contexto eu acordei com a plena certeza de que estou no caminho certo.

Essa noite eu tive um sonho que não era verdade, mas me fez refletir sobre as coisas, os caminhos, companhias e a realidade. 

Essa noite eu tive um sonho...

17 de abril de 2016

Saudoso

Não há como explicar a falta que faz não existir mais nada. É o resto de uma memória vaga, mas deveras presente. Como se fosse o resultado de uma equação minuciosamente elaborada que necessita de uma teoria para ser entendida.

É o que sobrou de uma existência que já foi convicção e agora não passa de uma dúvida, uma experiência de mal gosto. Apesar de não haver mais dor em si, há vazio, um gigantesco vazio.

Disseram que o senhor veio nos visitar, mas não pude ver. Me disseram que queria me dizer algo, mas não entendi. Me disseram que estava por perto, mas meus olhos em descalabro não foram capaz de enxergar.

Cá estamos em um caos silencioso, entre balas que não podemos escutar quaisquer ruídos, embora tenhamos a completa capacidade de enxergar sua direção e as trajetórias que tomam.

De certa maneira, um homem brilhante e gigantesco, por outro lado um menino perdido entre as próprias convicções.

Disseram que o senhor esteve por aqui e veio nos visitar, mas não pude ver. Me disseram que queria dizer algo a mim, mas sequer consegui entender. Apesar de estar por perto, mas meu raso olhar não foi capaz de enxergar.

Sinto sua falta. Que a falta que sinto seja combustível para me tornar o que te orgulharia, meu velho.

14 de abril de 2016

Poema sem tema

Isolado por inteiro
Sem distração
Senhor de mim mesmo
Meu futuro nas mãos
Sem passatempos baratos
Sem alienação
Dono da minha vida
Cada instante tem razão
E aí eu me pergunto:
Se é tão bom assim
por que não?
Venha, mas não peça uma explicação
Foge de qualquer critério dessa tua tenra visão
Ser sozinho é um grito interno
Que alivia o coração
Ora, veja
Noite de estranha impressão
Hoje é como se estivesse
Visitando onde estarei
De um jeito torto a um passo
do universo que planejei
É como se faltasse o fôlego para chegar
Mas perceber que já alcancei
Ser dono de si mesmo
Torna legítimo tudo que doei
Faz suave o peso de ter a condução do próprio destino
E é melhor do que pensei

11 de abril de 2016

Eutanásia

Calmo, sereno, frio, sentado sob o cadáver de uma personalidade que não existe mais. Galgado pelos degraus da experiência e sofrimento percebe que não há mais nada a dominar, se não a própria mente.

Em trânsito, pequeno, se convence da astúcia da malícia intrínseca às ações, tentando sempre se esvair em multidões de outros seres iguais que tentam ser um pouco assim, diferentes.

É, parece que mudou e não apenas para si, pois aquele si mesmo se acabou e morreu um pouco a cada dia e a cada nota que se tocou, assassinaram a inocência.

Calmo, frio e sereno, melhor tomar cuidado e não engolir o próprio veneno, pois daqueles sem experiência em manipular emanam os piores acidentes.

Um perfume, um perfume tão bom que a mente não deixa esquecer e acaba surgindo no meio da brisa quando em volta só há concreto, em meios aos prédios, caminhando sozinho e não que como dizer que alguém carregava o mesmo aroma porque não havia absolutamente ninguém por ali.

Veja só, de toda essa miscelânea brotou tamanha certeza conformada em uma cega convicção carregada por anos nos ombros sem qualquer reclamação. Era o destino e o caos de todo o seu abrigo, pois conseguia descer e subir daquele morro quantas vezes fosse preciso e jamais esquecera o caminho de volta.

Os olhos viram e perceberam a presença do demônio da fraqueza em que o brilho dos olhos agora era algo turvo e baixo, diante de um sorriso clássico e sarcástico. A mente se perdeu de tanta exposição enquanto o corpo se rebatia na terra pelo tamanho desespero. De quem já havia assistido coisa igual era um pouco de desprezo e dos outros, novatos, desespero.

Tapa na cara e uma luta ferrenha entre a sanidade e loucura tentando trazer de volta um espírito perdido sem ter total discernimento de onde poderia parar. Para o coração, morre em solidão, escondido no mato de uma cachoeira, ali era tão baixo e ninguém percebeu.

