30 de julho de 2014

Sei lá

Um não querer travestido de falta de tempo. A oportunidade ausente, presente no medo das cenas tão desgastantes. Não quero ver.

Usar da circunstância para evitar estar em outro lugar que não se deseja estar, passando levemente pela mentira, talvez para relevar um peso enormes nas costas.

Acostumar-se com sentir, com perder, com a angústia de viver momentos desagradáveis, desfavoráveis. Na força que guia as ações encontram-se as reações, que dizem, são o que realmente somos. 

Saber que vai, sentir que vá, querer sumir em um vão qualquer. Tragam a escuridão que habitava os momentos mais pesados para podermos nos guardar lá dentro, até a hora de sair e enfrentar o mundo. Faça o refúgio de uma paz sem escrúpulos, de uma bondade sem precedentes, de uma verdade fascinante, refugie-se em mim.

Não posso ser salvo, coloque todo o peso em mim e vá embora antes que seja tarde. Deixe-me acompanhado de solidão como sempre foi, é uma escolha complexa estar aqui. 

Ora, veja só, as palavras que sempre são colocadas na hora certa não têm chegado nem perto de traduzir, de refugiar esses sentimentos avessos que dão um nó no peito. Quem sabe não seja a hora de calar, o silêncio nunca erra.

É um não querer travestido de falta de oportunidade, presente no medo das cenas tão desgastantes. Não, não quero que vá. Não vá.

O amargo gosto de acordar com mais um dia de apreensão pela frente traz o sabor o iminente desafio, daqui pra frente. usar da circunstância para evitar estar em outro lugar que não se deseja estar. Acostume-se com sentir, não, não há como evitar.

Faça de mim sua morada e esteja sempre por perto, na verdade é tudo o que salva... É tudo que acaba em si mesmo. Quando estou aqui, por mais dilacerador que pareça, meu egoísmo não me faz querer mais nada. Tudo é um mero detalhe.

29 de julho de 2014

A Cura

Tire-me desse lugar. Não quero mais ficar aqui, saber onde começa e como termina cada andar. Quero sair daqui, desse lugar. O clima frio, olhos baixos e o corpo cansado, me tirem daqui.

Todos os semblantes perdidos esperando a cura, acreditando no milagre das coisas mais simples. Que loucura! Abrir os olhos é uma aventura um tanto quanto comemorada. Lá se foi  toda a força, todo o poder, autonomia. Não somos mais os mesmos.

Procuram alguma coisa para olhar e esquecer o que têm entendido, constantemente. Os sorrisos trancados, os abraços travados, um segurando o outro, mas todos beirando desmoronar.

O que somos nós? O que seremos de nós?

Resistir é a maior lição. Resolver as próprias mazelas por si só, dentro de si e só. Os dias passam e se arrastam, envelhecemos anos em semanas. Apegamos-nos enquanto tentamos fazer dar certo, enquanto queremos ser alguma coisa que seja útil, que seja... Alguma coisa.

Sua cama vazia. Não o reconheço mais em seu próprio rosto. Sua feição é incomum a mim, comum ao mundo. Onde estão as palavras que sempre disseram tanto? O legado está aí ao mesmo tempo em que outras coisas estão indo embora. Não sei se sinto mais por quem se vai ou por quem fica.

Todos os rostos cansados em busca da cura, é nessas horas que vemos o quanto tudo que acreditam não serve pra nada. Somos o que podemos ser. Somos o que devemos ser. Somos o que precisamos ser. Somos o que somos em nós mesmos, por mais que busquemos em outras coisas, nada faz sentido além de nós.

Olhos fechados, sorrisos rasos se encontram. Olhares quase falam. Pedimos ajuda, pedimos calmaria. Quanto peso nessas costas, quanta paz que eu queria. 

18 de junho de 2014

Viagem

A estrada estava escura enquanto seguiamos a caminho de casa, todos relativamente cansados se isolaram em pequenos cochilos e comentários aleatórios. Outros passam rápido por nós e costuram os outros carros sem qualquer atenção, é incrível como a estupidez humana se potencializa dentro de um veículo!

Me ocorre uma dúvida: Somos nós quem cortamos a estrada ou ela que passa por nós? Quem deixa mais marcas? Tanto faz, seguimos a caminho de casa. Casa. Que piada!

Vejo mais um cachorro na estrada, suor nos rosto e a garganta ressecada. Até ontem podíamos chegar tão longe e hoje só queremos ter um lugar para não precisarmos chegar mais em qualquer outro.

