31 de maio de 2016

Falta

Que falta que o senhor me faz
O senhor que me disse tanto lá 
Naqueles tempo atrás 
Que falta que o senhor me faz 
De lágrima em lágrima me arrasto 
Constante, distante cada vez mais 
Que falta que o senhor me me faz 
Ao redor da mesa onde o almoço virava jantar eu ouvia 
Mas nunca soube o que falar
E de menino calado 
Me tornei homem com tanto pra dizer 
Mas o que tenho a ser dito não pode chegar até você 
Que falta que o senhor me faz
Teus gritos graves na minha falta de atenção 
Me tornaram atento até demais, por vezes sem razão 
Até depois de tanto tempo
Que falta que o senhor me faz 
Dizem que sofrer por antecipação é coisa que não se deve fazer
Mas 
confesso que sofro antecipadamente por cada ano que terei que aguentar e ser capaz 
Ao passo que fico distante decaio em vazio, cada vez mais 
E acordo todo dia pensando na falta que o senhor me faz 
Da música cantarolada acapela aos livros que pude ouvir falar 
É legado que me comove e não me deixará jamais
Das lições de vida filosofada sem conselhos intermináveis 
Mas, fazer o que se eu não tinha maturidade para aproveitar tua existência como gostaria 
E hoje, ainda sim não aprendi a lidar e 
às vezes 
duvido de que um dia 
devolvam minha paz 
Que falta que o senhor me faz.

30 de maio de 2016

Poetasto


Um renascer em quem se fez caminho.
Por entender o melhor lado sozinho.
O tempo age como uma boa safra em vinho, 
que vindo já cresce e traz um estranho ao ninho.
Pois não há heróis quaisquer 
Já que nem a morte apagaria uma crueldade sequer
Tanto faz o infortúnio que vier
Da euforia ao fracasso,
é apenas um pé 
Deixe aqui um pedaço de si
Mas devolva o que levou sem se permitir 
Ou se perca no canto do coração incólume 
Faça escárnio e um disparate 
Ora, mas que descalabro.


23 de maio de 2016

A guarda aguarda.

Já era assim, ansioso até o fim. Era assim, perdido nas possibilidades, principalmente nas que dão errado. Era assim, levado pela consideração de todas as possibilidades medianas as quais poderia estar sujeito. Era assim.

Não era tão assim ao perceber que não era proveitoso. Não havia por quê ser assim por não ser prático, por não ser tácito, por não ser nada fantástico.

Pensar em alguma noção de como seria vantajoso manter-se pensante na linha de teoria sem prática, sem ter a menor noção de como seria ao fazer, pois a prática é a sabedoria do mundo em consequências.

Já era assim, ansioso até o fim. Era assim, perdido nas possibilidades, principalmente nas que dão errado. Era assim, levado pela consideração de todas as possibilidades medianas as quais poderia estar sujeito. Era assim.

Era o futuro construído em um espaço desconhecido sob o eco das declarações reveladas em duas ou três oportunidades que, apesar do filme repetido teriam sido suprimidas em um passado distante e voltaram às telas de uma nova velha história.

Não deixar que fosse assim porque o deslinde dessa história já era mais que conhecida. Oras, muito melhor morrer falante e com as palavras gravadas no coração do que de desfalecer em silêncio de um abismo de coisas a serem ditas.

Parcimônia e paciência são as armas em uma guerra de receios, que observam de soslaio a redoma que se forma em volta do medo de ser pleno e de ter dentro. Calma que o tempo é rei, calma que as coisas sempre irão se ajeitar, apenas é preciso respirar.

Respira um pouco e sente aqui, espera um pouco e sente aqui, é só questão de tempo até tudo ruir e passar a ser nada além de um momento a se ignorar.

É um tempo a ser valorizado como poucos, são reles ninhadas perdidas sem qualquer rumo a se seguir...

Apenas um pouco de paciência, se acalma, respire e sente aqui porque a vida nada mais é do que o eterno equilíbrio entre as consequências a foram dadas causas.