Agora se foi ao perceber que afastou e já não há mais proximidade ou segurança e sequer querer de passar por cuidados de outra coisa que não valha a pena escolher. Estar perto. Estar por perto é privilégio de quem tem bem querer, pra valer, fazer o que seja o que for de acontecer.

Pra que entender? Entender: Pra quê. Se vendo o caminho há uma curva e depois encruzilhadas onde o destino dita as regras, mas não impede ninguém de escolher. É isso e só. E isso só. Só.

São lindas as palavras e até tocam, fazem necessária uma reflexão do que é e do que realmente importa, mas não será assim tão certeiro, pois apesar de bonito sobre aquilo que foi pensado tanta coisa bonita já não pode mais haver. Assassinaram a inocência de se submeter.

Há fumaça demais e foi preciso descer ali tão baixo para encontrar e o que havia sido passado era nada mais que um passado de caminhos infectados por escolhas egoístas e burras. Era assim, fumaça sem fogo, depois de tanto tempo.


Calmo, sereno, frio, sentado sob o cadáver de uma personalidade que não existe mais. Galgado pelos degraus da experiência e sofrimento percebe que não há mais nada a dominar, se não a própria mente. Assassinaram a inocência.

10 de abril de 2016

Dialogando - Parte II

- Como assim, cara? Você ousa dizer que estou cego com tanta propriedade baseado no fato de que não vejo como você? Que legitimidade há nisso? Indagou veementemente Luca.

Enquanto a noite ficava cada vez mais profunda, tudo que aqueles homens tinham era a luz daquela velha lâmpada amarela ao lado da escada.

Júlio já estava com a mente cansada de discutir e simultaneamente sentia as avarias de seus contínuos excessos refletirem na maltrapilha estrutura de seu corpo.

- Não sei dizer, mas me parece que seus objetivos são deveras efêmeros. O fato é que não tenho me sentido bem há tempos, cambaleio meu próprio corpo o tempo inteiro pra lá e pra cá procurando um rumo sem ao menos cuidar de mim.

- Entendo o que você tem a dizer, apesar de não concordar muitas das vezes. Mas também me sinto assim. Não tenho cuidado nem de mim, imagina do resto do mundo?

Os dois sorriram e ficaram mais algum tempo em silêncio enquanto ponderavam seus descabidos desabafos. Não era uma conversa atípica entre os dois, não obstante não fosse um dia tão comum de acontecer, ambos não esperavam mergulhar naquilo tão profundamente.

- Sabe, eu realmente estou cansado. Sinto meu corpo desgastado. Bebo coisas que não matam minha sede, como coisas que não me alimentam e trato com pessoas que não me acrescentam. Acho que preciso ficar sozinho.

- Mas nessa realidade que vivemos isso é quase impossível. Você sabe, né?

- Sei.

- E o que pensa em fazer a respeito? Largar tudo e correr de volta para o campo, criar galinhas? Haha

- Largar o quê? Não tenho nada. Não temos nada. Você só pode estar de brincadeira.

- Claro que estou. Isso é tudo que me desafoga. Imagina se fosse para levar tudo isso tão a sério quanto você? Certeza que já estaria doente.

- Como assim?

- Guardar as coisas consigo e ficar remoendo por meses, anos, só faz mal.  Será que você não percebe que essa reclamação toda gera apenas energia negativa.

- Claro que percebo, mas não quero fazer nada a respeito. Quero reclamar!

- O que pretende com isso?

- Me aliviar.

Tudo se tornou um mero deslize das palavras, indagações foram dando o rumo dos pensamentos daqueles dois enquanto tentavam chegar a uma conclusão decente. Mas não era possível, pois quanto mais pensavam a respeito das coisas, mais eles se perdiam naqueles devaneios loucos.

- E agora, amigo, o que será de nós?

- Está perguntando isso para mim mesmo?

- Para ter ideia do nível de complexidade das coisas. Aliás, pra quem mais eu perguntaria?

- Sei lá, talvez um oráculo.

- E receber uma bela resposta com todo o rumo do meu destino? Até que seria uma boa. A menos que fosse daqueles oráculos que nos dizem as coisas por meio de um enigma, se for assim não quero. Já me bastam o meu próprio.