As estrelas se esconderam hoje, junto com a lua que resolveu não aparecer. Fazem dias quentes e noites frias, preciso colocar meu casaco. Preciso olhar você e seus olhos, além dessa estrada. Não quero mais asfalto, quero toque. Não quero mais asfalto e o tempo correndo nesse ritmo contínuo e cansativo, quero estrelas no céu e um abraço ao silêncio, sem despertador.

A única censura que deveria haver seria a de não haver abraço, nesse frio. A estrada continua escura enquanto seguimos, se completa e mal lembro do que fiz durante o dia. Sei que foi bom e nada deu errado. Sei que pelo menos, sigo em paz. Preciso chegar logo a qualquer lugar, para não ter que chegar mais.

Onde estão as estrelas? E a lua onde foi parar? Parece que essa estrada não chega perto de onde vai acabar. Se um sorriso faz falta já aprendi como contornar, vou pegar o primeiro retorno à esquerda e voltar para buscar. 

As estrelas se esconderam hoje, junto com a lua que resolveu nem aparecer. O céu nublado esvaiu aquela linda imagem, até ontem podíamos chegar tão longe... Minhas mãos continuam a gelar. Não quero mais chegar, quero olhar o teu olhar, além daquela estrada.

Se a lua resolver aparecer, eu paro o carro e chego aqui mesmo. Faço do acostamento o meu lar, porque eu não quero mais falar. Não me chame, disseram que não estou mais aqui. Saí, fui viajar.





8 de junho de 2014

Diga-me

Oh, vida! Por que bater tanto? Me diga, por favor, qual é a necessidade disso... Imploro em ao menos saber a razão da dor que sinto. Diga-me, vida! 

Não era nada, inatingível e incólume. Estava bom assim quando, de repente, lá vem de novo. Acho que lá vem outra vez, não! Estava bem melhor assim... Não acreditar em nada é mais prático, não há mudança, não há expectativa, nada além do nada que nos encontramos.

Diga-me vida, por favor, pra que bater tanto? Quando me dissestes que era o que queria, respeitei. Respeitei enquanto me falava e mesmo assim, escolhi acreditar. Maldito! Eles esperavam por mim enquanto eu passava ao seu lado e me olhavam como se esperassem meu fraquejar, mesmo diante de uma trêmula e confusa insegurança essa não é sequer uma opção.

Já passaram muitas coisas por aqui, algumas até ficaram um pouco, mas logo se foram. Não há muito tempo para algo que não esta interessado em prender, prezar pela liberdade é algo que machuca e por vezes, retruca.

Oh, vida! Pra que bater em quem não merece? Pra que chutar tanto o que não faz questão de qualquer coisa? Diga-me! 

Sem querer esperávamos o diferente chegar e todas as vezes que tínhamos certa confiança de que estávamos em sua presença... Ah! Meros tolos! Reles crédulos. Malditos medíocres. HAHAHA

Não há. Não há mérito. Não houve. Não haveria por quê.

Diga-me, vida... Faça-me o favor de sentar aqui comigo agora e dizer pra que tanto? Já entendi, não quero mais lições. Estou bem assim. Pode chamar o fim, por gentileza? Obrigado. Ficarei aqui na companhia do silêncio a esperar.

Tamanha prepotência imaginar que tudo isso seja alguma coisa ao atingir-nos. As coisas são como são e não mudariam por hipótese alguma. Tamanha prepotência, vida. Diga! Qual é o valor de uma palavra?

Inundado de lágrimas inexistentes seguimos um caminho pelo qual já estamos cansados de passar, mais uma e outra vez e mesmo sabendo o final, seguimos. Malditos!

A vontade de largar a sobriedade é parada pela razão de alguma escolha que fizemos, qual seja...

Quando tudo isso acabar e perguntarem o que houve, não seria boa ideia. Diga-me vida, por que bater tanto assim? Afinal, qual é o valor de uma palavra... Da sua palavra?


5 de junho de 2014

Ela

Como uma criança ela disse que nem sentia, mal sabia o que dizia. Como uma criança reagiria? Aquele sorriso desconcertante, sincero. Quando acaba de fazer uma besteira - diga-me - quem consegue se preencher de cólera diante de um desses?

Como uma criança, ela falava cheia de propriedade, tinha certeza de que não fazia a menor ideia. Não ousaria corrigir. Só concordo, esperando ela sorrir. 

Transforma o dia cinza em um quadro, as nossas cicatrizes emolduram aquela imagem. Há um coração ali, perdido cheio de razão. Ela se cala sim e se irrita quando acerto, diz que não.

