19 de dezembro de 2019

Ao Final

Nessa época o final é evidente, tudo parece mais intenso para que a intensidade logo possa tirar seus dias.

Dias que começam mais tarde, o cedo já não é assim tão cedo, pois as ruas estão vazias. Mas as noites são movimentadas, coloridas, tudo parece estar mais animado.

Percebo que muita coisa já não me interessa. E não estou a falar do interesse daquilo que me agrada, mas do interesse daquilo que não me diz respeito. Nunca disse.

Nem sempre aquilo que me interessa, me interessa. E aprender a conviver com a ideia de que nem tudo convém é libertador...

O poder do agora. O poder de ser o que se é e o sentimento de estar no caminho da plenitude não tem preço, não se compra e não se vende.

Agora sim, consigo ver quebrado o que se quebrou. Agora sim, consigo ver que não há nada onde já não há nada, onde fui eu quem pu o que queria ver.

Ouço as vozes que falam dentro de mim e já nem preciso mais esfregar a lâmpada para ver o gênio.

Sinto minha intuição como uma luz que me guiará para onde tenho que ir, no caminho de ser o que já sou, mas não ainda não tomei para mim.

17 de dezembro de 2019

Ela era luz

Já era noite e estava escuro entre os prédios. A luz da lua se confundia com a iluminação artificial, mas a verdadeira luz vinha dela. Coberta por um vestido listrado, preto e branco, que denunciavam as belas curvas de seu corpo, ela caminhava em direção a portaria.

Seus longos cabelos escorriam por entre os ombros e voavam ao bater no vendo. Ela estava seria, não sorria muito ultimamente. Ela andava sempre a frente de outras duas garotas que acompanhavam seu passos, buscando surfar na sombra da sua segurança.

Já era noite e ela passava mais uma madrugada por aí guiando os outros como se estivesse tudo bem. Como se ela também estivesse bem, mas ninguém sabia. Ninguém via as suas lágrimas porque ela jamais permitiria.

Já era noite e seu brilho ficava opado de dor e seu peito vazio. Seu belo rosto maquiado não permitia que vissem os traços de tristeza que sua alma carregava, mas, com um pouco de atenção era possível enxergar.

Seus passos não tinham planejamento e ela seguia o caminho que sua intuição indicava, seus passos duros a sustentavam por entre o mundo que ela já havia desistido de entender, mas jurou a si mesma que não lhe derrubaria.

Já era noite e a luz dela a mantinha viva, forte e firme. Já era dia e ela escondia o olhar para que ninguém fosse capaz de desvendar suas dores. Pena que eu as conheço.

28 de novembro de 2019

Me atraso

Me atraso todos os dias, preso aos meus próprios erros. Abraço meu equívocos enquanto me apego a dor que carrego no peito, pois ela mantém vivo o que não existe mais dentro de mim.

Meus vícios tomam conta do meu corpo como se fossem o próprio alimento, ao passo que bebo das coisas que me fazem mal todos os dias, como se não fossem verdadeiros venenos.

Me mantenho longe, cada vez mais longe do que se aproxima porque não quero mais estar exposto. Mas estou exposto por conta das minhas péssimas escolhas de todos os dias.

Mais uma vez, errei da mesma forma que, ontem, jurei que não faria. Mais uma vez, disse o que não jurei que não diria. Mais uma vez, estive onde jurei que não poria mais os pés e agora me vejo aqui, mais uma vez, de joelhos, cedido aos meus desejos mais vis.

Me atraso todos os dias planejando os novos hábitos e falho miseravelmente, pois estou habituado a ser eu mesmo. Nada demais. 

Me atraso todos os dias esperando ouvir o que gostaria que fosse dito, mas não saberei jamais.

Me atraso todos os dias tentando me manter de pé e as pernas doem ao subir as escadas, o corpo dói ao levantar, a alma dói no silêncio e o coração dói todas as noites, quando me pego no meio daquela multidão vazia. O que estou fazendo aqui, afinal?

Me pergunto, com quanto dinheiro se compra um pouco de paz?

Me atraso todos os dias tentando entender o que estou fazendo aqui, quanto me alimento dos meus equívocos, bebo das minhas frustrações e me mantenho firme, pois já não há mais nada que seja capaz de fazê-lo, por mim...

20 de novembro de 2019

E quantas vezes morrerei?

E se eu disser que é o fim e que daqui não passo? Daqui não passo, a partir daqui não quero mais. E se eu disser que já deu e que escolho que seja o fim?

E se eu disser cansei e terminar com tudo de uma vez, o tempo para? Se eu acabar de uma vez por todas com todo esse caos, encontrarei a paz? Ou não encontrarei nada? Ou começará tudo de novo, enfim?

E agora se eu me sentir esgotado e não quiser mais caminhar, a vida dá um tempo? Será que a vida me daria um tempo se eu acabasse de uma vez com isso, agora, aqui?

E quando a vontade de acabar logo ao acordar vai acabar, antes de dormir? Por mim. Se eu deixasse de existir, a vida me daria uma tempo?

E depois de tanto tempo pensando, acho que a vida não pararia. A vida nos atropela e já perdi as contas de quantas vezes eu morri. Sim, morri a cada falha, a cada frustração, a cada decepção, a cada saudade.

E agora tanto faz ficar ou ir, estar ou deixar de existir, morrer ou sorrir, porque a vida vai passar por cima de qualquer forma e a única opção é seguir, mesmo que não se siga. E se eu disser que daqui não passo, a vida passará por mim.

E fico pensando, quantas vezes ainda morrerei. Quantos de mim serão aniquilados pela completa falta de interesse. Quantos eu não serão mais eu daqui a pouco. Quem eu era já nem reconheço, assim quando olho fundo nos meus próprios olhos.

E fico me perguntando o que estou fazendo aqui? E fico pensando, quantas vezes morrerei, ainda que vivo, dentro de mim?

4 de novembro de 2019

Doía

Doía tanto que eu nem sentia o cheiro de terra molhada quando a chuva caia. Doía tanto que eu nem reparava no nascer do sol de todo dia.

Doía tanto que me esqueci de contemplar a beleza do meu próprio corpo, de aproveitar os sabores de conviver com o outro. Doía tanto que todo dia era só mais um dia.

