30 de abril de 2016

Meu orgulho

Meu orgulho
Se
Desfaz
em
Saudade
e
Vontade de te ver

Meu orgulho
Miserável
Me torna escravo
Do que não posso ter

Meu orgulho
Tem calado
a vontade
de chamar sua atenção
quando passa e não dá pra reconhecer

Meu orgulho
Fez de mim o que sou
Um resto
Frangalho do que passou

Sou isso agora
Eu
Meu orgulho
e o que é possível se manter
Por fora

O que é uma pena
Viver de orgulho
e
amanhã não poder mais
quebrá-lo
porque vamos rápido demais
sem ter
tempo de falar
saudade.

24 de abril de 2016

Decisão

Hoje me livrei definitivamente de todos os meus demônios. Tudo aquilo que me atrasava o caminho. Hoje me livrei do que me livrava e do que me satisfazia com frequência. Hoje me livrei daquilo que me deixava desinibido e completamente valente. Hoje me livrei definitivamente de todos os meus demônios.

Hoje é o dia que me livrei, mas sem empolgação. Não há esperança exacerbada ou qualquer tipo de motivação para que isso tenha acontecido justo agora. Hoje eu simplesmente me livrei. 

As coisas são mais bem feitas quando planejadas e trabalhadas com maestria do que quando são apoiadas em planos mirabolantes e intenções das mais diversas. Ninguém faz nada com boas intenções. O inferno está cheio delas, não é isso que dizem os mais velhos?

Hoje me livrei daquilo que me acelerava e daquilo que me aquietava. Hoje me livrei de toda e qualquer coisa que viesse a amenizar ou tornar o caminho nebuloso, tudo que aquilo que aliviasse a realidade sob os nossos ombros.

Hoje me livrei definitivamente de todos os meus demônios, mas eles continuam por perto. Não é uma liberdade pautada em me esconder ou evitar certos encontros, é a liberdade de estar no controle de toda e qualquer coisa que eu não queira mais. Simplesmente não quero mais. Eu quero mais. Mais que isso.

Estamos constantemente presos ao que nos faz bem, escravos dos nossos prazeres e fortemente influenciados pelas boas sensações. Quero bons fluidos. Quero bons caminhos, de paz. 

Hoje me livrei da alegria exagerada e da empolgação desmedida. Hoje me livrei de tudo aquilo que me prejudicava. Hoje eu sou o mesmo com uma atitude diferente porque eu quis assim. Eu QUERO assim e nada mais se tornará pendência por pura incompetência ou procrastinação.

Hoje é o dia que constatei que me livrei, pois já há tempos venho me afastando de situações que não colaboram para o bem estar de minh'alma. Hoje sou, muito mais do que já fui, fã da lua, da noite e das estrelas. O silêncio é o meu grande amigo e maior aliado nos momentos de felicidade e tristeza. 

Hoje me livrei de tudo aquilo que não vale a pena e me farei melhor na companhia de todas as coisas que admiro e que me trarão boas recompensas, nada de grande complexidade, mas de valor imensurável.

Hoje me livrei de uma vez por todas de todos os meus demônios, principalmente de mim mesmo que costumo ser o maior e mais perigoso deles. 

Hoje, eu, definitvamente, me livrei.

Vela

O céu estava estrelado naquela noite, não havia indícios de chuva. Jorge havia ido acompanhar seu amigo até aquele lugar por saber que se tratava de algo mais complexo do que se imaginava. Os dois saíram do metrô por volta das 20h. Jorge carregava sua mochila nas costas e um olhar de curiosidade e receio. 

Eles passaram por fora de um belo edifício no centro da cidade, bem iluminado e bem frequentado. Logo ali ao lado havia uma área verde perdida no meio da cidade rodeada de pistas e viadutos onde os motoristas passavam todos os dias, mas dificilmente alguém reparava.

Os dois desciam por um estrada de terra entre a mata quase virgem e o orvalho caia sob suas cabeças. O silêncio era pleno, embora tudo aquilo estivesse rodeado de cidade. 
Mais abaixo Jorge conseguiu avistar um casebre de madeira pintada de branco e uma tímida varanda.

Foram recebidos por um rapaz jovem, bem magro, alto, de pele parda e sorriso fácil. Sem se identificar ele os tratou como esperados convidados e os convidou a entrar.

