30 de janeiro de 2013

Homem da porta dos fundos


Estou aqui depois de algum tempo, imaginando datilografar em um quarto úmido e obscuro de uma cabana camuflada na selva de pedra secular e tradicional. Faria quem sabe de uma imagem qualquer a musa inspiradora dos poemas sublimes da madrugada enquanto o relógio soa teu som tão característico não obstante a música se reproduz por si mesma como em uma tabacaria dos anos vinte. Quem sabe o que se está falando?

Procuraríamos no mais profundo de nossa mente inconsciente uma razão para estarmos aqui aos devaneios noturnos e sorrateiros, tenho que confessar a falta que sentia disso. Deixamos nos engolir pelo gesso do mesmo sempre mais do mesmo que nem a maior das gentilezas poderia romper nesse momento, pois estamos esmagados sobre a tutela da responsabilidade dessa vida adulta e ingrata, que não nos deixa sonhar, que não nos deixar reclamar e que sequer nos deixa sentar na calçada e conversar sob a luz da lua.
Por mim eu ficaria aqui por algum tempo me encontrando entre as melodias da música e as palavras que surgem em turbilhão, por mim eu me recolheria a mim mesmo para me conhecer cada vez mais, ainda me lembro do dia que isso tudo teve início, muito embora não me arrisque a dizer se haverá fim.

Não me sinto assim, sou apenas um homem qualquer da porta dos fundos que passa por ai despercebido porque prefere assim. Deixa que os holofotes virem-se para quem os deseja tanto atrair e trabalhar em cima do que isso possa trazer, me diverte muito mais aqui na coxia vagando entre os pormenores das coisas, sozinho e lúcido.

Mundo! Gigantesco mundo que nos assusta vez ou outra com tamanha expansão, mal sabe ele, mal sabíamos nós até pouco tempo que aqui dentro o infinito pode ir muito mais além e não precisamos de nada nem ninguém para explicar isso. Guiamos-nos por sentir e esse não é o fim, meu amigo, ouça o que digo.

Mate a esperança, roube-a e a transforme em foco. Aplique no trabalho e seja um soldado, um espião e um capitão. Seja o jovem faminto de conquistar e o poderoso nostálgico pela simplicidade da paz. Seja grande, seja imperceptível. Assim como eu, há outro te observando e esperando para ver onde isso vai dar. A boa notícia é que depende de você, fazer. Ser e esquecer, na verdade não era isso que eu iria dizer. De que importa? Discursos são tão duradouros quanto à memória os guarda, ou seja, quase nada já que logo precisarão ser lidos por quem os escreveu.

Um comentário:

Arlan Souza disse...

é profundo e poético o que tú tens escrito aqui. As vezes parece até apocalipitico.rs
Mas conforta não sei o que em mim. é compreensível também e deveras enigmático.

Boa noite.