30 de janeiro de 2011

De Volta do Inferno

Daqui levei estritamente nada, quando fui mandado para lá já tinha vivido algumas poucas coisas que por incrível que pareça é a sensação de qualquer pessoa que fará a viagem, seja ela eu ou você, seja um jovem octagenário ou um velho garoto ambicioso, seja lá quem sabe um bicentenário.


Daqui levei estritamente nada, fui de alma e alma já que nem o corpo tive o direito de trazer comigo, não que isso seja algo ruim necessariamente. Acomparam-me pensamentos, arrependimentos, saudades, tristezas e um punhado de felicidade dos quais não conseguiria me desfazer nem depois de vidas e vidas.


No começo até que pareceu bem estranho sair do comum e ir em direção à sociedade do mau, seguindo direto para as chamas quentes do castigo sob uma força mais do que incisiva, amedrontadora de tão presente. Àquela presença era tão intimidadora e visível que nem a falta de imagem me fez duvidar sequer um segundo de que ali conosco havia algo.


Engraçado que nos vicios da rotina não nos damos conta do tanto de forças que agem em torno de tudo o que é feito, o mundo é um emaranhado de fios e linhas tênues que causam efeitos devastadores sem que deixem rastros capazes de nos racionalizar o processo por inteiro.


Eis a duvida, eis a incerteza, eis a fonte de todos os aproveitadores tão mundanos quanto as palavras que pronunciam, tão vazios quanto o que dizem preencher. Essa viagem não foi agradável ou divertida, foi pesada e constante mas passou. Assim que estive de volta percebi que aqui é muito pior, bem pior aliás.


Ah, que mundo é esse? Onde valem os interesses, e só. Aqui vivem os bons, os maus e mais uma porção de produtos do medo, da violência, do amor, da vaidade e de tantas outras matérias primas. Ouviu-se dizer que o inferno é quente e sombrio, e aqui também não se faz assim por algumas tantas noites? Ouviu-se dizer que o mal impera e reina sobre a justiça igualitária utópica dos intelectuais, e aqui?


Senhores, onde foi que ouviste dizer que o inferno são os outros se não aqui mesmo onde o inferno são todas as coisas que prejudicam, de graça. Todas as coisas que dão errado por nada. Todas as situações geradas pela pura satisfação de constranger. Os planos maquiavélicos mais terríveis não são os que visam um objetivo onde os fins justificam os meios, porém nesses casos os fins não justificam nem a si mesmos e os meios são torpes, usou-se da pouca boa fé que ainda resta para fazer o mal, puro e essêncial. O mal vazio.


De volta do inferno não agradeceu-se por não estar mais lá, mas valorizou-se a viagem porque agora sabe-se que o mundo não é o paraíso nem tampouco o inferno, é muito melhor que o céu e pior que o inferno porque esses dois idealiza-se, o mundo é vivo e constantemente presente.



@adilsongl

24 de janeiro de 2011

Das Forças

Durante muito tempo deixamos o tempo passar sem perceber que a distância crescia cada vez mais entre nós, mas isso não preocupa haja visto que a verdade é tão clara como a luz do sol... Então após o tempo corrido, as pessoas corridas, tudo sempre voltar a ser como era de costume, vão-se os anéis...


A saída foi tensa e um tanto nervosa, no intimo sentido já sabia-se que não seriam dias fáceis os que estavam por vir. O que fazer diante de uma situação dessas: Deixar de viver e viver a força negativa sobre nós ou enfrentá-la mesmo que seja inevitável a dor. Chega! Estamos cansados de entregar preciosas horas e dias de nossa vida à essa coisa.


Chegamos, foi tudo certo apesar de não ter começado muito bem. Da visita combinada faltou um pequeno detalhe onde a circunstância tornou o clima dentro de nós um tanto sombrio, mas nada comparado ao que estava por vir. Dali em diante foi só alegria, uma pequena sociedade de pessoas que só querem bem umas as outras se juntou para celebrar a alegria de poder celebrar. Célebre! Várias gerações na mesma roda de violão, conversando sobre os assuntos alheios a eles naquele momento mas que fez ou fará parte da vida de todos, sem dúvidas.