Doía tanto e eu já não enxergava nada, me afogando as mágoas de ideias, de pessoas e de águas passadas. Enquanto doía e eu berrava por dentro, no silêncio do sofrimento, a primavera passou.

Doía tanto que não aproveitei as noites frias, para vestir tocas, casacos e curtir a fumaça que saía da boca. Doía tanto que não aproveitei as noites gostosas de sono, de chocolate quente, de epifanias e de silêncio ardente. Enquanto doía e eu me entregava aos sentimentos ruins, o inverno passou.

Doía tanto que não aproveitei as rápidas e intensas águas do céu para tomar banho de chuva. Doía tanto que eu me preocupava em mostrar ao mundo como estava triste e, mediante o tempo que não para, perdi o sol, a praia, as águas, o horizontes, o céu azul, as trombas d'água, a cachoeira e tudo o que acompanhava. Enquanto doía, o verão passou.

Enquanto doía o tempo passava. Enquanto eu parava a vida não parava. Enquanto doía eu me enganava, alimentando uma dor que não existia. Enquanto eu sofria, não aprendia nada. Enquanto eu me diminuía a energia baixava. Enquanto eu não via, o outono passou. O vento levou. O amor se calou. Outra chegou.

Enquanto doía eu perdia o presente e hoje o maior presente é saber onde estou, enquanto eu passo a vida passo por mim e sei exatamente aonde vou. Enquanto doía me perdi, mas encontrei tudo que eu sempre busquei. Ser completo pede que abramos mão daquilo que imaginávamos nos completar.

Enquanto doía, eu acreditava que doía por ter sido arrancado, mas eram apenas minhas mãos queimando de tanto segurar o que não quis ficar. Doía tanto que eu acreditei na dor e perdi verão, outono, inverno, primavera.

Enquanto eu acreditava na dor, perdi as chuvas, o sol se pondo e chegando, perdi as cachoeiras revigorando, perdi a beleza das praias e o barulho  do mar. E quanto mais eu perdia, mas me preparava para chegar, no auge de mim mesmo.

Enquanto eu era, eu fui. Agora eu sou e não sou mais. Enquanto doía eu acreditava na dor. Agora a vida me ensinou que eu acreditava em mim mesmo para doer, mas agora acredito em mim mesmo para conseguir ver, que o que passou, foi porque eu deixei passar. O que perdi foi a necessidade de tentar me completar, sem precisar.

Doía tanto que eu nem sentia o cheiro de terra molhada quando a chuva caia. Doía tanto que eu nem reparava no nascer do sol de todo dia. Mas hoje não dói mais, pois sou o meio próprio farol, Deus de mim mesmo, completo e firme.

21 de outubro de 2019

Ela se entregou

Ela se entregou, de corpo e alma. Ela foi toda dele. Ela achava que era mais do que poderia. Ela se entregou.

Ela se irritou por achar que não tinha mais controle sobre si mesma. Ela pulou sem pára-quedas e não acho que encontraria o chão, mesmo assim, ela se entregou.

Ela perdeu a compostura e a razão. Ela foi tudo que imaginou que nunca seria, mas foi em vão. Ela se entregou de corpo e alma, mas não soube explicar. Ela chorou.

Ela se entregou como nunca antes e como nunca mais. Ela não tem outra saída a não ser fingir ter paz. Para o mundo tudo está em ordem, ninguém sabe e ninguém mais saberá que ela chorou.

Ela faz questão de ser a mais forte que parece, mesmo que seu coração, moído por dentro, doa a cada pulsar. Mesmo que os seus sonhos sejam toda noite em um lugar que ela não queria estar. Ninguém jamais desconfiará, que teu corpo está de pé, mas sua alma de joelhos porque, um dia, ela se entregou.

Ela se arrepende por cada gota de amor que ainda sente na boca, que desse pela garganta. Ela não faria tudo de novo não, porque ela fez, ela se entregou e no fim, chorou.

Ela esconde suas trevas por trás de uma aparência que lhe dói as mãos de tanto sustentar. Tua vontade é de gritar, é de correr, fugir, mas ela não tem para onde ir, pois a dor permanece dentro dela. Ela lembra todos os dias, que se entregou e essa dor lhe faz lembrar, que os seus pés descansos jamais descansarão em outro lugar.

Ela tem perfeita convicção de que jamais se entregará, até se entregar.

7 de outubro de 2019

Só mais um trago

Eu quero te fumar e jogar as tuas cinzas no chão. Quero lhe tragar e ao mesmo tempo que marco meus pulmões com partes de você, te dissipar como fumaça.

Eu quero sentir o cheiro da fumaça de ti até que ela desapareça. Até que o vento leve. Até que reste só o resto e este fique no chão, sem servir para mais nada.

Eu quero tragar a saudade com a força que faça com que meu corpo estremeça e a cabeça gire, até nunca mais.

E enquanto eu tento me livrar do vício de fumar o que sobrou de você procurarei outra coisa para me viciar...

E quando eu não puder mais tragar a tua fumaça e quando eu não puder mais me acalmar com a tua substância tóxica dentro de mim, até a fumaça terá ido embora.

Eu terei ido embora. Mas vez ou outra, em um dia estranho, tragarei mais um pouco de ti para preencher o vazio que carrego no peito com a fumaça de quem já não existe mais.

E nesse dia, como sempre, marcarei meus pulmões com o resto das dores que ainda lembro e o resto partirá como parte a fumaça que o vento leva.

2 de outubro de 2019

Despertar

A vida é sutil, mas incisiva e justa. Não há uma folha caída sem razão, pois tudo teve uma causa. O efeito não é resultado do acaso jogado a esmo vindo do céu. O efeito é consequência de atitudes, circunstâncias, condutas e do nosso próprio fel.

A gente cai e por vezes se defende sentando no lugar que as vítimas ocupam, clamando pela piedade de desconhecidos, se escondendo por detrás das vestes de um coitado para que não sejamos julgados, como um réu.

Mas não adianta insistir. Não adianta desistir. A vida passará como uma onda e quem não estiver preparado irá se afogar. O tempo continua seu curso, sem parar. O curso continua seu caminho, sem parar. Sem parar é como a vida não para de caminhar.