Como uma criança ela olha ao invés de pedir. Ela clama, sem abrir a boca. Por que dizer o que está na cara? Beira o absurdo ter que gritar o que tá pintado em nosso horizonte.

Ela é mesmo como uma criança que encanta o ambiente quando faz bico e vira a cara pra gente. Vestida de mulher para enganar os medíocres. Como uma criança ela disse que não sentia, que mal sabia o que dizia.

30 de maio de 2014

Sobre um orgulho tolo

Um orgulhoso se cala ao querer, porque é melhor precisar do que se render. Ele está sob suas próprias pernas e formula suas próprias regras sob sua própria razão.

Ao avistar o afastar de si mesmo gostaria infinitamente de gritar: NÃO! E segurá-la pelo braço para que não suma na primeira esquina. NÃO! Grita seu coração que se comprime causando sufoco e dor. NÃO! Por favor!

- Por favor... Lágrimas.

Lágrimas desceriam se não houvesse secado. O olhar baixo observa o chão imóvel, estático e inanimado. Onde está o sorriso que tanto lhe fez bem?

Lá vai... Mais uma parte de si que se perde a cada passo que dá na direção contrária. Lá vai, mais uma chance de conhecer um pouco de paz e felicidade, sem cobrança. Está indo a vontade de ser melhor. Por um orgulho tolo ele não grita. Ele não diz “fica!”. Ele não diz nada!

Por favor...

O silêncio é a marca registrada dessa atitude, ou a falta dela. Um orgulhoso se cala ao querer, porque é melhor precisar do que se render.

As coisas voltaram de onde parecem nunca ter saído. A estaca zero não é o seu ponto de partida, é sua morada.. Todas as passagens que fez questão de não fazer questão alguma, todas as oportunidades das quais abriu mão devem estar em algum lugar, reunidas e discutindo o quanto há de tolice neste homem.

Ele não sonha, vive os próprios sonhos. Ele acaba, como uma personagem e  não faz mais questão. Dizem que o orgulho é o complemento da ignorância. Dizem que um orgulhoso se cala ao querer, mesmo querendo muito. Porque é melhor precisar do que se render.

28 de maio de 2014

Tarde sem testemunhas

Lembro que passei desnorteado de saudade, cortando pelas ruas sem saber exatamente aonde ia. Seguia pela direção que já havia estado há muito tempo, sem ter certeza se realmente caminhava na direção certa. Havia placas e faixas por todos os lados das quais eu reconhecia todas e duvidava que já as tivesse visto alguma vez na vida, minha cabeça estava a mil.

Finalmente ao virar uma daquelas esquinas completamente iguais percebi que tinha chegado perto de onde procurava, um nervosismo inexplicável tomou conta de todo o meu corpo enquanto as lembranças vinham à tona sem deixar qualquer chance para a razão, que devia estar no controle da situação. Lembro, que já havia estado ali.

Sem respeitar o destino que me foi preparado ou quem sabe, no mínimo, as consequências das minhas escolhas fui até lá e mesmo sem ter total certeza - alguma dúvida ainda pairava sobre mim - toquei a campainha... Os braços estavam pesados, tremia como uma criança ao perceber que fez uma besteira, sabe? Suava sem parar e as palavras mal saiam da boca. O tempo passava e o silêncio reproduzia a agonia daquela espera.

Ninguém veio. Ninguém atendeu ao meu chamado. Toquei mais uma vez com as mãos trêmulas, parecia que a campainha acionava em mim àquelas memórias que nunca deixaram de estar presentes, mas não era nada. Fazia uma tarde quente, era hora do almoço quando quase não se vê pessoas na rua. Não passava carros, não haviam transeuntes. Ninguém. Somente eu e aquela maldita campainha. 

Olhei mais uma vez a fachada para me certificar de que estava no lugar certo, percebi alguma coisa diferente... Nunca havia visto aquela sacada. Não tinha sacada naquela noite, não lembro. Sei lá!

- Vou embora. Acho que vou embora. Pensava sem parar.

Dei alguns passos para trás enquanto esperava que alguém aparecesse e sorridente viesse do meu passado me encontrar, mas não havia ninguém. Estava ali, sozinho. No meio da rua, debaixo de um sol torturador sentia meu corpo suar e fadigar de tanta dor. O que era aquilo? Alguém saberia explicar?

Parecia que estava ali há dias, naquele mesmo lugar, sem comer, dormir ou beber água. A sensação que tinha era de que meu mundo se resumia aquele silêncio sepulcral. De soslaio continuava observando a movimentação, ou a falta dela. Meu Deus, me perguntava: Até quando?

Naquele dia nada aconteceu. Naquele dia não sabia quem era aquele garoto parado em frente a um prédio, não era eu. Aquele dia foi o último que tomei alguma decisão em relação ao que eu não havia feito. Naquele dia pensei que tudo acabaria, ali mesmo. Sairia de mim como o suor que corria em meu rosto. É... Naquele mesmo dia eu me enganei profundamente porque não parecia que meu mundo se resumia aquilo, ele realmente estava limitado ali. Fiquei preso em algum erro, em alguma ausência que até hoje não poderia mensurar.

Mas passou, dá pra seguir o caminho sem maiores problemas... Até que o vento traga de volta aquele perfume até mim, enquanto eu tento caminhar pra longe dessa história.



24 de maio de 2014

Evitará


Não há toque maior do que evitar, enquanto se mantém a necessidade de controlar. Nesta linha tênue, balançamos sob a corda entre a vontade e o absurdo que isso parece ser.


O mais leve é o silêncio que nos acolhe, na mesma paz que nos esconde em uma tranquilidade inexplicável. Os pormenores se complicam em demasiado, embora a simplicidade disso seja tão atraente.

Não há vaidade uqe lidere qualquer coisa, não há liderança que valha a pena. Quero a quietude de uma tarde vazia, construir no ócio o canto onde pretendo ficar.

Se for embora leve um pedaço de mim que transformou, não me pertence mais. Quando for embora tudo o que terá serão os motivos pra voltar. Quando não estiver mais por perto, talvez o tempo tenha passado. Em que brisa você pegou carona?

Reparei que não era tão igual quanto já foi. Percebi que atravessávamos nossa própria ideologia, mas de que importa se um sorriso desconstrói qualquer plano?

A vontade de querer é embargada por uma memória ingrata. Assim como ter controle é tanto quanto querer não tê-lo, por um momento, não mais.

Não há toque mais profundo do que o de se evitar.

28 de abril de 2014

Obscuridade

Passando pelo mundo sem ser percebido, ouvindo de tudo... Mas não dando ouvidos. O caminho de um rumo tão procurado está ali posto à sua frente, não é como imaginava, aliás, como se imaginava não há mais nada.

Chegou até aqui despido de si mesmo. Como uma criança abandonada o passado ficou no meio do caminho, sem qualquer amparo. Ora! Reles mortal, mal sabia que naquela criança havia tudo que havia de melhor. Chegou até aqui alheio à verdades, reflexivo nas maldades e analisando a realidade.

As coisas como são ou elas são como deveriam ser?

Cortou os pés da paixão e seguiu o caminho de carona com a razão. Sem grandes emoções, a segurança era a maior aliada. Indo pra lá e pra cá até poder chegar a um lugar de calma e paz, porque tudo que se precisa às vezes é da calmaria de um silêncio.


Não estava inserido no padrão e justamente essa imperfeição que tornou as coisas atraentes, pela primeira vez o roteiro fugira do script. Dali em diante por vezes os pormenores insistiam em se tornar repetidos, mas diante de uma maturidade e desapego tão leves não houve. 

Passando pelo mundo sem ser percebido, ouvindo de tudo... Mas não dando ouvidos. O caminho de um rumo tão procurado está ali posto à sua frente, não é como imaginava, aliás, como se imaginava não há mais nada.

27 de abril de 2014

Só por hoje

Hoje a parte de mim não é ideal. Hoje todas aquelas palavras que foram escritas não servem de nada. Hoje é como um dia que já passou e eu sei muito bem onde é que vão parar essas horas a fio, em uma madrugada fria e vazia.

Os amigos se foram. A liberdade é apenas notícia trazida por quem ainda a possui. Ligue o som, por favor que esse silêncio tá me matando, quando a falta de assunto é tudo que preenche esse lugar me sinto impotente. 

Ei, você, por favor! Poderia passar esse recado pra mim? Diga que eu já fiz demais, além do que imaginava ser capaz. Diga também que cansei e não se esqueça de avisar que não irei mais. Pode falar, não quero mais ouvir porque de argumentos vazios e ofensivos já estou com uma boa coleção. 

