31 de outubro de 2018

Olhos míopes

Meus olhos são míopes, mas meu coração que está cego
Sempre tive a vista ruim, desde moleque, mas não o olhar
No entanto, agora meu coração inventou de não enxergar

Meus olhos são míopes, mas o coração que dá as topadas
Tropeça nas pedras, confunde formas
Ele dói e arde como se tivessem jogado areia nele, e estou falando do coração

As manhãs com o nó na garganta são mais comuns do que acordar com sono
Achei que o tempo rapidamente curaria, ledo engano
Sofro por ter algumas palavras, mas sem a quem as dirigir. Porque meus olhos são míopes, meu coração não enxerga e o meu amor está surdo e não ouve mais as minhas juras

Agora estou aqui. Sem enxergar, sem entender, procurando para onde ir
Porque meus olhos são míopes, mas meu coração que não vê mais nada.

29 de outubro de 2018

Indo embora

Meus amigos estão indo embora
com eles as lembranças e todo aquele ócio que compartilhamos.

Meu tempo está indo embora, fugás, sorrateiro...
O tempo traz o que não fica e leva o que achei que estava aqui, comigo.

O que sou é nada, um oco sobrevivendo ao tempo que vai embora

Quando penso que não vou mais fundo, a realidade me apresenta um novo caminho, mais profundo.

Quando penso que já vi de tudo,
um novo conhecimento acende como um fósforo no deserto
Não ilumina quase nada
Mas deixa claro o tamanho da escuridão

Já não sei pelo que vale esticar os braços
porque no final meus amigos vão embora
e o tempo se esvai

28 de outubro de 2018

Olhos baixos

Onde foram parar esses seus olhos baixos? 
Será que se fecham ao beijar outros lábios?

E o sorriso que fazia o tempo parar
Será que confunde o relógio de outras pessoas?


Onde foi parar tua respiração pesada pesada pela manhã, enquanto faltava ar 
Será que lhe falta o ar por outra presença?

Procuro teus olhos baixos em todos os silêncios que estou
Por trás da fumaça anseio encontrar teu rosto, teu sorriso, ao me mostrar que chegou

Onde estão seus olhos baixos 
Será que jamais chegarei em casa e te encontrarei entediada no sofá?
Será que não terei tuas mãos junto às minhas ao dormir?

O mundo ao teu lado parece tão pequeno 
Porque eu posso tocar o céu, posso tocar o sol, posso sentir o azul de um dia ensolarado
Mas sem teus olhos baixos me sinto um grão de areia e o mundo me assusta
São tantas pessoas, mas não vejo ninguém 
São tantos prazeres, mas continuo com sede 

Embora o tempo passe, nada dentro de mim passa 
E fico me perguntando afinal, onde estão aqueles olhos baixos?

Será que se fecham ao beijar outros lábios, enquanto eu espero teu sorriso aparecer entre a fumaça?

23 de outubro de 2018

É triste.

É triste.
As pessoas se perdem e no meio do caminho acabam sendo o que nunca gostaram de ser. Se tornam o que tanto criticaram.
Mas que absurdo, tornar-se o espelho daquilo que era apenas repúdio.
É triste.
Ver que as pessoas acabam escolhendo caminhos estranhos, com pessoas estranhas, em uma busca desenfreada por alguma coisa que falta dentro de si.
É triste.
Como é triste não reconhecer mais a luz, porque ela fora apagada pela nossa ansiedade tão fugás.
É triste, saber que nada valeu a pena e já se perdeu em becos e vielas sujos e baixos.
É triste.
Se perguntar em determinado momento: "Mas que diabos estou fazendo aqui?"
Pois se perder no mundo é perigoso, porque tudo tem o sabor doce. Tudo tem colorido e encanto. Tudo parece divertido, mas quando acaba o peso repousa em nossas costas.
Todas aquelas energias. Todas aquelas almas perdidas. Todas aquelas pessoas completamente sem rumo, cada uma a seu modo e por um motivo.
É triste. 
Porque tentam se agarrar em alguma coisa sólida, que faça sentido e que não permita pensar.
Pensar nos leva a clareza, que nos leva a luz e que muitas das vezes nos levam a conclusões que não queremos chegar.
É triste.
Porque na maioria das vezes saímos da trilha por querer e nos perdemos no mundo, pelo puro medo de não chegar aonde sabemos que seria o final da estrada.

22 de outubro de 2018

Passivo

Estou passivo. Não sou flecha. 
Sou alvo.
Estou passivo. Não sou navalha. 
Sou carne.
Sangro como se não houvesse amanhã, sem parar, até desfalecer.
O sono vem. A noite cai. O sono vai. O dia vem. O sono continua. Estou passivo.
Vejo o dia passar. 
Assisti a tudo que se passa na minha frente.
Não há perfume. Não há sabor. Não há cheiro. Não há satisfação em mais nada.
Eu estou passivo. 
Não sou o martelo. Sou o prego. Sou o parafuso, rodando, rodando, rodando...
Sem parar.
Eu estou passivo.
Eu fui passado para trás.
Eu estou atrás do que passou.
Eu era a carne e não virei navalha.
Se eu deixar de ser passivo, será perigoso, porque possa ser que, afinal, eu acabe de uma vez com tudo isso.
Mas não hoje, pois estou pacífico.

15 de outubro de 2018

Meu apego

Por vezes é conveniente manter o sofrimento, pois é a desculpa pronta para as frustrações do dia a dia. Já que estou triste, que seja pelo mesmo motivo. Já que estou frustrado, que seja por algo que eu não possa alcançar, mas que não depende de mim.

"A culpa é dos outros"

"A culpa é de quem?"