Nos apegamos fácil ao que nos faz sentir melhor, o que nos tira a impressão das mazelas que carregamos. Porque lidar com isso dói. Porque acordar arde os olhos, embrulha o estômago. Porque perceber, de fato, a realidade, nos torna duros demais e responsáveis, conscientes, sem desculpas para dar.

Mas nós queremos a desculpa da ignorância. É mais fácil dizer que não sabia, que não teria como prever. Que não nos contaram. Que não nos ensinaram a viver. Por vezes, ela, a vida, arranca de nós nossos brinquedos para que percebamos que não precisamos mais brincar.

Me diz, aonde isso tudo vai parar? Aonde você quiser chegar. Vivemos em intensos loops e nos apegamos à coisas e pessoas para suprir o vazio que carregamos todos os dias. Para não lembrar que nos falta algo. Para nos lembrar de que alguém foi embora e não se importou. Para nos lembrar que você decidiu ir embora e ninguém notou. O que é que há?

A vida ensina de maneira suave, sutil. A vida mostra o caminho, mas a gente não enxerga e quando finalmente vê, fecha os olhos. A vida te dá uma porrada para você largar de ser tão irredutível, a vida te tira coisas, te leva para o desconforto para você levantar e sair.

Mas não adianta, né? A gente continua pisando na lama, com os pés descalços. A gente continua seguindo o mesmo caminho, mesmo sabendo que a rua é sem saída. A gente machuca as mãos de tanto segurar o que já deveria ter ido. A gente insiste em ser o que não é e a vida, calmamente, nos derruba, de cara no chão. Diz: Quero ver você sair daqui!

Por vezes, no chão, sem força, chorando, a vida arranca os nossos brinquedos para que percebamos que não precisamos mais brincar com eles e para que, finalmente, entendamos que deitar na cama das vítimas é só mais um jeito de se atrasar.

Na maioria das vezes, o que dói é o que a vida tira de nós para que entendamos de uma vez por todas que não precisamos mais daquilo, mas é isso né, não adianta avisar.

18 de setembro de 2019

Correndo

Estamos correndo para onde, se não há para onde ir? Corremos até as canelas doerem, como se fossemos perder o trem que irá partir. Mas para onde estamos correndo se a viagem não tem fim. Não temos para onde ir.

Para onde vamos com tanta pressa, como se amanhã não pudesse esperar. Perdemos o pôr do sol, a brisa, perdemos as tardes, os amigos, os empregos, o dinheiro. Perdemos a nós mesmos em uma busca desenfreada por nada que exista aqui.

Os dias passam e junto vão nossas esperanças, nossos sonhos. Quanto de ti você abriu mão a cada dia que passou. Quantos dias foram produtivos ao ponto de servirem à edificar a estrutura do que sempre sonhou? Há muito ou muito pouco por vir.

O desafio é andar sozinho, quando sentir-se só. É quase nunca, mas por vezes dá um nó. Poderia sim, ser muito melhor. Mas perdido nos talvezes e ses que jamais darão resposta, por não acontecerem. Tire do pouco que sabe o tanto que há em ti.

Estamos correndo para onde, se não há para onde ir? Corremos até as canelas doerem, como se fossemos perder o trem que irá partir. Mas para onde estamos correndo se a viagem não tem fim. Não temos para onde ir.

Estamos correndo para onde, se não há onde chegar? Corremos até faltar o ar e a estrada ainda se perde no olhar, como se nos perdêssemos na areias do desenho, com sede, sem alma, tão seco, nem vi.

Afinal, para onde vamos com tanta pressa como se amanhã não pudesse esperar. Amanhã chegará de qualquer forma, pelo menos para a maioria de nós. É preciso aprender a estar para depois arriscar chegar em algum lugar, ter para onde ir não é para qualquer um...

Adilson Guimarães

2 de setembro de 2019

Dores que não são minhas

Sinto tua dor, daqui. E mesmo que não sejam minhas, doem em mim. Sinto a cada dia o vazio que não lhe cabe, sinto como se fossem em mim. Eu sei que sofre. Eu sei que dói. Eu sei que são feridas enormes que não cabem em ti.

Sinto teu desespero por não entender o caminho que está seguindo e, mesmo que não tenha nada a ver comigo, vejo tudo que há, enfim. Tuas perguntas tem respostas mais dentro do que fora. Teu caminho não é na euforia de uma noite acompanhada. Eu sei que dói e que a cicatriz não fecha, outro dia eu quase vi.

Sinto tua dor de longe e sei que tu poderias ser bem mais que isso. Não tivesses alimentado os monstros do orgulho e do ego como se fossem animais de estimação. Eles cresceram e te roubaram Levaram tudo que poderia ter e esconderam tua essência em algum lugar. E agora vive assim, perdida em si.

Não seria capaz de apontar em qual direção te encontrar ou sequer ter a petulância de arriscar dizer quem és tu, pois só tenho pequenos fragmentos de alguém que não existem mais, eivados dos meus próprios ideais e planos frustados. Se eu disser que sei exatamente alguma coisa, pode estar certa de que menti.

Sinto tua dor e entendo que nada poderia fazer para ajudar, pois também estou perdido em algum lugar. Mas já conheço algum caminho. Já peguei trilhas e atalhos. Já quase me afoguei no lago e passei noites frias jogado na sarjeta. Perdido. Sem consciência. Tomado pela dor. Enfim.

Sinto tua dor e sinto muito por doer. Sinto mais ainda por saber que arrancar tudo isso do seu peito não depende mais de mim, aliás nunca dependeu de nada além de você. Sinto tua dor daqui, sim, eu até acho que vi. Eu sei que são feridas que não cabem mais em ti, mas também sei que tudo isso que não sei descrever é muito menor do que tudo de bom que há em ti.

30 de julho de 2019

Era você. Eu vi.

Essa noite sonhei contigo a noite toda e nada do que eu diga traduziria o sentimentos que tive ali.

Era você, eu vi, sentada na cadeira do cinema. Eu te olho. Você sorri. Era a imagem mais linda que já tive em frente a mim.

Essa noite sonhei contigo e de alguma forma voltei naquele dia, onde o dia a dia era te ter por aqui.

Era você, eu vi, deitada na rede, e minha cabeça pousada em seu peito, o silêncio era a própria paz dentro de mim

Essa noite eu sonhei que você estava aqui e eu estava aí e eu não ia embora dessa vez. Você ficava. Você sorri. Você ainda era alguém, pra mim

Era você, em si. Essa noite eu sonhei que estávamos de volta um ao outro. Era como a imagem de um quadro, eternizada em mim

Sim, era você, eu vi. Sorrindo. Sumindo. Tão longe. Era você. Foi você. Era uma vez eu, aqui. Acordei. Menti.

Essa noite eu sonhei alguma coisa, tinha a ver com você. Enfim.

16 de julho de 2019

O presente presente

Manter-se presente. A arte de estar aqui, agora e não em qualquer outro lugar. Aprendiz de investimentos, concede ao tempo a importância e a nobreza que lhe cabem.

Manter-se presente e não hipotecar seu futuro ao passado. Não viver voltando aonde não existe mais nada, sequer procurar pelo ar que respirou outrora, é, definitivamente, uma arte.

Manter-se distante das amarras do apego às cicatrizes que carrega no corpo, conseguir olhar como a uma obra no museu, contemplar, relembrar, aprender e só. Somente só. Estar aqui é uma dádiva.

Manter-se na estrada sentindo cada parte do corpo, os pés nos pedais, a mão no volante, no controle do próprio destino, caminhando e aproveitando cada paisagem, cada metro de asfalto, cada pensamento e que chega e se vai, como pássaros. 

É incrível estar aqui e agora, ter o controle de si, ter a força de um homem que conhece os caminhos pelos quais percorreu e que não tem arrependimentos ou medos. Tudo foi extramente necessário para se ser o que se é e para estar onde se está. 

Manter-se presente, como o presente que é o agora e não qualquer outro lugar. Não sofrer pelo que não mais há e finalmente, aproveitar os frutos de ter seguido em frente.

Manter-se tão presente que o futuro está logo ali, mas não há ansiedade alguma em chegar. O agora é bom de aproveitar. O passado é bom de relembrar. O céu é lindo quando está azul e também quando as nuvens chegam. A luz do sol é forte e esquenta e a noite reverbera o luar na alma.

Manter-se presente e forte. As costas largas. A boca em silêncio. Os olhos falantes. Os ouvidos atentos. Não é mal ser o que se é. Manter-se presente é uma dádiva que só se aprende depois que muito fugir para o presente, para o passado, até perceber que só se tem a possibilidade de ser, aqui, agora.

Manter-se presente e basta olhar quem tu és para saber o necessário. Quem fostes já não importa. Quem será importará em alguma momento, mas não agora. 

Manter-se presente é o maior presente que pode ser dado a si mesmo. 

Ter o controle, afinal, é entender que não se controla nada além de si mesmo.

Manter-se presente. A arte de estar aqui, agora e não em qualquer outro lugar. Aprendiz de investimentos, concede ao tempo a importância e a nobreza que lhe cabem.

Manter-se presente e não hipotecar seu futuro ao passado. Não viver voltando aonde não existe mais nada, sequer procurar pelo ar que respirou outrora, é, definitivamente, uma arte.

Manter-se distante das amarras do apego às cicatrizes que carrega no corpo, conseguir olhar como a uma obra no museu, contemplar, relembrar, aprender e só. Somente só. Estar aqui é uma dádiva.

2 de julho de 2019

Ainda.

Minha barriga ainda esfria. Meus olhos não se conformam de não poderem mais ver. 
Meus ombros pesam em carregar essa ausência. Essa incerteza. Esse orgulho. Esse destempero. 
Sou mais do mesmo de sempre misturado a uma parte inédita que aprendeu a sobreviver. 
Onde estão minhas palavras além de mim? Será que escrevo por mim?
Agora meus olhos só conseguem ver lugares, coisas e isso é o mais próximo de ver o que já viu, mas meus olhares não, meus olhares vão além.
Meu corpo ainda arrepia e vez ou outra sinto de novo aquela agonia. Tudo que criei ainda habita em mim. Tudo que virei pelo que fiz de mim.
Falta sabor...
Será que escrevo por mim ou por ti?
Talvez o sentido disso tudo esteja na falta de brilho, na falta de brio, pois escrevi por ti. Depois por mim. Depois já não sabia por quem, nem por quê. 
Hoje eu só escrevo porque sobrevivi. É parte de mim que vive, que pulsa. Hoje escrevo e respiro, não necessariamente nessa ordem.

10 de junho de 2019

Idiota de toda espécia

Como você pode ser tão idiota? 
Dar tudo de si por quem não sabe seu nome. 
Amar quem não lembra de você.
Por que diabos és tão idiota? 
Conhecer o seu corpo e insistir em fazer o que não te faz bem. 
Consumir o que estraga tua alma.
Como pode, Deus? 
Continuar mantendo velhos hábitos,, velhos resultados, velhas companhias...
Como pode ter os mesmos pensamentos todos os dias?
Como você pode ser tão idiota e carregar o peso de uma pedra que não é mais sua?
Alimentar animais que não são mais seus.
Ter medos que não te pertencem.
Quem eras tu, afinal? 
Suportou ser rebaixado por si mesmo e colocado como inútil por quem não te respeitou?
Quem você gostaria de ser, idiota? 
Será que ainda existe algum lugar aonde quer chegar, além do outro lado da rua?
Como podes, afinal, pedir a Deus alguma coisa se não sabes, definitivamente, quem és, o que queres?
A verdade é que as tuas mazelas estão mais arraigadas e profundas que tu podes imaginar, já que o erro é ceder a ti mesmo.
Não importa por onde andas, com quem andas, o que houve, o que ouve, aonde esteve, de quem pensou que podia ser.
Como você pode ser tão idiota e achar que o tempo esperaria por ti?
Porque diabos tão inocente, vindo de um lugar tão podre...
Quantas vezes se pegou fazendo o que reprovava, quantas vezes se tornou o que mais te irritava?
Quem é você agora? 
Por que diabos insiste em não ver que quem tu foi não existe mais, morreu abandonado na esquina, embriagado pelo passado e asfixiado pelo futuro que sequer chegará. 
Como poder cara, ser assim, tão idiota?

