É meu filho, tudo que vivemos e fazemos é o nada. O nada é tudo. Tudo o que temos. Tentamos preencher o vazio dos nossos corpos com alguns copos de cachaça e nos tornamos cada vez mais humanos, terrenos e presos ao chão. Pela fumaça do cigarro as pessoas se confundem, fedem e ofuscam o desespero em se sentirem bem, feliz.
Afinal, qual seria a vida perfeita para um homem médio? Há uma grande dificuldade em determinar e manter um objetivo por muito tempo porque o tempo acaba sempre mostrando que pode não valer a pena, todo este ímpeto. Quem seríamos nós além do que aquilo que fazemos para nos tornarmos - ou tentar - nos tornar aquilo que admiramos, aqueles em quem nos espelhamos?
Quem, de uma vez por todas, vale a pena ser? Um idiota que se faz de sonso para manipular a todos ou um padrinho que ignora todas as leis sociais em pról de seus valores? Ou Tom, aquele que mantém sempre a calma estóica, um desapego a opinião e reação alheia...
Veja ela passando ali, não a conheço, mas agora sei quem é. Sua timidez e o meu receio acabaram se encontrando no meio desse caminho turvo e se deram bem, mas acabam não conseguindo passar disso hora por um, hora por outro. De tempos em tempos as oportunidades se vão por falta de coragem, no seu mais sutil sentido.
Tento falar e fazer com que as coisas saiam da melhor maneira possível, mas meus pensamentos não acompanham mais as minhas atitudes, tenho tido muita pressa em viver e pouca paciência em aprender a vivê-la, muito pouca. Estou tentando lhe dizer o que estou pensando, minha mente continua a mesma, mas meu corpo já não acompanhao que quero dizer, não tô conseguindo. Você me entende, meu filho?
E os dias se foram, os vinte e poucos anos que tanto falavam mostrou uma face verdadeira e amendrontadora, são as coisas batendo a porta da responsabilidade e as primeiras consequências dilacerando a esperança e o pouco espírito de criança que havia, isso pode explicar por quê tantos homens se tornam coisas inimagináveis em alguns anos. A pressão de se suportar tanta informação é cabal.
Nós continuamos por ali, nos esbarrando em bons momentos e trocando algumas palavras agradáveis enquanto admiro o seu sorriso, uma das poucas coisas que tem feito sentido. Meu receio de dizer alguma coisa mais séria acaba por minar tua esperança de se encontrar de novo e a tua timidez quando me encontra foge de um olhar mais fixo, nos escondemos atrás das brincadeiras até o dia que as barreiras forem ultrapassadas.
É meu filho, tudo que vivemos e fazemos é o nada. O nada é tudo. Tudo
o que temos. Tentamos preencher o vazio dos nossos corpos com alguns
copos de cachaça e nos tornamos cada vez mais humanos, terrenos e presos
ao chão. Pela fumaça do cigarro as pessoas se ofuscam, fedem e ofuscam o
desespero em sentir bem, feliz.
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