"Há culpa?"

É conveniente, afinal, ser a vítima, sofrível pelas circunstâncias do destino. Não nos enxergamos e não vemos nossos defeitos, que, iguais nos outros são inaceitáveis!

Ora, que culpa tenho eu de ser um sofredor?

A verdade é que nos apegamos também ao fundo do poço, porque lá a zona é de conforme. O que pode acontecer de pior? Para que me arriscar a ser feliz?

Na verdade, temos medo da luz, temos medo do sucesso, temos medo de dar certo, afinal! Pois por vezes e não poucas, é mais cômodo manter o sofrimento, viver na mesma toada, na mesma nota, na linearidade da tristeza que nos assola.

A culpa não é minha. A culpa é da vida. A culpa é dela. A culpa é da circunstância. Eu estava certo. Eu estava errado. A culpa é dos outros. A culpa é de quem? Há culpa?

O fato é que somos apegados até ao nosso estado mais podre, ao passo que fazemos da nossa pior versão um porto seguro, pois queremos segurança.

E foda-se o sucesso, foda-se a plenitude. Eu não quero dar certo. Eu quero culpá-los e me deixem aqui com essa tristeza, pois já fizemos uma boa amizade.

14 de outubro de 2018

Nada

Hoje acordei, acordei na hora e não havia nada. Não, não havia mais nada.
Não havia lágrima, não havia saudade, não havia sorriso ou vontade.
Hoje acordei e não havia dor, temor, amor...
Não havia perspectiva, esperança ou indignação.

Hoje acordei e o mundo estava cinza, como sempre foi.
Não havia sonhos, ansiedade ou arrependimentos.
Hoje, quando acordei só havia silêncio e o mais profundo nada
Não havia mudança, poder ou rancor.

Hoje quando acordei eram apenas alguns pensamentos sortidos, sem sentido e incólumes.
Não havia pretenção, ação ou desejo.
Hoje quando eu acordei era só eu nessa casa enorme só para mim, fazendo força para levantar meu corpo pesado.
Não havia motivo para viver, motivo para esquecer ou se render.

Hoje quando eu acordei ficou claro que não vale a pena ser, pois não há pelo que existir...
Ora, somos um mero detalhe e hoje, quando acordei, não era nada.

Verdadeira Solidão

A verdadeira solidão é amar, mas amar sozinho. Amar o que não existe. Amar o que não faz parte da realidade.

A verdadeira solidão é o espaço imenso que sobra na cama todas as noites. É a falta das mãos dadas e dos abraços durante a madrugada. A sofrível solidão é acordar e não ouvir a respiração de um hipnótico sono e pensar que poderia ficar ali olhando pela eternidade.

Na verdadeira solidão falta gosto, falta tempero, falta sorriso. Todos são exatamente iguais, previsíveis. As mulheres são como limonadas prontas, sem qualquer atrativo diferente. São como junk food, são como...

A verdadeira solidão está no imenso vazio que habita dentro de nós quando as palavras não alcançam mais sentimentos, quando o silêncio é o momento mais confortável do dia.

Passamos a viver no automático, amando sozinho. Passar a amar no automático, vivendo sozinho. Acordar bem cedo, antes do mundo para começar a fazer alguma coisa que faça a diferença. Trabalhamos como nunca. Vivemos como ninguém.

A verdadeira solidão é perceber que todo o tempo não teve aquela intensidade para mais ninguém, além de você mesmo. É perceber que o mundo continuava incólume aos seus mais profundos desejos, embora alguém parecesse estar contigo.

A verdadeira solidão é sentir falta do que sequer se lembra da sua existência. É se sentir triste o tempo todo, mesmo no calor intenso. O sol já não ilumina, ele queima. Suamos. Até que o dia chuvoso resolve aparecer e entre as nuvens algo se parece mais com o que carregamos dentro de nós.

A verdadeira solidão é amar, mas amar sozinho. Amar o que não existe. Amar o que não faz parte da realidade.

Afinal, quem se importa além de nós mesmo? Já que a verdade solidão é amar sozinho e não conseguir se livrar do que é inviável.

9 de outubro de 2018

Vou

Vou-me embora daqui, para outro lugar. Vou para um lugar calmo e tranquilo que me equilibre, algum lugar, qualquer um deles, perto do mar.

Quero acordar de manhã com a luz do sol e o barulho das ondas perto da janela e não ter que olhar relógio, despertador, reunião ou compromissos sem sentido.

Vou-me embora daqui, mas não vou sozinho - quisera - vou eu e a tristeza, que se tornou uma companheira inseparável. Já não consigo me livrar dela.

Vamos morar juntos nesse casebre na beira do mar, escondidos pela mata e pelas árvores, finalmente não teremos a quem chamar.

Quando recebermos visitas, muito de vez enquanto, será para almoçar no domingo, convidaremos nossos amigos silêncio e vazio para dividir a mesa. Então, nós quatro, sem sorrisos, palavras ou sentido desfrutaremos do tempo e o veremos passar.

Ninguém mais virá nos visitar, acordaremos e nos alimentaremos e sairemos por aí, a caminhar... Vez ou outro me perderei dela, da tristeza, mas logo vai passar. Ela é boa em me encontrar.

Vez ou outra, quando ela for pescar, vou chamar o meu amigo vazio para me fazer companhia e pensar até que o pensamento trave e não encontre saída. Folhearemos alguns livros ou até mesmo alguns arquivos com as fotos de outro tempo, nos lembraremos do nosso amigo sorriso, que nos deixou.

Vou-me embora daqui, para outro lugar. Vou para um lugar calmo, sozinho, mas a tristeza vai me encontrar por lá.