30 de julho de 2014

Sei lá

Um não querer travestido de falta de tempo. A oportunidade ausente, presente no medo das cenas tão desgastantes. Não quero ver.

Usar da circunstância para evitar estar em outro lugar que não se deseja estar, passando levemente pela mentira, talvez para relevar um peso enormes nas costas.

Acostumar-se com sentir, com perder, com a angústia de viver momentos desagradáveis, desfavoráveis. Na força que guia as ações encontram-se as reações, que dizem, são o que realmente somos. 

Saber que vai, sentir que vá, querer sumir em um vão qualquer. Tragam a escuridão que habitava os momentos mais pesados para podermos nos guardar lá dentro, até a hora de sair e enfrentar o mundo. Faça o refúgio de uma paz sem escrúpulos, de uma bondade sem precedentes, de uma verdade fascinante, refugie-se em mim.

Não posso ser salvo, coloque todo o peso em mim e vá embora antes que seja tarde. Deixe-me acompanhado de solidão como sempre foi, é uma escolha complexa estar aqui. 

Ora, veja só, as palavras que sempre são colocadas na hora certa não têm chegado nem perto de traduzir, de refugiar esses sentimentos avessos que dão um nó no peito. Quem sabe não seja a hora de calar, o silêncio nunca erra.

É um não querer travestido de falta de oportunidade, presente no medo das cenas tão desgastantes. Não, não quero que vá. Não vá.

O amargo gosto de acordar com mais um dia de apreensão pela frente traz o sabor o iminente desafio, daqui pra frente. usar da circunstância para evitar estar em outro lugar que não se deseja estar. Acostume-se com sentir, não, não há como evitar.

Faça de mim sua morada e esteja sempre por perto, na verdade é tudo o que salva... É tudo que acaba em si mesmo. Quando estou aqui, por mais dilacerador que pareça, meu egoísmo não me faz querer mais nada. Tudo é um mero detalhe.

29 de julho de 2014

A Cura

Tire-me desse lugar. Não quero mais ficar aqui, saber onde começa e como termina cada andar. Quero sair daqui, desse lugar. O clima frio, olhos baixos e o corpo cansado, me tirem daqui.

Todos os semblantes perdidos esperando a cura, acreditando no milagre das coisas mais simples. Que loucura! Abrir os olhos é uma aventura um tanto quanto comemorada. Lá se foi  toda a força, todo o poder, autonomia. Não somos mais os mesmos.

Procuram alguma coisa para olhar e esquecer o que têm entendido, constantemente. Os sorrisos trancados, os abraços travados, um segurando o outro, mas todos beirando desmoronar.

O que somos nós? O que seremos de nós?

Resistir é a maior lição. Resolver as próprias mazelas por si só, dentro de si e só. Os dias passam e se arrastam, envelhecemos anos em semanas. Apegamos-nos enquanto tentamos fazer dar certo, enquanto queremos ser alguma coisa que seja útil, que seja... Alguma coisa.

Sua cama vazia. Não o reconheço mais em seu próprio rosto. Sua feição é incomum a mim, comum ao mundo. Onde estão as palavras que sempre disseram tanto? O legado está aí ao mesmo tempo em que outras coisas estão indo embora. Não sei se sinto mais por quem se vai ou por quem fica.

Todos os rostos cansados em busca da cura, é nessas horas que vemos o quanto tudo que acreditam não serve pra nada. Somos o que podemos ser. Somos o que devemos ser. Somos o que precisamos ser. Somos o que somos em nós mesmos, por mais que busquemos em outras coisas, nada faz sentido além de nós.

Olhos fechados, sorrisos rasos se encontram. Olhares quase falam. Pedimos ajuda, pedimos calmaria. Quanto peso nessas costas, quanta paz que eu queria.