17 de maio de 2019

O Fim da Esperança

A esperança é a última que morre, dizem. Ela insiste em respirar mesmo quando falta o ar, ofegante, durante seus últimos suspiros, mas ela é forte, resiste, sobrevive mais que a vaidade, que o orgulho, que a dignidade, que o amor próprio.

Todos eles se vão, tudo se vai, mas a esperança permanece, de alguma forma nos mantendo imbuídos em missões que a razão não consegue entender, tampouco explicar. Seguimos os comandos do coração, que mais parecem coordenadas senis de um senhor perdido ao fim da vida.

Sob esse envólucro vamos caminhando eivados do que resta dos frangalhos da esperança, acreditando que ao fim da linha, ao fim do túnel aparecerá uma luz, tudo se mostrará claramente e alguém lhe dirá olhando nos olhos: "Calma. Foi só o pesadelo".

Mas não é isso que acontece, muito pelo contrário. Ninguém aparece. Ninguém diz nada. Cada vez menos gente está por perto e o sozinho passa a ser parte de si. A estrada seguirá e você também, com ou sem medo.

Na verdade não há estrada, não há túnel, não há caminho. O que há de verdade é um poço bem fundo, escuro e estreito que a gente desce cegamente, sem perceber que a direção da saída é justamente oposta. Mas a gente teima, a gente segue, a gente acredito no não aceitar do coração.

Até o momento que a gente chega no fundo e dali não dá pra passar. Dessa forma é possível perceber, finalmente, que o caminho estava complete equivocado e não tem saída. Desse modo o instinto de sobrevivência nos obriga a olhar para o outro lado - o lado correto - e ver a luz.

Aqui estamos sozinhos, em silêncio, em um ponto profundo, úmido e apertado de nós mesmos. Estamos rodeados de ratos e demônios, que somos nós quem alimentamos. Estamos em meio ao pior que pode existir dentro de si e os vemos claramente ao nosso redor.

Nessa hora a esperança já morreu e nos damos conta de que desde o início fomos nós quem a carregamos nos ombros, o que, por óbvio, tornou essa descida muito mais penosa. Quando finalmente acalçamos o fim do poço e enxergamos claramente o que fizemos até chegar ali, nos damos conta de que precisamos voltar.

Para voltar é preciso fazer todo o caminho de volta, subir esse poço até a luz e, deixar o cadáver da esperança de criamos e carregamos morta no colo todo esse tempo. A esperança morreu. É o fim, dela. Não de mim.

É só o início agora e o caminho de volta é ainda mais difícil, pois agora estamos conscientes dos nossos erros, do nosso orgulho e de todo o caminho doloroso que teremos que percorrer para nos encontrarmos com a melhor parte de nós mesmo.

A esperança já havia morrido, mas só agora percebemos. Deixo os seus restos no fundo do poço e me livro desse peso para seguir em frente, de volta, na companhia dos ratos e dos meus próprios demônios que, agora, já não me assustam mais. Eu os conheço e não os deixo me dominar.

É o fim da esperança, pois já está morte. É o início do meu novo eu, pois já estou pronto.

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