30 de junho de 2016

Estrela

Te coloquei 
como uma estrela no meu céu, onde eu possa te ver sempre que quiser.
Te coloquei 
na constelação mais bonita que poderia, assim posso observar quando quiser.
Te coloquei 
lá em cima, pra poder lembrar nas noites que chegar tarde do trabalho e não esquecer que existiu.
Te coloquei
 onde continuará sempre existindo, provavelmente saberei apenas o seu nome e nada mais, talvez de que grupo que pertença e a direção que indica, mas não navegarei em seu sentido.
Não mais.
Te coloquei
 como uma estrela lá em cima, perto da lua que quando estiver cheia vai me fazer lembrar.
Te coloquei
 naquele céu estrelado, como um entre tantas as outras, mas saberei exatamente pra onde olhar.
Te coloquei
 lá em cima, pra poder lembrar.
Tantas estrelas no meu caminho, hoje figuram o céu da minha existência, pra onde eu posso olhar e lembrar bons momentos, sem depender de crença.
Te coloquei 
lá em cima, só pra poder lembrar.


26 de junho de 2016

Cadê

Cadê você, pra me dizer que não vem?
Hoje a noite vazia e sem lua representa o vazio da ausência de uma gargalhada sem fim.
Cadê você, pra me dizer: Não vem!
E vir com raiva, com os olhos cheios de desconfiança.
E chegar perto borbulhando de ódio por não ter controlado aquilo.
Sua omissão lhe custou um abraço, que logo acalmou as coisas.
Cadê você pra dizer que não vem?
Meus dados estão parados e tudo é tão cinza sem aqueles testes. 
Cadê 
você?

19 de junho de 2016

Cólera de um preconceito

Estive pensando nos preconceitos em mim. É fácil se colocar em uma posição favorável, é melhor se sentir superior, oras, bem melhor viver assim.

Tratar como frescura o peso de ser inferiorizado por uma característica. Dizer que é cultura ser normal, quando se é normal.

Realmente, percebi o quão medíocre sou. Percebo agora a que lugar eu vou. Aonde estou?

Perdido no conforto de ser comum, estando bem por ser só mais um. E escondido atrás de piadas acabo por depreciar algo, alguém, importante e relevante.

Sou mesmo muito pequeno, em ação e formação. Um homem para assumir as consequências que insistem em aparecer.

Estive pensando nos preconceitos em mim. É fácil se colocar em uma posição favorável, é melhor se sentir superior, oras, bem melhor viver assim.

Me proponho a ser melhor todos os dias, mesmo que não aja muito bem em prol disso. Mas por vezes confundo ser melhor com melhor performance, mais vantagem, mais resultado, mas veja, hoje meu pensamento deu uma volta, percebi que ser melhor de verdade é simples: Basta começar por deixar de ser um completo idiota.


7 de junho de 2016

quem é você

quem é você
vejo seu rosto sem poder entender
quem é você
vejo sorriso que desvia o olhar
mas
continuo sem perceber
quem é você

quem é você
me pergunto
a intensidade do por quê
e mesmo assim 
de olhar tão perto
não sei 
quem é você

o mundo gira
devagar
e aos poucos as coisas
vão vinho
e é até fazer se obter
mas o contínuo mistério
intriga
as facilidades banais
ora, quem é você?

vejo no espelho
meu próprio olhar irreconhecível
e a sombra que
acompanha 
minhas
costas
quem é você?

quem é você
acordo aos gritos
e surfando no susto
esbarro no silêncio mais
absoluto
engulo seco a pouca saliva
e me pergunto
agoniado
quem é você?

apenas o vento
madrugada
entra pela janela 
como se
não
houvesse absolutamente nada
pra lembrar
que tudo que veio 
acabou
que todos que vieram
já se foram
quem é você, na verdade
sou eu de volta a mim mesmo
depois de uma viagem louca
você sou eu
irreconhecível
apreensivo
desprendido 
de mim mesmo

quem é você
perguntava
sem perceber
que era meu próprio reflexo
encarando meu olhar
no espelho sujo 
do banheiro 

quem era eu?

5 de junho de 2016

Suicidado

Uma arma munida da bala que atravessa a cabeça e leva junto todos os anseios e desejos. É o breve fim antecipado de dores e sofrimentos profundos, transformando crises existenciais em um mero laudo cadavérico.

Em sonho o tiro é certeiro quando entra pela têmpora e acaba por sair  pela cabeça, com o projétil deflagrado, bem como todos os projetos frustrados.

Todo enforço em vão transforma aquele espaço em um vão sem encaixe ou visão, qualquer que seja a direção.

Em vão foram as noites perdidas, as palavras lidas, os problemas resolvidos, os destinos desprendidos.

Em vão foi a lágrima, foi o sorriso, foi o abraço e o companheirismo porque agora, logo agora tudo se resume a apenas um tiro.

No fim da vida de um martírio, onde a única real intenção era viver em paz, acabou, morrer em paz de repente passou a ser uma solução bem mais prática.

Afinal, pra que chorar em vão, sorrir em vão, tudo tacabou. Puxou o gatilho e não há mais nada, tudo se transformou em fim. O fim é o derradeiro, é  o cessar das dores de acordar.

Agora ninguém acordará mais, seria apenas um retrato com a lembrança de quem fomos, e quando não houver foto alguma, durará o tempo que a memória permitir, pois o coração mesmo já não sente mais nada.

Uma arma munida da bala que atravessa a cabeça e leva junto todos os anseios e desejos. É o breve fim antecipado de dores e sofrimentos profundos, transformando crises existenciais em um mero laudo cadavérico.

Abrace o corpo sem vida porque a alma já o abandonou. Foi o fim anunciado internamente tornando um grande nada a cadeia de coincidências que pareciam o centro do mundo. Mas o mundo segue e o centro agora é qualquer outro moribundo.

4 de junho de 2016

Náus

Acordado pela náusea consequente de reiteraras noites de excessos e dias espessos. Tudo meio ruim de um mal estar sem fim, nauseante trânsito em trânsito às obrigações derradeiras na fogueira de provar da única forma que disseram ser válida.

Ser tomado pelo esgotamento e nervosismo da famigerada ansiedade que parecia estar superada. Afinal, olhando bem estavam todos no limbo de qualquer plano, todos em frangalhos, afogados em medos disformes e ameaçadores que logo menos passarão.

Era isso e mais nada. Era isso e, olha que cilada ainda faltava tanto a ser feito. Obrigado por obrigações impostas pelas escolhas, além dos anseios tão firmemente perseguidos.

Ei, lá se vão as rodas da locomoção e o teto da independência, em um pequeno espaço no meio da cidade.

Lá se vão os olhares e abraços que permitiam a rápida fulga da alma fugás.

Decrépito organismo vivo se mantendo em automático, vestido de máscara que hoje caiu. As olheiras denunciam o final, o final de um esforço pretérito forte.

Vômitos e expulsões geram a catarse das escolhas falidas, dos caminhos viciados e do fim do mesmo filme de roteiro parecido.

Defecadas as impurezas expurgadas dos lugares onde se acumularam o peso além da força.

Ainda acordado pela náusea consequente de reiteraras noites de excessos e dias espessos. Tudo meio ruim de um mal estar sem fim, nauseante trânsito em trânsito às obrigações derradeiras na fogueira de provar da única forma que disseram ser válida.