Hoje parte de mim é aquela mesma coisa que sempre foi. Hoje a outra parte em que tenho sustentado os dias se escondeu em um lugar bem longe e isolado, onde ninguém será capaz de encontrar, nem eu mesmo. Cheguei a implorar por lágrimas de alívio, mas nem isso vem. Traga pra mim uma nova notícia, ou melhor, não me traga nada. Tudo que quero é paz.

Coloque toda a responsabilidade sob mim ao falar sobre mim, eu poderia até ajudar nessa missão. Muito bem, poderia. 

Ah! Se você pudesse estar aqui agora e ouvir esse som... Eu não precisaria escrever nada, acho que entenderia perfeitamente o que está se passando.

Quero voltar lá, com mais calma, maior e mais preparado. Quero chegar lá o quanto antes, mesmo que isso se torne um pouco demorado. Encontrei o caminho e não há dúvidas do que deve ser feito, mas o meio do caminho é sempre algo tão confuso e rarefeito. Aproveitar a escalada é um ótimo negócio, mas desviar a atenção pode ser fatal. 

Há tempos a outra parte que tenho sustenta os dias porque hoje a maior parte de mim é aquela que sempre foi. Sinto. Minto. Invento uma realidade durável para resistir. Aumente um pouco a música. Obrigado. 

Não.

Não quero ouvir ninguém falando. Já foi feito, não vou me justificar. Não. Não quero ouvir ninguém falando, só me deixe aqui quieto, isso passa. É só hoje, enquanto aquela outra parte de mim não volta. É só hoje, só me deixe aqui quieto, isso passa.

20 de abril de 2014

Como se importasse

Às vezes o sonho é tão real que as mãos acordam fechadas como se ainda segurassem as dela. Vejo os pensamentos chegando de carona nos primeiros raios de sol quando iluminam esse cômodo, abafado.

Hoje o dia não tem nada de produtivo, passa arrastado sob puro efeito de uma noite longa. Já não tem a mesma graça.

Era divertido quando não podia, quando era uma coisa nossa, quando fazíamos na calada das madrugadas. Não é mais. Hoje o dia não foi nada de produtivo, já não tem a mesma graça.

Estamos envoltos em conceitos e idealizações pré determinadas que não praticam um terço do que propõe. Somos o reflexo de tudo o que tentamos nos tornar e principalmente, do que não queremos ser de forma alguma. No final das contas é ridículo sermos qualquer coisa.

O corpo para, mas quem disse que a mente acompanha? Ela não descansa há tempos. Já não tem a mesma graça, hoje o dia se arrasta sob o efeito de uma noite longa.

As brincadeiras são meras partes de nós que não valem a pena serem divulgadas, como se nada fossem. Sabe? A realidade se mostra. O sonho se desgasta. O tempo passa e já não tem a menor graça.

Às vezes parece tão real, mesmo quando as mãos acordam vazias. O que significa abrir os olhos? Já não tem a mesma graça.


16 de abril de 2014

Sobre a simplicidade das coisas

Não gosto de despedidas. Despedidas nem comemorações. Nada me agrada em marcar, sem ser marcante. 

Não gosto das dicas, dadas sem conhecimento ou propriedade nas emoções. Eu gosto da verdade. Mas não é da contada não. A verdade é boa quando vista, sorrindo, olhando e ora, até em uma comemoração.

Eu gosto mesmo é da brisa, o vento que carrega pra cima de nós a terra molhada chuva. Eu gosto do silêncio enquanto se pensa no que foi dito. Eu gosto de repassar as imagens na cabeça e sentir a mesma coisa boa de quando estive por lá.

É bom ver crescimento e evolução em um terreno difícil, com um clima ingrato. É gratificante acordar melhor a cada dia enquanto aprendemos o que é perseverar. 

Não gosto de marcar algo sem que tenha sido marcante.

Logo passa, de temporariedades que somos formados. Logo vastas, tão vastas as ideias pelas quais nos passamos. Logo. Logo, logo se vai. Se foi.

Sem beijos, sem abraços, nem últimos olhares. As coisas se desenrolam assim, sem premeditações, naturais e contraditórias. Engraçado como disse que jamais faria e me peguei, veja, fazendo exatamente. 

As coisas de verdade simplesmente se vão, deixam de estar sem deixar de existir. Elas morrem sem deixar ausência, apenas saudade. Em todo momento os seus pormenores se fazem presentes como se jamais tivessem ido embora.

Eu gosto mesmo é da brisa...

Quando a lua não iluminar mais nossas madrugadas tão vazias, vou me apegar à espera da chuva que está por vir porque eu gosto mesmo é da brisa, do vento que carrega sob nós o cheiro da terra molhada.

