28 de janeiro de 2016

O preço do silêncio


O preço do silêncio é dar aos outros todas as possibilidades para acreditarem. O preço do silêncio é entregar a interpretação de todas as coisas a seu respeito ao vento. O preço do silêncio é não usar o seu passado, suas marcas e seus traumas. O preço do silêncio é não se postar como vítima. O preço do silêncio é afastar qualquer pessoa que se goste. O preço do silêncio é ser sozinho.


Sempre foi assim, há anos atrás o colocaram na parede. Quem é você? Exigiram saber. Ele até tentou dizer, até marcou de ser, até ensaiou, mas desistiu. Deixou ir. Foi uma das primeiras dores de sua vida. Até hoje ele sente falta e pensa que poderia ter sido diferente, mas ele não aprendeu a falar de si.

Os anos passaram e as coisas aconteceram apenas por fora, tentaram derrubá-lo e atingi-lo. Tentaram decifrá-lo. Tentaram provocá-lo. Ele é um homem, fraquejou. Mas nunca falou. Como se fosse uma lei do silêncio por si mesmo. Como se dizer qualquer coisa o entregasse.

Era horrível para ele ver as pessoas indo e vindo e seus sentimentos sendo desrespeitados. Era ruim não conseguir manter nada por perto, pois esse era o preço do seu silêncio. A consequência de não dizer é a escolha de quem não ouve, de acreditar na pior das versões.

Constantemente o apelidaram. Frequentemente o julgaram. Falaram e provocaram usando suas fraquezas. Mas ele não falou.

E a saga se repete. Lá se vai mais um ciclo de sua vida, embora. Lá se vai mais uma luz que o fazia tão bem esvair-se em desapego e desprezo.

Sua sina é estar sozinho, para que não precise se explicar. O preço do silêncio é entregar aos outros todas as possibilidades e interpretações a seu respeito e não ter o direito de reclamar disso, porque já era esperado.

O preço do silêncio é assumir todo o mal que o atribuem. Quem é você? O exigem. Eu sou o que você quiser fazer de mim, ele respondeu. E seguiu seu caminho, até a próxima grande perda. O preço do silêncio é silenciar para sempre.

16 de janeiro de 2016

É, eu sei.

É, eu sei
Difícil condensar isso tudo
Quando o coração se fecha
É até melhor mudar de assunto
Mando logo agora o que me vem à mente
Antes de perder a inspiração e ficar mudo
É, eu sei
É tão confuso
Mas realmente esse nunca foi o meu intuito
Sabe, eu me esforcei de verdade pra que
não parecesse tão obscuro
Mas fazer o quê? A vida me fez construir algo assim
Como um muro
É, eu sei
Deve ser algum distúrbio
Querer alguém por perto e não saber manter sequer por um segundo
E, quem diria?
As palavras em que mais confio, me traíram
Veio abaixo algo tão bem construído
em um só minuto
É, eu sei
Do que se trata e não discuto
Pode ser só mais um ciclo no final
É, eu sei
Estou quits com o mundo
Sozinho seguirei, errante, vagabundo
Ainda sim digo: que pena
Foi tanto tempo, mas pareceu tão curto
É, eu sei

7 de janeiro de 2016

Raiva

Na raiva, na hora da raiva eu me tremia por inteiro. Era como se uma bomba explodisse sem se dissipar. Era  um turbilhão sem sair do lugar. Era um sentimento de impotência que precisava ser exalado de qualquer forma e a qualquer momento.

Meus braços tinham mais força do que o normal e meus olhos enxergavam cegamente poucas coisas ao redor. Era como se o barulho ensurdecedor e o silêncio absurdo estivessem presentes no mesmo lugar e tudo aquilo fazia um paradoxo de loucura dentro de mim.

Pensava em gritar, mas apenas calava. Pensava em sair correndo, mas me segurei bem ali, no mesmo lugar e na mesma posição. Engolia à seco e ouvia pacientemente enquanto administrava toda a reviravolta que o corpo denunciava.

As coisas iam ficando mais rápidas, ligeiras e eu me tomava, me embebedava de adrenalina, sem poder usá-la. Eu queria correr sem rumo por aí, queria gritar e dar um soco na primeira coisa que encontrasse pelo caminho, mas fiquei.

Era um sentimento dinâmico, intenso e inexplicável. Era uma raiva contida por mim diante de um autocontrole que poucas vezes ouvi falar. Sinceramente, não sei como não agi da maneira que gostaria. Foi a situação mais difícil e complexa para dizer não a mim mesmo.

Agora eu já estava completamente fora de mim e perdido nos pensamentos mais sórdidos, toda a realidade parecia uma história distante contada por alguém sem qualquer expressão. Os barulhos ecoavam e pareciam mais distantes.

O escuro e o sereno da madrugada eram providenciais para a treva que havia dentro de mim. Nada me faria parar se fosse, mas não fui. Quando a calmaria se traveste de fúria, não há reforço que impeça. Não há palavra que a faça dissuadir. Não há nada nesse mundo que pare uma bala depois do gatilho ter sido apertado.

Um dia perdi o controle  sobre mim, mas não perdi o controle da situação. Era como se tentasse desesperadamente argumentar com outra pessoa; essa outra pessoa era eu.

Na raiva, na hora da raiva eu me tremia por inteiro. Agora conheço um pouco da minha força, que consiste muito mais em ficar do que em ir. Na hora da raiva eu tremia por inteiro. Por inteiro.

3 de janeiro de 2016

Dor

A dor em meus ouvidos latejam ao engolir a saliva, quando tento ouvir sua voz é o silêncio que me faz sentir tão só, tão sozinho.

O incômodo da dor física nos faz mais pacientes, nos faz resistentes. A famigerada dor metafísica nos faz perder o rumo, nos faz perder o poder de reação. 


O tempo que passa agrava a dor, de não existir mais nada e de não haver mais... O cansaço nos pega no meio desse caminho e aquilo que era o objetivo passa a ser apenas um detalhe. Tudo o que nos envolve é um mero detalhe, assim como a dor. 

A dor em meus ouvidos latejam a cada engolir. Ao tentar ouvir sua voz, por favor, me responda de alguma maneira, não há desprezo pior do que esse silêncio absurdo e absoluto. 

Sinto o corpo esvair.

Sinto a alma pedir.

Não sinto nada além de espera. Esperar.

Espero que um dia passe e deixemos de ser reles promessas. Como sempre, alguma coisa do futuro. Não tenho nada além do que o agora. O agora é meu auge e meu maior investimento. 

A dor em meus ouvidos latejam a cada engolir de saliva, quando tento ouvir sua voz é o silêncio que me faz sentir tão só, tão sozinho.