- Destino?

- Não. Meu próprio enigma.

30 de março de 2016

Em queda livre

Subimos demais as montanhas da soberba e ao chegar lá no pico, veja só, percebemos que as coisas não são mais as mesmas. Não éramos tão bons quanto imaginávamos e tudo aquilo tido por experiência era, na verdade, confiança exagerada.

Seja como for chegamos alto demais e agora não tem mais o quê ou quem opine, sem ter pra onde subir a consequência provável é descer em queda livre.

Exagerada com o tanto que se agarrava em meio às redomas de verdades absolutas que conquistava, derrubando um a um qualquer adversário que se amoldava. Mas, não era bem assim, bem que a gente desconfiava de que estar tudo certo demais é um problema de não estar a enxergar todos os fatores à volta e pensar que é quase um tudo, um tudo quase que nada.

Desconfiava e pensava já ter atingido um topo, mas quem acredita ter chegado lá antes da metade do caminho, confesso, acaba de peca, porque voar tão alto assim na velocidade da luz e com gosto de gás restringe o caminho a apenas um, e ele é a queda.

Mas, não seja assim tão duro, meu amigo, vai, releva.

Entender que o próprio mérito é mais resolvido do que alguém que agora se integra, talvez não seja bem assim, meu caro, pode ter faltado entrega. Calma cara, larga de ser agoniado, sossega!

Veio quem nem havia dado indícios de que estaria por aqui, toma conta e leva qualquer esperança que poderia ter ensaiado existir e todo o trabalho ficou desmotivado, sem tesão, pra quê insistir?

Já que o grande erro de todo mundo é acreditar que o próprio olhar é parâmetro para definir e até entender o que o outro vai enxergar. Sei lá, não é bem assim que acontece, cada um vê de uma forma e difere muito o que realmente é do que parece.

No final das contas chegamos alto demais e agora não tem mais o quê ou quem opine, sem ter pra onde subir a consequência provável é descer em queda livre.



14 de março de 2016

Vem

Vem, nos traga em um olhar. Olha e silencie esse lugar, faça como se ninguém pudesse ver ou nos encontrar. Vem, discreta presença tão forte, encosta o pescoço e me deseje sorte. 

Vem e se entrega em um minuto, faz do dia o mais profundo que puder de intensidade. Troque as palavras e opiniões a cada segundo, confunda a sanidade e a verdade.

Vem que eu espero que se toque que não quer nada além do meu toque e daqui não vou mudar. Espero que não se importe ou... Sei lá, que seja questão de sorte ou o que quer que venha a ser, sei que do pouco que sei não vale a pena deixar se perder.

Então o tempo passou, há tanto tempo se foi que já não é possível reconhecer. A memória se perdeu junto com seu telefone e o endereço da sua casa. Dava até pra lembrar o rumo, mas já não reconheço a vizinhança. Veja só, que loucura, ainda consigo fechar os olhos e lembrar daquele olhar de criança.

Vem e me prova que a falta de paciência era radical. Mostra como não saber esperar era mal. Diga que as coisas tinham que acontecer como aconteceram, nada além do normal.

Tudo que imaginei aconteceu, ocorreu e você correu e se esvaiu entre meus dedos. Pude sentir quando escorreu, mas não posso me lamentar por erro meu ao abrir as mãos e deixar o vento te levar

Ah! Às vezes tão cansado de caminhar, os olhos ardem e não é possível enxergar nada que seja previsível, além daquele olhar. 

Vem, nos traga em um olhar. Olha e silencie esse lugar, faça como se ninguém pudesse ver ou nos encontrar. Vem, discreta presença tão forte, encosta o pescoço e me deseje sorte. 

Vem e se entrega em um minuto, faz do dia o mais profundo que puder de intensidade. Troque as palavras e opiniões a cada segundo, confunda a sanidade e a verdade.