19 de maio de 2016

150

Ele caminhava em sua própria companhia pelas ruas desertas pela madrugada. O silêncio perturbador tornava possível ouvir a queda de uma folha seca ao chão. Fazia frio, muito frio.

Nada de carro ou amigos por hoje. Nada de mensagens ou abrigos por hoje e fazia tanto frio.

Enquanto caminhava afrouxava sua gravata e desabotoava o primeiro botão da camisa para sentir um pouco de alivio. Fazia frio, muito frio mesmo.

Aos pensamentos se misturavam lembranças e angústias mal resolvidas. Naquele misto de sentimentos ele se perguntava e tentava encontrar o problema, pois já estava convencido de que havia alguma coisa errada e isso vinha dali mesmo, de onde estava.

Já não raciocinava direito quando encontrou um barraco abandonado. Parou e se abrigou ali, pois fazia frio, muito frio. Era uma estrutura frágil e de madeira velha, mas que protegia um pouco dos fortes ventos daquela noite gelada. Ao lado um espelho que apesar de sujo estava inteiro sob uma caixa velha de madeira.

Ele não sabia muito bem o que fazer, sentia-se cansado. Deu um passo ao lado e entrou na rota do reflexo, podia ver o seu corpo vestido de uma roupa gasta de um dia inteiro de trabalho. Foi se aproximando do espelho até poder enxergar seu rosto, e no sujeito do reflexo conseguiu enxergar seu olhar.

Confuso, não parecia estar sozinho. Era estranha a sensação. Nada se falava. Nada se via. O que se sentia não era possível classificar, entender então nem se fala. Nada se tinha e pra onde, será pra onde que caminhava?

Ele pegou nas mãos o espelho sem moldura e conseguiu colocar em cima de duas outras caixas mais altas para que pudesse encarar aquele reflexo de pé. Foi se aproximando até enxergar no fundo dos seus próprios olhos, mas parecia que olhava outra pessoa.

Ele não conseguia reconhecer quem estava do outro lado do espelho. Com a ponta do nariz praticamente encostada ao reflexo percebeu que não fazia ideia de quem estava do outro lado. Aonde você ainda se reconhece?

Ele desejava um copo de whisky, mas além de tudo tinha que lidar com a droga de sua sobriedade. Era cada vez mais duro ver a hora passando, as pessoas de costas indo embora e ter que assistir, porque assim deveria ser.

Um ponto em si mesmo. Um louco que organizava seus próprios desatinos. Um líder dos progressos da sua própria instabilidade. Um exemplo do que não se conhecia. Um vazio que nada preenchia.
Que diferença faz? Perguntava-se.

Não era possível entender. Seja qual for o caminho, nessa estrada ele precisava seguir e continuar...
Depois de tanto tempo olhando para aquele reflexo de si mesmo, não reconheceu ninguém. Sequer o menino que fora um dia. Sentiu vontade de chorar, o coração dava pontadas de aperto e a voz que há muito não se ouvia já dava sinais de embargar. Sentiu vontade e queria chorar, mas estava seco, não conseguiu.  E fazia frio, muito frio dentro e fora daquele lugar.

Ele ficou ali por cerca de meia hora e saiu sem qualquer resposta, carregava sob os ombros apenas os fatos e frangalhos de algumas lembranças. Ele era a soma daquilo tudo caminhando entre pernas que bambeavam em uma cabeça que considerava tudo e sequer poderia se entorpecer.

Havia várias possibilidades, mas ele não queria mais lutar. Ele queria apenas seguir o curso do seu caminho e descobrir aonde tudo aquilo iria dar... Já não podia gritar, já não podia chorar e fazia frio, muito frio mesmo.

Ele voltou à estrada e continuou a caminhar errante por entre as fases daquela madrugada até virar a esquina e encontrar um fio de luar no céu.


Ele não fazia ideia para onde estava indo, mas havia acabado de decidir o que fazer...