17 de maio de 2019

O Fim da Esperança

A esperança é a última que morre, dizem. Ela insiste em respirar mesmo quando falta o ar, ofegante, durante seus últimos suspiros, mas ela é forte, resiste, sobrevive mais que a vaidade, que o orgulho, que a dignidade, que o amor próprio.

Todos eles se vão, tudo se vai, mas a esperança permanece, de alguma forma nos mantendo imbuídos em missões que a razão não consegue entender, tampouco explicar. Seguimos os comandos do coração, que mais parecem coordenadas senis de um senhor perdido ao fim da vida.

Sob esse envólucro vamos caminhando eivados do que resta dos frangalhos da esperança, acreditando que ao fim da linha, ao fim do túnel aparecerá uma luz, tudo se mostrará claramente e alguém lhe dirá olhando nos olhos: "Calma. Foi só o pesadelo".

Mas não é isso que acontece, muito pelo contrário. Ninguém aparece. Ninguém diz nada. Cada vez menos gente está por perto e o sozinho passa a ser parte de si. A estrada seguirá e você também, com ou sem medo.

Na verdade não há estrada, não há túnel, não há caminho. O que há de verdade é um poço bem fundo, escuro e estreito que a gente desce cegamente, sem perceber que a direção da saída é justamente oposta. Mas a gente teima, a gente segue, a gente acredito no não aceitar do coração.

Até o momento que a gente chega no fundo e dali não dá pra passar. Dessa forma é possível perceber, finalmente, que o caminho estava complete equivocado e não tem saída. Desse modo o instinto de sobrevivência nos obriga a olhar para o outro lado - o lado correto - e ver a luz.

Aqui estamos sozinhos, em silêncio, em um ponto profundo, úmido e apertado de nós mesmos. Estamos rodeados de ratos e demônios, que somos nós quem alimentamos. Estamos em meio ao pior que pode existir dentro de si e os vemos claramente ao nosso redor.

Nessa hora a esperança já morreu e nos damos conta de que desde o início fomos nós quem a carregamos nos ombros, o que, por óbvio, tornou essa descida muito mais penosa. Quando finalmente acalçamos o fim do poço e enxergamos claramente o que fizemos até chegar ali, nos damos conta de que precisamos voltar.

Para voltar é preciso fazer todo o caminho de volta, subir esse poço até a luz e, deixar o cadáver da esperança de criamos e carregamos morta no colo todo esse tempo. A esperança morreu. É o fim, dela. Não de mim.

É só o início agora e o caminho de volta é ainda mais difícil, pois agora estamos conscientes dos nossos erros, do nosso orgulho e de todo o caminho doloroso que teremos que percorrer para nos encontrarmos com a melhor parte de nós mesmo.

A esperança já havia morrido, mas só agora percebemos. Deixo os seus restos no fundo do poço e me livro desse peso para seguir em frente, de volta, na companhia dos ratos e dos meus próprios demônios que, agora, já não me assustam mais. Eu os conheço e não os deixo me dominar.

É o fim da esperança, pois já está morte. É o início do meu novo eu, pois já estou pronto.

10 de abril de 2019

E(u)xistencial

Eu sou ácido e existencialista, desde que me encontrei nessa filosofia
Eu sou a falta de sentido sobrevivendo da essência que carrego em mim mesmo
Eu sou e sempre fui a análise fria da verdade, a consequência a longo prazo
Eu sou o conteúdo construído bloco por bloco, sem atitudes a esmo

Eu sou o investimento de baixo risco, mas consistente
E toda vez que conheci o fracasso, partiu de quando tentei fazer diferente
Eu não me alimento de paixões e nem me contento com cegueiras das atitudes impulsivas
Eu sou a calmaria dos padrões, da observação e da tranquilidade da precisão das esquivas

Eu não sou de me perder, pois prefiro estudar muito bem o caminho antes de sair
E toda vez que pulei no abismo esperando alguém me segurar, nada aconteceu além de cair
Eu não sou de me anular ou de me entregar a qualquer coisa, eu não sou de ser uma parte do todo
Eu sou a principal e fundamental parte de mim mesmo

Eu sou o meu próprio controle, dono de mim mesmo
Eu sou o dono das minhas escolhas
Eu sou amigo das consequências e nunca tive problema com isso
E toda vez que falhei, foi quando quis fazer diferente

Eu gosto de caminhar sozinho, em silêncio e não costumo fazer muita coisa junto
E na maioria das vezes que falhei miseravelmente, foram aquelas que abri mão de mim mesmo e quis ser igual a todo mundo

5 de abril de 2019

Escritos

Minhas palavras não são ilusões, não são utopias. Escrevo o que eu sei ou acho que sei. Escrevo o que vejo e como vejo. Percebo que nem tudo que vejo, escrevo. Nem tudo que escrevo, vejo, mas sinto.

Não são realidades montadas as palavras que saem de mim e encontram o papel. São parte do que sou, por isso nunca me senti aliviado escrevendo. Não é meu escape, não é minha imaginação. São meus pensamentos e quando eu digo algo diferente disso, minto.

Se minhas palavras fossem algo de mim não seriam meus desejos, nem meus sonhos, seriam as minhas tripas. Seriam a parte mais intrínseca a mim e menos bonitas de serem mostradas. Quando escrevo não encontro a paz, porque as palavras são o resultado do meu caos. O que escrevo são as palavras de alguma coisa que urge em mim derramadas no papel, como uma folha suja e molhada de vinho tinto.

Muitas coisas passam dentro de mim e eu penso em textos, imagina em palavras, organizo em rimas, mas nem sempre escrevo. Na verdade, quase nunca. Há muito parei de escrever com regularidade, o que não demonstra a regularidade com que as coisas passam e perpassam na minha cabeça. É puro instinto.

Quando escrevo é como se eu estivesse completo. Não que as minhas palavras me completem, mas quando elas nascem são a parte que falta ser mostrada de mim. Eu sou um poeta frustrado, um escritor escondido no porão. Eu sou a parte mais nobre que alguém pode mostrar da parte mais vil que se pode carregar e quando não o faço, vou caindo... 

