26 de dezembro de 2013

De resto

Preciso do mundo. É tudo isso que ainda não conheço que me faz continuar de pé, porque essas coisas que surgiram até aqui são pouco. Muito pouco. Em conflito com as consequências das atitudes tomadas de cabeça quente por um garoto, um moleque, hoje sofro.

Quando imagino estar no controle da situação me lembro abruptamente que sou um reles resultado das cicatrizes que carrego até aqui, junto a algumas feridas. Pe
rder o controle é o mais perto que consigo chegar da paz. Essa mania de estar administrando atitudes e efeitos o tempo inteiro cansa. Dói, mas não tanto quanto as lembranças.

Um prodígio. Um injustiçado Um revoltado, revolucionário. Um moleque perdido. Um homem ressuscitado. Um projeto em andamento. Um cara animado. Um sujeito esperançoso. Um ex pessimista, aposentado. Um opressor. Um canalha formado. Um viciado.

Pelos cantos abusando da minha integridade, te torno um espectador temporário. Me torno uma vítima derrubada, ao chão. Sou forte, gigante, sábio e curado. 

Eterno escravo da falta de paciência, resultado de um efeito placebo estruturado com muito cuidado e pesar. Tudo é dor? Seja lá como for, daremos nosso jeito de escapar dela, de esquecer. O resto de orgulho ferido que persiste. O orgulho que persiste ferido ao resto de nós.

Buscando bem longe a solução para um vazio que não faz sentido algum. Se ali, onde havia tanta verdade, tanto sentimento, tanto valor, tanto investimento não serviu para nada, pra que servirá? Ser carne, ser navalha, ser otário, ser canalha... Estar emudecido é o que descreve alguém agora. Quantas palavras seriam necessárias pra entender o que ser passa?

Imagens. Fotos. Retratos. Desenhos. E o que passou perto de curar já se foi, já que deixar as coisas por perto nunca foi uma especialidade da casa. Da casa da solidão. Da observação. Da limitação. Aqui não, aqui não é mais lugar pra essa carcaça vazia e arrastada.

E quando... Diga-me! E quando o projeto for realizado e as coisas estiverem em seus conformes onde poderei comprar o remédio pra essa dor? Por favor, se for possível nos indique o caminho. Caso contrário já não fará sentido algum continuar. Vamos terminar por aqui?

Já não vejo como antes, já não sinto como antes, já não acredito como nada. Eu sou o nada. Eu sou o resto de tudo o que já passou por aqui. Eu sou um sobrevivente da enchente de merdas que inundou essa existência breve e pesada.

Quando os vilões se tornarem vítimas as coisas estarão parecidas com o que devem ser. Não venha me dizer o que fazer, não saberia da metade do que se passou mesmo que eu tenha tido a confiança de contar-te. Nem que tudo isso seja apenas um teste, passou da hora de começarmos a trabalhar na aprovação.

23 de dezembro de 2013

Platônizando

Há quem tenha o tom de tornar possível reviver momentos bons com apenas singelas palavras. Há quem lhe faça sentir vontade de fazer aquilo que já tinha caído no esquecimento. Há quem com uma hora tenha lhe dito coisas mais lindas que outras que conhece praticamente a vida inteira.

A partir de mim mesmo lembrei o que gostava de dizer e guardava, rabiscado em um pedaço de papel qualquer espalhado pela sala. Gosto das horas que passam devagar e do barulho que o ponteiro do relógio faz enquanto me lembro o tanto de coisas que gosto de ser e já esqueci do que se trata.

Fico aqui, analisando a minha volta todas as possibilidades e o vazio que se perfaz em tudo. Me pergunto: O que falta? E a resposta parece estar tão longe. Quem sabe um dia eu não a encontre? Dia após noite, nos atropelos da cidade as coisas se transformam em tudo aquilo que nunca passou pela imaginação. Nós nos viramos como podemos. Nos fantasiamos de felizes cidadãos poderoso e completos para passar despercebido pela dor que arranha.

Quem foi que disse que a luz é que traz a salvação se eu me sinto muito melhor nesse escuro? Aqui não preciso parecer nada, fazer nada, ser nada. Assim sou apenas o que sinto. O que ouço e quando quero ouvir. Aqui eu apenas respiro e me lembro. Enquanto me lembro o meu corpo trabalha lentamente para me manter calmo, como a mente que fosse da redoma do cotidiano.

Ah, confesso que quis você por perto diversas vezes para lhe mostrar os pormenores de tudo o que digo. Era ali, nas cartas que nunca escrevi que penso conseguir colocar um pouquinho de mim, perto de ti. E de todas as brincadeiras, nunca houve uma intenção tão sincera de tratar tudo com mais seriedade.

Ficar esperando as borboletas chegarem ao jardim nem sempre é o melhor plano. Um dia as coisas todas se cansam de estar como estão e na maior das atitudes loucas precisamos correr atrás do que nos encanta e cativa.

Incólume aos acontecimentos presentes andando com o passado preso aos tornozelos vamos seguindo em frente. Passaríamos por tantas coisas que seria até engraçado ler qualquer coisa parecida depois, porque diversas vezes me peguei pensando: Caramba! E se a correspondência for um sinal da loucura, dizendo serenamente pra sanidade tomar uma atitude mais segura e ir lá, buscar o que deve?