8 de março de 2016

Dialogando

Era uma sala vazia e escura. Apenas uma velha lâmpada incandescente iluminava os velhos móveis de madeira desgastados pelo tempo.
Júlio César estava sentado na escrivaninha ao canto da sala que ficava no subsolo da casa, ao lado das escadas.
No outro lado, mais ao centro da sala, Luca seguia de pé olhando para a parede e com as mão para trás.
Já era tarde e aquele silêncio de madrugada tomava conta de tudo, em dias de semana as pessoas costumam se deitar mais cedo e as cidades se tornam praticamente fantasmas.
Na parte superior da parede quase na altura do teto havia uma pequena janela de onde podiam enxergar a lua cheia que vazia luz naquela noite escura e fria.
Júlio esvaziara três copos de whisky olhando para aquelas folhas em branco, mas sua angústia não o permitia rabiscá-la. Molhava a pena minuto à minuto como se alguma inspiração fosse surgir dali e encostava no papel amarelado, sob àquela luz fraca e falha.
Do outro lado, Júlio César desabafou quebrando o silêncio:
- Luca, minhas mãos estão trêmulas e fracas. Já não consigo escrever. As ideias vêm e se perdem, já não lembro.
- Por quê meus olhos doem? Perguntou.
- Porque você nunca os usou. Respondeu Luca enquanto continuava de costas olhado a fresta e o pouco de céu que havia naquela noite e pensava em tudo que havia passado até ali.
Se voltando àquele homem e ao perceber seu semblante completamente perdido, indagou-lhe:
- O que você escreve?
- Sentimentos.
- Como é possível?
- Não é.
- Todas as vezes que tentei falar sobre isso meu coração apertou tanto que chegou a doer. O que será que acontece? Perguntou confuso.
- Porque você o sufoca.
- Talvez. Tenho uma dúvida grande.
- Qual seria?
- Quem está errado, afinal: Os que escolhem uma direção que já existe no mapa ou os que insistem em criar o seu próprio caminho?
- Depende. Qual foi a sua escolha?
 - Acho que não escolhi.
Eles ficaram ali por alguns minutos, calados, sentindo o peso do tempo em seus ombros.  Ambos tinham uma boa vida. Haviam estudado, viajado por aí e curtido. Não obstante ainda tão jovens, se sentiam velhos homens ou pelo menos acreditavam nisso.
Angustiado com as palavras que havia ouvido, Luca disparou:
 - O que diabos você quer de mim, afinal?
- Ideias.
- Conselhos?
- Não.
- Então não entendo.
- Veja bem, eu preciso que alguém me ouça e não use isso contra mim amanhã.
- Hum. Você acha que eu faria isso?
- Todos fazem.
- Por isso você se cala?
- Digo que sim.
- Só diz?
- Claro.
- E qual é o verdadeiro motivo?
- Desconheço. Será que você não entendeu que estou perdido?
- Entendo que você está. Seus olhos são puro desespero, mas não compreendo o que é, verdadeiramente, estar perdido.
- Ah! E você, o que quer?
- Como assim?
- O que fará da sua vida?
- Ué! Trabalhar, comprar uma casa, carro, essas coisas que todo mundo faz. Não é isso que deve ser feito?
- É sério isso?
- Por que não seria?
 - É, amigo. Você não sabe realmente o que é estar perdido.
- Por quê?
- Porque está cego.

5 de março de 2016

Toque

Me diz, se um toque não faz diferença? 

Há muito tempo já era fácil ver que tudo ali estremecia, mesmo que soubesse que jamais admitiria.

O tempo que passa demonstra coisas que dois ou três giros do mundo fazem questão de deixar claro.

Que não se vá. Que não diga que não há porque o silêncio brada naquela expressão de calmaria e satisfação. 

Me diga ainda sim que um toque não faz diferença. 

É bom guardar consigo a lembrança de uma certeza. Era bom estar contigo naquele tempo e que ninguém veja.

Ninguém nunca viu e nem precisa saber. Ninguém percebeu. Ninguém diria qualquer coisa a respeito.

Engraçado estar aqui diante de todas as voltas e voltas vendo um filme, um bom filme repetido.

Que os dias nos tragam mais surpresas boas e lições valiosas. 

Que isso não passe, sem apego, mas diga que um toque não faz diferença?