Caindo...

Se minhas palavras fossem uma parte de mim, definitivamente, seriam as tripas que estão sujas, cheias de restos, cheias de coisas nojentas, cheias do que nem todo mundo tem estômago para ver.

Nem todos têm olhos para enxergar. Mas quer saber? Um escritor não precisa de plateia, pois ele é um solitário existente e precisa apenas das palavras para ser o que é.

Se não faço isso, minto.

6 de março de 2019

Ainda

Ainda vejo teus olhos
por perto
como se não
tivessem se fechado

Ainda vejo teus olhos
por perto
como se tivessem
apenas
adormecido

Que teus olhares
não se percam
nos devaneios
do material

Ainda vejo teus olhos
olhando de soslaio
cabisbaixos
pensativos

Ainda vejo teus olhares
janelas da alma
olhar que acalma
o espírito de paz

Que teus olhares
percebam
que és muito mais do que pensa

Que teus olhares
entendam
que és importante

Ainda vejo teus olhos
perdidos ao vento
observando o teto
esperando
pela
paz

Ainda vejo teus olhos
com os olhos
de quem
viu uma linda alma
observando o silêncio
que acalma
a alma que fala
com os olhos
de ti

29 de janeiro de 2019

Escrita de sangue

Mais um dia, que cai a noite. Escrevo sem parar na tentativa vã de acompanhar os meus pensamentos. Escrevo e com a caneta eu marco o papel, assim como a vida marca minh'alma e minhas palavras sangram. 

São milhões de ideias, de pensamentos, de devaneios. Vou colocar tudo para fora tentando solidificar o sentido dessa loucura na minha mente.

Escrevo toda sorte de coisas tentando criar uma trilha capaz de me indicar a direção e então seguirei nela com os olhos vendados pela noite fria e silenciosa. Sozinho, minhas mãos sangram e o vermelho desse sangue se confunde com a luz da vela que clareia o papel.

Não há santo, não há anjos, não há espíritos, estou só. Estou sozinho tentando me fazer entender para mim mesmo, afinal sobre o que estamos escrevendo. Até onde quero chegar. Que papel quero interpretar?

Acordo cada vez mais cedo, deito cada vez mais tarde, durmo cada vez menos e a realidade já se confunde com um sonho, enquanto tudo passa em câmera lenta eu discuto com a morte.

Mais um dia que caio na noite e vejo todas as almas passando perdidas por ai. Acendo meu cigarro e faço o que aprendi nas poesias: Mato o tempo para ele não me matar. Mais uma dose, é claro que eu tô afim, amanhã é dia útil, mas eu sou inútil, quem liga?

Larguei meu carro na rua e estou indo embora a pé. Nesse madrugada sou a única pessoa caminhando por ai longe de casa e longe de cada, de cada um que esteve comigo. Não vejo mais ninguém por aqui. Não enxergo mais nada. Não sou ninguém. Eu já não era nada.

A fumaça esconde o rosto já sem expressão, pois tanto faz sorrir ou chorar, tanto faz seguir ou parar... Paro, puxo minha caneta e meu papel e tremendo de frio escrevo sem parar, até me machucar, até me lembrar do que não devo. Escrevo até não caber mais nada no papel ou em mim.

E minhas palavras se transformam em sangue esparramado pelas folhas amassadas. Eu sou as palavras, mas não posso ser lido. Sou completamente livre, mas preso em meus devaneios, pois posso fazer qualquer coisa enquanto não consigo sair daqui. 

Mais um dia, que cai a noite. Escrevo sem parar na tentativa vã de acompanhar os meus pensamentos. Escrevo e com a caneta eu marco o papel, assim como a vida marca minh'alma e minhas palavras sangram. Mais um caderno que acaba, mais um pensamento que me consome, mais uma palavra que sangra... e sangra... e sangra... e discuto com a morte.

27 de janeiro de 2019

Tragédia anunciada

Mariana, três anos na lama
Não se aprendeu nada
Tudo de novo outra vez
A economia que custa vidas
Custa caro
Mais uma vez
Brumadinho
Cheio de rejeitos, de restos
Estourou
Carregou consigo as casas, as famílias,
as pessoas
Quanto custa desenvolver-se e lucrar?
Quantas vidas custam e que valem trocar?
A lama veio e arrastou tudo
Levou a vida, prendeu os animais vivos
Assistimos a morte passiva das vacas, dos macacos, dos cachorros
Tudo aconteceu mais uma vez
Outra vez
De novo
E são tantos desaparecidos, tantos mortos, tantos outros
Mas que não esqueçamos que essas vítimas não são apenas números
São vidas, têm rosto
São filhos órfãos
Pais perdendo filhos
Marido perdendo o amor da vida
Esposa perdendo o amigo
São vidas, cada uma com uma historia,
Uma trajetória que agora não passam de um
Mar de lama
Arrastados
Na mesquinhez da ganância do ser humano
Quantas vidas custa tanto lucro?

RIP

26 de janeiro de 2019

O que não é mais

Difícil é ver um pedaço de si perdido no mundo, sem saber o que fazer.

Se misturando noite após noite entre os demônios que o cercam, sem sequer perceber.

Ver a pureza de um amor misturado a uma boca qualquer se esvaindo em um copo cheio.

Todos os valores reduzidos a nada, entre os gostos que mudaram em um passe de mágica.

Agora cada manhã em uma casa, em outra cama, com sabor de derrota sem roupa ou critério.

Difícil é ver que por muito pouco a luz se apagou e tudo se limita a um objeto, como qualquer outro, sem essência.

Enquanto isso a parte solta sem raiz voa sem piloto, seguindo onde o vento levar, sem ter aonde chegar.

Não se pode reconhecer absolutamente nada. Não é mais o mesmo olhar. Não se parece com nada, mas a alma insiste em enxergar.

No final das contas o pensamento não encontra sentido no que os olhos vêem ou no que o coração sente, porque para quem está perdido qualquer sorriso é norte.