É quando sinto a reles mortalidade que se abate sobre mim. É quando pego a tristeza quase com as mãos e a abraço. É quando vejo tudo se esvaindo sem dar sequer um passo. Eu estarei aqui e sei que quando quiserem me encontrar, saberão que eu gosto mesmo é daquela brisa.

13 de abril de 2014

Assim que a casca se quebrou

Escondeu o sorriso em algo que havia dito. Pensou que era melhor se manter calada, para que passassem incólumes sem que a perturbem. 

Sabe como uma criança que recusa outro colo, sem saber explicar a razão? Da mesma forma de quando não conseguimos mensurar ao não fazermos ideia do por que dissemos.

Inteligente é calar uma decepção...

As coisas continuam no tempo e nós nos preocupando com o trabalho do relógio que devia ser o único a se ater a detalhes de horas e dias. Tornamos-nos mais velhos, mas não mais maduros.

Somos jovens... Jovens crianças à procura de sobrevivência, separados pelo próprio lapso de tempo que consagra esse limiar. Somos espíritos perdidos na rua à procura de um lar nos braços de um momento de conforto. De paz.
E se a paz fosse o meio e não o final? E se o final desse meio não fosse necessário? Além de qualquer outra coisa que o pormenor de simplicidade nos preenchesse. 

Temos que nos bastar... Bastar-nos sempre e quando procuramos estar com alguém, estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por necessidade.

Escondeu o sorriso por algo, sem pensar, disse apenas quando a cicatriz doeu sem saber explicar. No fundo acordamos com aquela dúvida de como a situação foi parar naquele lugar.

Tanto faz, é uma resposta típica! Faz transparecer ser indiferente comigo mesmo, não traz a tona meus próprios questionamentos. Não há. Está tudo bem.

Que ela não se cale em seriedade, porque o sorriso é a maior leveza de todo esse mistério. 

Inteligente é calar uma decepção...

4 de abril de 2014

Sobre o controle

Tenho tudo o que preciso. Mais relevante é ter a capacidade de jogar com as cartas em mãos do que esperar, assim, alguma outra servir.

Tenho nas mãos tudo o que entendi, dedicado a ser melhor. Soldado auto de data, me tornei mais forte quando aprendi a mentir.

Tenho nos pés mais do que já torci, do caminhar tão em falso, estradas erradas que cansaram as pernas de tantas voltas.


Eu tenho aqui as mãos tão cansadas, sujas das lavras, marcadas de quando cedi.


Tenho no peito uma dor que assusta, agonia, labuta de um coração a resistir. Nas costas marcadas do peso da estrada que insisto em seguir.

Tenho um laço de sangue derramado que não me deixar partir. Tenho na mágoa a eterna caçada para entender o sorrir. Quando sorrir?

Pulo de ponta no encanto da falha, imperfeição que se espalha enquanto havia tempo de fugir.

Sobrou isso aqui, esperança montada da raça forçada, lembrar que sofri. Estamos de pé, ajoelhados na alma sob a parca vontade de ter controle de mim.

Estou de partida agora. Deixo a casa, o celular, meu nome e meus vícios. Vou atrás de mim mesmo, seguindo qualquer ponto de esperança que ainda vejo, na esperança de ter controle de mim.

22 de março de 2014

O que não deveria ser dito

Deveriam permitir colecionar alguns momentos, sabe? Pegar mesmo e carregar no bolso, até chegar em casa e poder guardar em uma caixa no armário.

Daquelas que não servem pra ninguém além da gente. Nem pra nada, a não ser pra isso. Alguns objetivos... Sei lá... Concha da praia, foto velha a se mexer, a carta quase a falar.


Que incrível seria recuperar-se, estar de novo naquele momento que nos ensinou o que pode ser felicidade. Ter alguns minutos de volta daquela viagem com os amigos ao litoral, quem me dera!


Receber um pouco de paz em que os olhares trocados se contemplavam e agradeciam por meio de um sorriso de contradição, puro e maledicente. Enquanto pensavam, mergulhados em devaneios, as mãos se reconheciam ao toques receosos daquilo se tornar necessário.


Caramba! Encontrei essa caixa por aqui e acabei viajando, quem disse que não é possível guardar bons momentos no bolso? A memória se encarrega de fazê-los aparecer, saudosos e satisfeitos.


Lembranças boas amenizam futuros temíveis e presentes sufocantes. Boas lembranças nos fazem sentir de verdade o que já passou, como se nunca os houvessem deixado ir.