28 de fevereiro de 2016

Solitária conduta

Certezas caíram por terra, junto com as convicções. Valores de um tempo ou outro que vieram tropeçando no tempo e caindo junto com as ambições.
Tanta gente que se foi, foi embora e nem fez falta. As poucas faltas que fizeram já não fazem diferença, já passou, já passaram.
O tamanho da insignificância se dilui em vícios e outras manias sem fim, com uma rotina perdida, desorganizada , sem pudor algum ou sei lá, algo assim.
Somos únicos a tão irrelevantes, tentando dar um sentido ao efêmero, enquanto seguimos desviando de consequências, escolhas, saudades.
Estamos aqui, cheios de marcas, cheios de mágoas e inundados de coisa alguma. Não interessa o sentido porque o sentir se esvai.
Certezas caíram por terra, junto com as convicções. Valores de um tempo ou outro que vieram tropeçando no tempo e caindo junto com as ambições.
A gente quer ter alguém por perto, de perto, um alento. Sem isso nos damos conta de que já não há, pois os rumos diferentes se encarregam de mudar, e mudar, e mudar.
A estrada tem caminho demais e rumos a mais. Os caminhos sem estradas escondidos em trilhas mal cortadas. Era o mundo, mas a bolha estourou. Na mesma hipocrisias seguimos condenando uns aos outros pelos mesmos pecados que cometemos seguidos dos outros.

22 de fevereiro de 2016

Efêmera opinião

O que foi dito ontem já não se aplica. Não faz sentido. Ninguém mais acredita.

O tempo não cura nada e nunca parou para esperar alguém se recompor. O tempo cobra, todas as palavras e omissões. Ah, cobra! Às vezes com um pouco de dor. Limitações que não servem por agora, quem foi que notou?

De longe, mas tão perto. Não quero, presente, mas quero, silente e sem esconder o que for.

Medo da luz, de algo tão bom. Luz que conduz, covardia, fuga, quem mandou?

Preferir o estável, sentado no vazio do acaso de qualquer um. Onde entram e saem, palavras se esvaem com o tempo que se esgotou.

Não é coisa assim, tão grave ou o fim. É consciência de não querer, procrastinar, mas ceder, sozinho, quando ninguém mais puder ver.

Aparências são o que são, reinam sob o ser. O que importa é o que dizem, mas as escolhas de verdade não têm nada a ver.

O tempo não para e isso tudo é evolução, hoje é sim, depois não. Feche os olhos pra não se entregar. Quando a raiva for em vão, esconda o sorriso e deixe qualquer um sem opção.

A história se repete e terminou mais ou menos assim, quer dizer, não terminou porque algumas coisas não foram feitas pra ter fim.

18 de fevereiro de 2016

Um sonho de liberdade

Ser livre. Estar em busca daquilo que se admira, uma incessante busca pelo ser ideal. Ser livre, poder ter a opção de escolha, de qualquer escolha e estar disposto a pagar o preço por isso, até de se dar bem mal.

Ser livre é uma sensação incrível, como se não houvesse dívidas, memórias ou obrigações. Algo como estar além de quaisquer contradições.

Ser livre, diante de um mundo que lhe oferece vários caminhos e poder seguir pela estrada que lhe convier, com ou sem companhia; se bem que a solidão potencializa o poder dessa tal liberdade.

Ser livre, o homem já lutou guerras e fez manobras perigosas para ter isso em mãos. Ser livre para poder dizem sim ou não. Pensar com a mente, espírito, corpo ou coração. Ser livre, livre, poder dizer sim ou não.

Ser livre, sem arrependimentos que o prendam, sem obrigações que o limitem, ser livre além do tempo. Ser livre com o vento. Ser liberto de si mesmo.

Ser livre. Estar em busca daquilo que se admira, uma incessante busca por estar como se deveria ser, logo. Ser livre, poder ter a opção de escolha, de qualquer escolha e estar disposto a pagar o preço por isso, até de se dar bem mal.

Ser livre e muito mais que isso, ter as consequências que a si próprio causou. Liberdade não exclui responsabilidade, mas manda pra longe qualquer tipo de vaidade. Que se vá. Seja lá como for.

Ser livre e poder escolher absolutamente qualquer coisa de si, ser seu próprio deus, como uma brincadeira de gente grande. Poder escolher entre um livro e a cocaína e fazer de si seu próprio êxtase.

Ser livre, completamente disposto a um café ou um cochilo. Reclamar ou trabalhar. Esbravejar em silêncio ou simplesmente se deixar levar, ser livre. Completamente livre.