Chegando na sala, havia um sofá velho e algumas cadeiras ocupadas por vários garotos, com aquele mesmo olhar de apreensão. Pareciam estar esperando alguma coisa. 
Seu amigo deu a volta por trás da casa e sumiu.

Jorge continuou ali, conversou um pouco com os rapazes, todos jovens, não passavam de vinte e poucos anos. Em seguido chegou uma mulher de meia idade que não aparentava se preocupar muito com a vaidade. De cabelos loiros e encaracolados como de um anjo, ela usava roupas velhas e chinelo. Ao cumprimentar Jorge disse que ele seria recebido como convidado aquela noite e que alguém gostaria de conversar com ele.

Algum tempo passou e mandaram chamá-lo: ele foi levado até uma sala completamente sombria, iluminada apenas com algumas velas e poucos móveis. Ao fundo havia uma senhora, aquela mesma que o encontrara mais cedo, mas ela estava diferente. Não obstante a pouca idade, falava como um velho senhor.

- Boa noite, meu filho.
- Boa noite. 
- Qual é o seu problema?
- Não sei. Alguns.
- Seja mais específico, para que eu possa te ajudar.
- Na verdade, ultimamente tenho estado no epicentro de algumas situações estranhas.
- Por exemplo?
- Confusões, perseguições... Sinto que atraio essas coisas.
- Hm. Fale mais a respeito...
- Eu não crio problemas com ninguém, mas estou sempre envolvido em alguma coisa.
- Quer dizer que as pessoas chegam até você através de problemas?
- Isso. Ninguém me procura pra saber se estou vivo, mas sou a primeira opção quando necessitam. Por vezes, pessoas nem tão próximas assim. 
- Meu filho, você é vela. Sabe o que isso significa?
- Não.

Então a mulher apontou para uma vela que havia perto dos dois, colocou a palma da mão em cima da chama por longos segundos e disse:

- Coloque sua mão perto do fogo até não aguentar mais.

Hesitando um pouco, o garoto colocou a mão e a sentiu arder, logo afastou. Então a mulher indagou:

- Sentiu?
- Sim. Minha mão quase queima.

- É. Dificilmente alguém brinca com a chama de uma vela. Ela é forte, atrai os olhares e as pessoas, principalmente as que necessitam de luz. Mas a chama é forte e não deixa que ninguém se aproxime tanto assim, pode queimar.

O garoto continuava sem entender a metáfora. A mulher continuou:

- Você é uma vela, rapaz. Você será uma das primeiras pessoas que irão procurar quando precisarem de ajuda. Você certamente ajudará e se apagará até a próxima vez que alguém precisar e enxergar a luz em você. Pessoas assim são responsáveis por colocar as coisas em ordem, por harmonizar os conflitos. Mas é preciso tomar um cuidado.
- Qual?
- Se não souber distribuir bem a luz, irá se esvair em si mesma. Como uma vela faz, até acabar.

23 de abril de 2016

Despedida

Essa noite eu tive um sonho. Um sonho esquisito. Sonhei que ia embora e ninguém se perturbava com isso. Sonhei que ia embora e ninguém se importava comigo.

Essa noite eu tive um sonho e nele me propunham ir embora de todo esse passado e deixar todas as coisas pra trás. Sonhei que ia embora e pegava a estrada, sem ter certeza pra onde e sem solidez de nada.

Essa noite eu tive um sonho e nesse sonho eu chegava em algum lugar, depois de ir embora eu estava completamente sozinho, mas me sentia muito bem. Nesse sonho eu chegava em um lugar alto e conseguia ver o mar enquanto o sol refletia nas ondas os raios mais intensos.

Essa noite eu tive um sonho e enquanto eu sonhava não me sentia incomodado, sequer com medo. Era sensação de ter aproveitado bem as oportunidades e as belas lições que a vida colocou. Nesse sonho eu ia embora, sem malas, com a roupa do corpo, mas carregava uma bagagem cheia de história. 

Essa noite, quando sonhei e me situei que não estava mais por aqui eu fiz uma relação, no próprio sonho, das coisas e pessoas que me fariam mais diferença de longe e de perto.

Essa noite eu tive um sonho e diante de toda aquela confusão de histórias que vivemos sem contexto eu acordei com a plena certeza de que estou no caminho certo.

