Estou aqui depois de algum tempo, imaginando datilografar em
um quarto úmido e obscuro de uma cabana camuflada na selva de pedra secular e
tradicional. Faria quem sabe de uma imagem qualquer a musa inspiradora dos
poemas sublimes da madrugada enquanto o relógio soa teu som tão característico
não obstante a música se reproduz por si mesma como em uma tabacaria dos anos
vinte. Quem sabe o que se está falando?
Procuraríamos no mais profundo de nossa mente inconsciente uma
razão para estarmos aqui aos devaneios noturnos e sorrateiros, tenho que
confessar a falta que sentia disso. Deixamos nos engolir pelo gesso do mesmo
sempre mais do mesmo que nem a maior das gentilezas poderia romper nesse
momento, pois estamos esmagados sobre a tutela da responsabilidade dessa vida
adulta e ingrata, que não nos deixa sonhar, que não nos deixar reclamar e que
sequer nos deixa sentar na calçada e conversar sob a luz da lua.
Por mim eu ficaria aqui por algum tempo me encontrando entre
as melodias da música e as palavras que surgem em turbilhão, por mim eu me
recolheria a mim mesmo para me conhecer cada vez mais, ainda me lembro do dia
que isso tudo teve início, muito embora não me arrisque a dizer se haverá fim.
Não me sinto assim, sou apenas um homem qualquer da porta
dos fundos que passa por ai despercebido porque prefere assim. Deixa que os
holofotes virem-se para quem os deseja tanto atrair e trabalhar em cima do que
isso possa trazer, me diverte muito mais aqui na coxia vagando entre os
pormenores das coisas, sozinho e lúcido.
Mundo! Gigantesco mundo que nos assusta vez ou outra com
tamanha expansão, mal sabe ele, mal sabíamos nós até pouco tempo que aqui
dentro o infinito pode ir muito mais além e não precisamos de nada nem ninguém
para explicar isso. Guiamos-nos por sentir e esse não é o fim, meu amigo, ouça
o que digo.
Mate a esperança, roube-a e a transforme em foco. Aplique no
trabalho e seja um soldado, um espião e um capitão. Seja o jovem faminto de
conquistar e o poderoso nostálgico pela simplicidade da paz. Seja grande, seja
imperceptível. Assim como eu, há outro te observando e esperando para ver onde
isso vai dar. A boa notícia é que depende de você, fazer. Ser e esquecer, na
verdade não era isso que eu iria dizer. De que importa? Discursos são tão
duradouros quanto à memória os guarda, ou seja, quase nada já que logo
precisarão ser lidos por quem os escreveu.
Um comentário:
é profundo e poético o que tú tens escrito aqui. As vezes parece até apocalipitico.rs
Mas conforta não sei o que em mim. é compreensível também e deveras enigmático.
Boa noite.
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