O preço do silêncio é dar aos outros todas as possibilidades para acreditarem. O preço do silêncio é entregar a interpretação de todas as coisas a seu respeito ao vento. O preço do silêncio é não usar o seu passado, suas marcas e seus traumas. O preço do silêncio é não se postar como vítima. O preço do silêncio é afastar qualquer pessoa que se goste. O preço do silêncio é ser sozinho.
Sempre foi assim, há anos atrás o colocaram na parede. Quem é você? Exigiram saber. Ele até tentou dizer, até marcou de ser, até ensaiou, mas desistiu. Deixou ir. Foi uma das primeiras dores de sua vida. Até hoje ele sente falta e pensa que poderia ter sido diferente, mas ele não aprendeu a falar de si.
Os anos passaram e as coisas aconteceram apenas por fora, tentaram derrubá-lo e atingi-lo. Tentaram decifrá-lo. Tentaram provocá-lo. Ele é um homem, fraquejou. Mas nunca falou. Como se fosse uma lei do silêncio por si mesmo. Como se dizer qualquer coisa o entregasse.
Era horrível para ele ver as pessoas indo e vindo e seus sentimentos sendo desrespeitados. Era ruim não conseguir manter nada por perto, pois esse era o preço do seu silêncio. A consequência de não dizer é a escolha de quem não ouve, de acreditar na pior das versões.
Constantemente o apelidaram. Frequentemente o julgaram. Falaram e provocaram usando suas fraquezas. Mas ele não falou.
E a saga se repete. Lá se vai mais um ciclo de sua vida, embora. Lá se vai mais uma luz que o fazia tão bem esvair-se em desapego e desprezo.
Sua sina é estar sozinho, para que não precise se explicar. O preço do silêncio é entregar aos outros todas as possibilidades e interpretações a seu respeito e não ter o direito de reclamar disso, porque já era esperado.
O preço do silêncio é assumir todo o mal que o atribuem. Quem é você? O exigem. Eu sou o que você quiser fazer de mim, ele respondeu. E seguiu seu caminho, até a próxima grande perda. O preço do silêncio é silenciar para sempre.
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