Essa noite eu tive um sonho que não era verdade, mas me fez refletir sobre as coisas, os caminhos, companhias e a realidade. 

Essa noite eu tive um sonho...

17 de abril de 2016

Saudoso

Não há como explicar a falta que faz não existir mais nada. É o resto de uma memória vaga, mas deveras presente. Como se fosse o resultado de uma equação minuciosamente elaborada que necessita de uma teoria para ser entendida.

É o que sobrou de uma existência que já foi convicção e agora não passa de uma dúvida, uma experiência de mal gosto. Apesar de não haver mais dor em si, há vazio, um gigantesco vazio.

Disseram que o senhor veio nos visitar, mas não pude ver. Me disseram que queria me dizer algo, mas não entendi. Me disseram que estava por perto, mas meus olhos em descalabro não foram capaz de enxergar.

Cá estamos em um caos silencioso, entre balas que não podemos escutar quaisquer ruídos, embora tenhamos a completa capacidade de enxergar sua direção e as trajetórias que tomam.

De certa maneira, um homem brilhante e gigantesco, por outro lado um menino perdido entre as próprias convicções.

Disseram que o senhor esteve por aqui e veio nos visitar, mas não pude ver. Me disseram que queria dizer algo a mim, mas sequer consegui entender. Apesar de estar por perto, mas meu raso olhar não foi capaz de enxergar.

Sinto sua falta. Que a falta que sinto seja combustível para me tornar o que te orgulharia, meu velho.

14 de abril de 2016

Poema sem tema

Isolado por inteiro
Sem distração
Senhor de mim mesmo
Meu futuro nas mãos
Sem passatempos baratos
Sem alienação
Dono da minha vida
Cada instante tem razão
E aí eu me pergunto:
Se é tão bom assim
por que não?
Venha, mas não peça uma explicação
Foge de qualquer critério dessa tua tenra visão
Ser sozinho é um grito interno
Que alivia o coração
Ora, veja
Noite de estranha impressão
Hoje é como se estivesse
Visitando onde estarei
De um jeito torto a um passo
do universo que planejei
É como se faltasse o fôlego para chegar
Mas perceber que já alcancei
Ser dono de si mesmo
Torna legítimo tudo que doei
Faz suave o peso de ter a condução do próprio destino
E é melhor do que pensei

11 de abril de 2016

Eutanásia

Calmo, sereno, frio, sentado sob o cadáver de uma personalidade que não existe mais. Galgado pelos degraus da experiência e sofrimento percebe que não há mais nada a dominar, se não a própria mente.

Em trânsito, pequeno, se convence da astúcia da malícia intrínseca às ações, tentando sempre se esvair em multidões de outros seres iguais que tentam ser um pouco assim, diferentes.

É, parece que mudou e não apenas para si, pois aquele si mesmo se acabou e morreu um pouco a cada dia e a cada nota que se tocou, assassinaram a inocência.

Calmo, frio e sereno, melhor tomar cuidado e não engolir o próprio veneno, pois daqueles sem experiência em manipular emanam os piores acidentes.

Um perfume, um perfume tão bom que a mente não deixa esquecer e acaba surgindo no meio da brisa quando em volta só há concreto, em meios aos prédios, caminhando sozinho e não que como dizer que alguém carregava o mesmo aroma porque não havia absolutamente ninguém por ali.

Veja só, de toda essa miscelânea brotou tamanha certeza conformada em uma cega convicção carregada por anos nos ombros sem qualquer reclamação. Era o destino e o caos de todo o seu abrigo, pois conseguia descer e subir daquele morro quantas vezes fosse preciso e jamais esquecera o caminho de volta.

Os olhos viram e perceberam a presença do demônio da fraqueza em que o brilho dos olhos agora era algo turvo e baixo, diante de um sorriso clássico e sarcástico. A mente se perdeu de tanta exposição enquanto o corpo se rebatia na terra pelo tamanho desespero. De quem já havia assistido coisa igual era um pouco de desprezo e dos outros, novatos, desespero.

Tapa na cara e uma luta ferrenha entre a sanidade e loucura tentando trazer de volta um espírito perdido sem ter total discernimento de onde poderia parar. Para o coração, morre em solidão, escondido no mato de uma cachoeira, ali era tão baixo e ninguém percebeu.