23 de janeiro de 2019

Verdadeira paz

Enquanto deito minha cabeça em teu colo, o mundo parou. Enquanto a rede balança e o silêncio de uma noite comum no meio da semana reina sobre tudo.

Eu trocaria os eternos dias por essa hora, em paz. Toda aquela energia envolve nossos corpos, sem que se fale absolutamente nada e a profundidade da sua respiração dá o tom.

Daqui consigo ouvir tua respiração enquanto meu corpo navega no ritmo da tua respiração. Eu sinto teu perfume, percebo tua alma e não há mais nada que importe.

Eu trocaria todos os jogos de futebol, todos os encontros com os amigos, todas obrigações, todo o dinheiro, todas as mulheres do mundo, todos os luxos e poder por uma hora dessas, em paz.

Nesse lugar aprendi o significado de porto seguro e pela primeira vez na vida, entendi o que as pessoas falam sobre futuro. É quando é possível sentir como se já estivesse lá e, afinal, precisa de tão pouco.

Eu não vou a lugar algum, pois já troquei tudo. Troquei tudo pelo seu abraço, pelo seu cheiro, pelo seu tocar e o calor da tua boca. Eu não vou a lugar algum porque aqui é o meu lugar.

Daqui eu consigo sentir o descanso da minha própria alma, enquanto abaixo a guarda. Não há medo, não há frustração, não há interesse. Só amor.

Os rancores perdem o sentido, a vaidade foi dormir. As mágoas não fazem a menor diferença e só há paz. Só a paz interessa.

Ah, respiro fundo olhando a lua enquanto penso nesses poucos segundos que parecem uma eternidade, que eu trocaria eternidade por essa noite...

Me tiraram um pedaço da alma e respirar ficou difícil, principalmente sem a paz da quietude daquela hora, mas eu fui embora.

Daqui consigo sentir...

21 de janeiro de 2019

Pressa


Me ensine a não ter pressa em querer que tudo chegue em breve, mesmo sem ver o tempo passar. A gente anseio tanto que aconteça, tanto que chegue, tanto que seja, que acaba nem percebendo as horas se esvaírem.

E dizem para tomarmos cuidado com os nossos desejos porque eles podem se realizar; de tanto querer apressar, o tempo voa e voa para chegar e rasante ele passa sem se permitir enxergar.

No final das contas, a mesma velocidade que chega, que se conquista, que se agarra, é a mesma que se vai. Vem fácil, vai fácil. Vem rápido, já foi. Ninguém viu. Ninguém sentiu. Quem se omitiu?

Me ensine a não ter tanta pressa e saber esperar sentindo cada troca de segundo do ponteiro, sem agonia. Que a dor da espera não me encontre, pois estarei ocupado percebendo a ação do tempo em mim mesmo.

Enquanto ele passa eu mudo. Enquanto ele muda, eu passo junto. Enquanto me transformo em outro, o rio passa. Enquanto mergulho a água já é outra. Tudo muda. O tempo vai e não volta. Eu vou, mas volto.

Quantas vezes não nos pegamos errando de novo, do mesmo jeito, anos depois? Quantas vezes acreditamos piamente que mudamos, que não erraremos mais e então, no final, nos vemos em meio ao mesmo dilema?

O tempo é rei, de verdade. Ele mostra que a gente não tem o controle de nada. O tempo passa e mostra, quando finalmente conseguimos enxergar, que a mudança parte de dentro, independentemente do tempo.

Uns levam mais. Uns levam menos. Uns não mudam nunca. Outros sequer reconhecemos. E ficar parado também é uma escolha, por isso não precisa agonizar-se com a demora ou o voo do tempo, faça o que tiver que ser feito, do seu jeito, pois o tempo...  Ah, ele passará de qualquer maneira.

De qualquer maneira ele se esvairá e no final não fará diferença se foram 10 ou 50 anos, mas sim se valeu a pena passar por ele. No final das contas, o que importa é o caminho e todas as coisas que conseguimos extrair disso.

Enquanto ele passa eu mudo. Enquanto ele muda, eu passo junto. Enquanto me transformo em outro, o rio passa. Enquanto mergulho a água já é outra. Tudo muda. O tempo vai e não volta. Eu vou, mas, por vezes – e quantas vezes! eu volto.

19 de janeiro de 2019

De pai para filho

Meu filho, quando você chegar as coisas mudarão. Mudarão para adequar as energias em volta do seu ser.

Quando você chegar, meu filho, você vai ver, que vou te levar, te ensinar, te guardar, me render.

Vou te levar para dar uma volta por aí, ver o pôr do sol na beira do lago. Te levarei até as pedras das minhas histórias e te banharei no mar.

Eu vou levar você até o mundo, mas não sentirás medo, porque eu estarei lá para tudo.

Quando você chegar, meu filho, vou te levar para jogar video game, se ainda existir. Vamos jogar bola no final da tarde sem você precisar pedir e mesmo com o trabalho apertado, arrumarei tempo para te ver sorrir.

Eu vou te levar para a escola e você aprenderá a viver sozinho, mas sempre sabendo que estarei contigo, que estarei lá para tudo.

Eu vou te mostrar meus filmes favoritos e você assistirá comigo. Vou te contar sobre a história das obras e sobre os artistas, sobre os atores, sobre as visitas.

Você vai crescer me ouvindo e ouvindo minhas bandas preferidas, para saber do que eu gosto, do que aprecio e você fará sim, suas próprias escolhas.

Quando você chegar eu vou te levar pela vida, te levarei na primeira festa, te buscarei no final, até você ter vergonha de mim, mas tudo bem, será normal.

Vou te ensinar sobre filosofia e sobre as ideias que permeiam minha mente, terei alguém, uma parte de mim para conversar sobre mim, sobre ti, sobre o mundo, sobre a gente.

Vamos nos perder pelo mundo, conhecendo de tudo. Vamos perder a hora e encher essa vida vazia de conteúdo e você saberá sim, que eu sempre estarei lá para tudo.

Eu vou te ensinar a fazer a barba quando a hora chegar e acharei engraçado quando, assim como eu, você  desistir de tirar. Assistirei suas escolhas, feliz a me orgulhar.

Quando você chegar eu vou tirar todas as dúvidas que possam lhe acertar e aprenderei mais ainda só com o seu olhar e ao final de tudo, você terá orgulho de mim.

