18 de novembro de 2018

Longe

Se o passado falasse, não seria tão ríspido, mas, com toda certeza, deveras metido. Já sabia de tudo, devidamente instalado, vivido e planejado.

Se pudéssemos editar as passagens, quais escolhas - de novo - faríamos? Iriamos pelo mesmo caminho ou simplesmente viraríamos a esquina com uma desculpa qualquer... Ora, me desculpe, tive um imprevisto!

Não vou andar por essas ruas porque me causarão dor e um dia, não terá ninguém para me receber por aqui, quem diria.

E continuarei andando por aí, sem um porto seguro. Foi só uma passagem, um hotel de beira de estrada com chaves na porta, que me permitiu algumas noites de sono, com certo sossego. Foi só um café da manhã incluso que me permitiu viver dias sem passar fome. Mas meu lugar é o mar, navegando por aí sem saber quais serão as condições da maré ao acordar.

E não procure saber de mim, mesmo que já seja evidente que isso jamais aconteceu. Não procure saber onde estou, pois sequer eu sei dizer. Não sei quais são minhas escolhas, tampouco para onde estão me levando, mas espero que seja o mais longe possível.

Se o passado falasse e, principalmente, ouvisse, eu diria para ele ir embora daqui. Não quero ver o teu rosto para não lembrar de nada. Nesse meio tempo roubaram meu sorriso e eu fiquei satisfeito por isso.

Afinal, também há paz na comodidade. Por pior que ela seja, carrega estabilidade. E agora estou caminhando por aí, vendo vários rostos, vários corpos, vários egos, vários prazeres, vários vícios e pensando no que posso fazer para ir cada vez mais longe daqui.

E não procure pensar em mim, por mais que eu sabia que isso não vai acontecer. Que não saiba onde estou, enquanto engulo todas as lágrimas que minha alma pensa em derramar, mas eu não deixo. Para todos os efeitos, se por algum milagre me perguntarem por onde andei, direi: O mais longe possível daqui.

Mas que diferença faz, não é mesmo? Já que tudo que vivi não sai da minha cabeça porque eu tenho apego, apego de pai, apego de autor, apego de criador, já que não passaram de histórias e circunstâncias criadas na minha cabeça doente.

E não procure saber de mim, pois estou cada vez mais longe. E não procure saber o que faço, mesmo que eu saiba que isso jamais aconteceria. Mas, que diferença faz, não é mesmo? Já que ninguém saberá o que agora sim, insisto em não ser mais.

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