Agora se foi ao perceber que afastou e já não há mais proximidade ou segurança e sequer querer de passar por cuidados de outra coisa que não valha a pena escolher. Estar perto. Estar por perto é privilégio de quem tem bem querer, pra valer, fazer o que seja o que for de acontecer.

Pra que entender? Entender: Pra quê. Se vendo o caminho há uma curva e depois encruzilhadas onde o destino dita as regras, mas não impede ninguém de escolher. É isso e só. E isso só. Só.

São lindas as palavras e até tocam, fazem necessária uma reflexão do que é e do que realmente importa, mas não será assim tão certeiro, pois apesar de bonito sobre aquilo que foi pensado tanta coisa bonita já não pode mais haver. Assassinaram a inocência de se submeter.

Há fumaça demais e foi preciso descer ali tão baixo para encontrar e o que havia sido passado era nada mais que um passado de caminhos infectados por escolhas egoístas e burras. Era assim, fumaça sem fogo, depois de tanto tempo.


Calmo, sereno, frio, sentado sob o cadáver de uma personalidade que não existe mais. Galgado pelos degraus da experiência e sofrimento percebe que não há mais nada a dominar, se não a própria mente. Assassinaram a inocência.

10 de abril de 2016

Dialogando - Parte II

- Como assim, cara? Você ousa dizer que estou cego com tanta propriedade baseado no fato de que não vejo como você? Que legitimidade há nisso? Indagou veementemente Luca.

Enquanto a noite ficava cada vez mais profunda, tudo que aqueles homens tinham era a luz daquela velha lâmpada amarela ao lado da escada.

Júlio já estava com a mente cansada de discutir e simultaneamente sentia as avarias de seus contínuos excessos refletirem na maltrapilha estrutura de seu corpo.

- Não sei dizer, mas me parece que seus objetivos são deveras efêmeros. O fato é que não tenho me sentido bem há tempos, cambaleio meu próprio corpo o tempo inteiro pra lá e pra cá procurando um rumo sem ao menos cuidar de mim.

- Entendo o que você tem a dizer, apesar de não concordar muitas das vezes. Mas também me sinto assim. Não tenho cuidado nem de mim, imagina do resto do mundo?

Os dois sorriram e ficaram mais algum tempo em silêncio enquanto ponderavam seus descabidos desabafos. Não era uma conversa atípica entre os dois, não obstante não fosse um dia tão comum de acontecer, ambos não esperavam mergulhar naquilo tão profundamente.

- Sabe, eu realmente estou cansado. Sinto meu corpo desgastado. Bebo coisas que não matam minha sede, como coisas que não me alimentam e trato com pessoas que não me acrescentam. Acho que preciso ficar sozinho.

- Mas nessa realidade que vivemos isso é quase impossível. Você sabe, né?

- Sei.

- E o que pensa em fazer a respeito? Largar tudo e correr de volta para o campo, criar galinhas? Haha

- Largar o quê? Não tenho nada. Não temos nada. Você só pode estar de brincadeira.

- Claro que estou. Isso é tudo que me desafoga. Imagina se fosse para levar tudo isso tão a sério quanto você? Certeza que já estaria doente.

- Como assim?

- Guardar as coisas consigo e ficar remoendo por meses, anos, só faz mal.  Será que você não percebe que essa reclamação toda gera apenas energia negativa.

- Claro que percebo, mas não quero fazer nada a respeito. Quero reclamar!

- O que pretende com isso?

- Me aliviar.

Tudo se tornou um mero deslize das palavras, indagações foram dando o rumo dos pensamentos daqueles dois enquanto tentavam chegar a uma conclusão decente. Mas não era possível, pois quanto mais pensavam a respeito das coisas, mais eles se perdiam naqueles devaneios loucos.

- E agora, amigo, o que será de nós?

- Está perguntando isso para mim mesmo?

- Para ter ideia do nível de complexidade das coisas. Aliás, pra quem mais eu perguntaria?

- Sei lá, talvez um oráculo.

- E receber uma bela resposta com todo o rumo do meu destino? Até que seria uma boa. A menos que fosse daqueles oráculos que nos dizem as coisas por meio de um enigma, se for assim não quero. Já me bastam o meu próprio.

- Destino?

- Não. Meu próprio enigma.