12 de agosto de 2016

Solitatis

Era uma saudade atrás da outra, como se já não bastasse as faltas guardadas no peito, não bastava se acostumar. Não fosse o bastante as cicatrizes marcadas no coração, agora inventou de colecionar.

É, colecionar saudade.

Como um anjo aparecido depois de tanto tempo desejando, com um carinho guardado, meio de lado, meio de canto. Veio, e logo fez do ambiente o seu lar, transformou tudo na maior bagunça e não ficava um segundo sem parar, sem pular.

Ficou e transformou completamente a rotina, fez de qualquer poça a sua piscina. Que sina! Estava grande, tão grande que mal cabia mais naquele lugar. Salutar, elementar que ocupava mais espaço do que o disponível, sinceramente, não poderia ficar.

Era alegria, era um lar, vindo de um encantamento genuíno e só faltava falar. Era lindo, puro, completamente doce e o que não falava com palavras, o olhar traduzia, sem vacilar.

Era agora uma ida sem volta, para um lugar mais feliz com gramado por toda a sua volta. Era agora um caminho em outra direção, paralelos, mas distantes a cada curva, mudando pouco a pouco a cada ocasião.

Era uma saudade atrás da outra, como se já não bastasse as faltas guardadas no peito, não bastava se acostumar. Não fosse o bastante as cicatrizes marcadas no coração, agora inventou de colecionar.

É, colecionar saudade.

Todas elas tinham uma história diferente, vinham de sangue, vinham de olhares, de proximidade e de toda gente. Era uma de nem saber quanto, uma de lá tão longe que nem se lembrava mais e aquela que fez chorar o coração da gente, era a saudade mais recente.

Evita falar o nome, evita pensar, evita viver, evita chorar, mas quando vê o rosto já foi o palco para a corrida da dor que se esvai em lágrimas. Tudo é dor e tão tamanha apequenesse nossos corações, aperta, machuca e lembra que um dia foi tão grandioso e apesar de simples, tão bom.

Colecionador de saudades, sim. Não se busca uma a cada esquina, mas sem saber como reciclá-las, resolveu que era melhor limpar a poeira da angústia da falta e as manchas de orgulho para guardá-las na vitrine das experiências que nunca mais serão.

Sem dúvida, há saudade.

Com carinho, à saudade.

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