12 de julho de 2012

Eu Lírico

Eu sou um ser da noite, perdido em devaneios antigos e obsoletos. Eu sou a própria noite em seu vazio e na mais pura essência de silenciar-se. Não me adapto muito bem a vida, a vida noturna que levam meus semelhantes socialmente integrados e descolados, muito embora ainda sim seja eu um ser, de noite, da noite.

Durmo, saio, ando e trabalho. Volto, cansado, exausto como um lacaio. Meu jantar foi um pedaço de pão recheado e o resto será o que encontrar nos assaltos noturnos em meus a algumas páginas escritas, outras lidas e o silêncio, donde àquele barulho todo provém na minha cabeça. Não penso que isso venha a incomodar alguém, não chegar sequer a ser relevante. 

Comi doce um atrás do outro e nenhum matou a minha fome, preciso é de sal e das coisas um pouco mais salgadas. Vejo o amor resfriar e se diluir como açúcar na água, vejo o café resfriar e as outras amizades sumirem da consciência. Elas existem e são incomensuravelmente necessárias e não me resta escolha se não torcer para que essa rotina louca e esse destino ingrato e injusto não me façam perdê-los por esses descaminhos que assolam minha existência.

Gostaria de ser um pouco melhor, um pouco menos dependente de carne e de corpo. Queria muito ter o total domínio de mim mesmo e das minhas atitudes bem como um pouco de ignorância para acreditar em tudo o que dizem ser conhecimento universal, seria de longe mais confortável.

Pensar, pensar, pensar. Nestas horas noturnas pelas quais acompanho o tic-tac do relógio vejo o quanto sou assim, triste e noturno, depressivo e nortuno, eu sou um ser da noite.

É agora que ninguém me vê ou sequer lembra de mim, pois estão perdidos na inconsciência do repouso e eu aqui solitário, me sinto dono do que quiser, olhando através da janela fechada o mundo que logo mais será tomado pelos robôs que nos temos transformado, vivendo civilizadamente de acordo com todas as regras impostas por ai.

Eu sou um ser da noite, perdido em devaneio antigos e obsoletos. Eu sou a própria noite em seu vazio e na mais pura essência de silenciar-se. Não me adapto muito bem a vida, a vida noturna que levam meus semelhantes socialmente integrados e descolados... Por ai.

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