22 de outubro de 2018

Passivo

Estou passivo. Não sou flecha. 
Sou alvo.
Estou passivo. Não sou navalha. 
Sou carne.
Sangro como se não houvesse amanhã, sem parar, até desfalecer.
O sono vem. A noite cai. O sono vai. O dia vem. O sono continua. Estou passivo.
Vejo o dia passar. 
Assisti a tudo que se passa na minha frente.
Não há perfume. Não há sabor. Não há cheiro. Não há satisfação em mais nada.
Eu estou passivo. 
Não sou o martelo. Sou o prego. Sou o parafuso, rodando, rodando, rodando...
Sem parar.
Eu estou passivo.
Eu fui passado para trás.
Eu estou atrás do que passou.
Eu era a carne e não virei navalha.
Se eu deixar de ser passivo, será perigoso, porque possa ser que, afinal, eu acabe de uma vez com tudo isso.
Mas não hoje, pois estou pacífico.

Nenhum comentário: