Mais um dia, que cai a noite. Escrevo sem parar na tentativa vã de acompanhar os meus pensamentos. Escrevo e com a caneta eu marco o papel, assim como a vida marca minh'alma e minhas palavras sangram.
São milhões de ideias, de pensamentos, de devaneios. Vou colocar tudo para fora tentando solidificar o sentido dessa loucura na minha mente.
Escrevo toda sorte de coisas tentando criar uma trilha capaz de me indicar a direção e então seguirei nela com os olhos vendados pela noite fria e silenciosa. Sozinho, minhas mãos sangram e o vermelho desse sangue se confunde com a luz da vela que clareia o papel.
Não há santo, não há anjos, não há espíritos, estou só. Estou sozinho tentando me fazer entender para mim mesmo, afinal sobre o que estamos escrevendo. Até onde quero chegar. Que papel quero interpretar?
Acordo cada vez mais cedo, deito cada vez mais tarde, durmo cada vez menos e a realidade já se confunde com um sonho, enquanto tudo passa em câmera lenta eu discuto com a morte.
Mais um dia que caio na noite e vejo todas as almas passando perdidas por ai. Acendo meu cigarro e faço o que aprendi nas poesias: Mato o tempo para ele não me matar. Mais uma dose, é claro que eu tô afim, amanhã é dia útil, mas eu sou inútil, quem liga?
Larguei meu carro na rua e estou indo embora a pé. Nesse madrugada sou a única pessoa caminhando por ai longe de casa e longe de cada, de cada um que esteve comigo. Não vejo mais ninguém por aqui. Não enxergo mais nada. Não sou ninguém. Eu já não era nada.
A fumaça esconde o rosto já sem expressão, pois tanto faz sorrir ou chorar, tanto faz seguir ou parar... Paro, puxo minha caneta e meu papel e tremendo de frio escrevo sem parar, até me machucar, até me lembrar do que não devo. Escrevo até não caber mais nada no papel ou em mim.
E minhas palavras se transformam em sangue esparramado pelas folhas amassadas. Eu sou as palavras, mas não posso ser lido. Sou completamente livre, mas preso em meus devaneios, pois posso fazer qualquer coisa enquanto não consigo sair daqui.
Mais um dia, que cai a noite. Escrevo sem parar na tentativa vã de acompanhar os meus pensamentos. Escrevo e com a caneta eu marco o papel, assim como a vida marca minh'alma e minhas palavras sangram. Mais um caderno que acaba, mais um pensamento que me consome, mais uma palavra que sangra... e sangra... e sangra... e discuto com a morte.
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