Eu vou viajar e não serei apenas uma foto na estante, eu serei você. Quando se olhar no reflexo do espelho, terá orgulho de ser o que se tornou e lembrará de mim a cada dia, porque você será uma parte de mim nesse mundo.

E eu não poderia morrer mais feliz, sabendo que você cresceu e que eu criarei morada no seu coração, afinal, eu sempre estarei aqui para tudo.

16 de janeiro de 2019

Paciência

Paciência que é difícil alcançar. Saber esperar é uma arte, pois assistir o tempo passar sem perspectiva de chegada exige muito, exige demais. 

Saber ver as horas, os dias mudando e não se deixar cobrir pela sensação de que estamos no mesmo lugar, no mesmo barco, desgasta muito, desgasta demais.

Como diziam os orientais - me pego pensando - quem sofre antecipadamente, sofre em dobro. Se não chegou, afinal, não é a hora ainda. Aonde estamos além de perdidos dentro de nós mesmos? 

Saber como vão as coisas são distrações corriqueiras que disfarçam a cólera do tempo que não passa. Da hora que não chega. 

Paciência, meu Deus, é difícil de alcançar. Ver todos aqueles rostos passando, ver o relógio se repetindo, enquanto me repito tanto quanto aqueles ponteiros britânicos.

Saber ver as escoras que colocamos em nossos calcanhares, aguardando que o desejado desejo se concretize nas vidas de quem trabalha e investe em alguma coisa relevante exige muito, exige demais.

Mas, no final das contas não adianta nada gritar, tampouco espernear, pois quanto mais o tempo passa, menos demora a passar. Quanto mais se espera, menos se há de esperar.

Nos deixamos levar pela agonia e limite que são nossos anseios medidos apenas até onde nosso braço chega e apenas e tão somente até onde alcança o nosso olhar, mas, em verdade nos foi dito, que há muito mais entre o céu e a terra que possa supor nossa vã filosofia.

Paciência é saber que há a hora certa para tudo e que essa hora, vez ou outra, chega para todo mundo. É saber que não há regras nesse jogo e que o mundo pode sim, ser imundo. Então constantemente nos pegaremos sendo e fazendo aquilo que julgamos terrível, sem perceber que as pessoas são todas muito menos do que imaginam e mais do que enxergam.

Paciência é saber colocar nas mãos de quem sabe o que faz, os caminhos das estradas, as regras do jogo, os desejos do coração, os anseios da alma e as inclinações do espírito.

Paciência é ser o que se é, da melhor forma possível e estar bem com isso. No final das contas, consiste em aprender a acordar dia após dia com o objetivo na mente, o foco no corpo e esperança no coração de que tudo que for executado será objeto de validação.

Afinal, o tempo é relativo, mas a paciência não. Ela é absoluta e, absolutamente necessária para manter a sanidade que conquistamos quase sempre cortejando a insanidade. Paciência, sua hora vai chegar e esteja ciente de que pode demorar.

Paciência que é difícil alcançar. Saber esperar é uma arte, pois assistir o tempo passar sem perspectiva de chegada exige muito, exige demais. 

Paciência é para quem sabe, de verdade, esperar...

14 de janeiro de 2019

Palavras próprias

Não sei por que escrevo. Nunca soube. Enquanto me pergunto a razão coloco no papel tudo que me vem na mente.

Escrevo o que vivo, o que sinto, o que vejo. Escrevo sobre mim, sobre as pessoas ao meu redor, sobre sentimentos, sentidos. Escrevo sobre o que não vejo e sobre o que nunca vi. Escrevo sobre conhecidos, sobre amigos, sobre alguma história que chegou até mim.

Por vezes acordo com uma história na cabeça, escrevo sobre os sonhos que não lembro direito e tento encontrar uma narrativa a partir dos insights.

Eu não me alivio escrevendo. Não é meu escape. Não é minha fuga. Não é minha arte. A minha escrita sou eu. Eu próprio. Eu escrevo o que sou, as linhas são reflexo de mim. Eu sou as palavras que marcam o papel.

Na verdade, tudo isso é uma tradução livre do que eu sou, do que sinto, do que anseio e, principalmente, do que não entendo.

Escrevo sobre o que vejo, sobre o que não lembro mais. Escrevo sobre o que passou e sobre o que teria sido. Eu escrevo enquanto caço dentro de mim o sentido para as minhas próprias palavras.

Afinal, que sentido faço eu? Que tanto faço enquanto traduzo friamente o que sou em um ritmo completamente fora de cadência.

Definitivamente eu não sei por que escrevo, mas sei que escrever faz parte de mim. As palavras são parte do que sou, talvez a melhor parte.

Enquanto o silêncio impera pelos dias, onde o cotidiano enche a pouca paciência que cultivo, as palavras ecoam meus anseios. Quais respostas terei das perguntas que formulo em cada verso?

Eu não me lembro quando comecei a escrever, só me recordo de escrever. Me recordo de ir e voltar, de sufocar minhas palavras como quem não quer revelar um segredo.

Não há nada mais verdadeiro do que as palavras, embora a maioria das pessoas tenha desvirtuado seu significado, pois a palavra de um homem é o seu maior tesouro, seu maior legado.

Eu não me salvo escrevendo, eu não me encontro, eu não me entorpeço. Eu não sei por que escrevo, mas sei que pelas palavras serem a melhor parte de mim, eu deveria cuidá-las melhor.

Por vezes não há razão para escrever, como agora. Por vezes não há assunto. Por vezes escrever me parece apenas um lamento e eu mesmo odeio minhas linhas soltas no papel. Outras vezes escrevo e leio algo que parece ser um recado de mim para mim mesmo.

No final das contas eu não tenho resposta alguma e as minhas palavras não concluem absolutamente nada, pois não sei sequer a razão pela qual escrevo.

No entanto, escrever me faz sentir vivo. Ter uma razão para escrever me deixa feliz, mas as razões se esvaem como areia entre as mãos e o sentido desaparece.

Definitivamente eu não sei por que escrevo, mas sei que escrever faz parte de mim. As palavras são parte do que sou, talvez a melhor parte.