Um dia agradável apesar de pesado parar quem consegue senti-lo levantar. Uma noite macabra que ainda não estava escrita que havia, o existem inimigos e inimigos, os covardes e os iguais. Os piores que já se teve notícia são os que atacam as pessoas que amas pelo simples prazer do mal, pelo simples modo constrangedor que em modos práticos não fará diferença alguma.


Dali caiu por terra a teoria de que a alma secou, ela nunca seca. Fica apenas mais rígida e seletiva pelo que se molhar. Em um grito silencioso de desespero ao ver cair uma das pessoas que mais se ama nessa vida, uma pessoa que não tem ao menos como defender-se tudo o que havia de ruim tornou-se trivial. Engraçado, não? Quando a trivialidade chega a ser incorporada a essa maldade gratuita é porque as coisas realmente não estão nada boas.


Daqui em diante pelo jeito tudo será como sempre esteve, onde esse papo de esperança conforta quem ainda consegue acreditar nisso, invejamo-os. Ao chegar de volta de onde saímos, as pernas travaram enquanto o corpo implorava para jogar fora tudo o que havia absorvido naquele pouco tempo, é algo maior que tudo isso que vimos aqui senhores. É algo que não se vê, não se toca, não se sabe exatamente o que é. Mas sabe-se: O Mal é uma força como todas as outras, mas que faz mal mesmo que seja pouco e em excesso pode até matar.



@adilsongl

21 de janeiro de 2011

Ideologicamente falando


Cheguei! E só pensei em escrever porque nas palavras consegui encontrar uma forma, mesmo que irrisória, de eternizar os momentos que tenho em mim, de concretizar sentimentos que muitas vezes não conseguimos explicar. Por mim ficaria aqui, agora, a noite inteira ouvindo uma boa música e usando todas as palavras possíveis para tentar explicar o que há de melhor nesse mundo.


Certamente não estamos aqui por acaso, certamente o acaso não existe e há muito mais do que essa simples filosofia que desenvolvemos possa ensaiar explicar. É lembrando e relembrando, é rindo e chorando, é vendo como já fizemos tantas coisas legais que nos damos conta da grandeza que há em nossa vida.


Insistimos em esquecer as coisas boas que tivemos a oportunidade de viver, de ver, até as coisas ruins nos fizeram opções que escolhemos e consequentemente nos tornaram o que somos hoje.


Mesmo que não te agrade, eu digo: és tu. Mesmo que não seja o que sonhou, eu digo: és tudo. Mesmo que não esteja como planejou, eu digo: és tu! As pessoas que de longa data se mantém ao teu lado são porque mereceram. As que já se foram ou é porque não se importavam ou fizeram por merecer não estar.


Se o passado fosse importante estaria ainda presente em nosso presente. Mas se o que passou não fosse tão importante assim, não viria à tona como vem toda vez que está triste, feliz, desesperado, empolgado, entediado. O que resiste, sendo em mente ou fisicamente é o que vale à pena. Definitivamente só vale a pena lutar pelo que se acredita, mesmo que aparentemente tudo esteja perdido.


Do que me adianta morrer lutando, vencendo ou perdendo pelo que poderá me trazer sucesso e reconhecimento se não for minha ideologia? Prefiro morrer por uma ideologia verdadeira fadada ao fracasso do que viver por um objetivo que não seja meu.



@adilsongl

14 de janeiro de 2011

Finjo, logo existo.

Chegaremos à tantos finais que nem me preocupo mais em temer sua aproximação. São ciclos, e apenas ciclos, não é? As coisas terminam, a felicidade acaba, a tristeza por vezes nos salva, a descrença releva o ceticismo que há em todos nós, que poder de argumentação que desenvolve-se a partir disso!


Passamos toda a nossa vida tentando ser detentores de todo o conhecimento possível, menosprezando o que julgamos não nos trazer nenhuma edificação, mal sabemos que com essa postura perdemos talvez os melhores dias de nossa vida.


Cá estou, arrependido de tudo o que fiz e me preparando para justificar os próximos arrependimentos. Nesse estado sou tão feliz, mas logo vou cair na realidade e perceber que o orgulho que tomou conta de mim afastou toda e qualquer possibilidade de felicidade que havia.


Tenho a leve impressão de que tudo, por mais pleno que seja, será o segundo melhor depois de tudo que já passei. Nunca será completo. A razão mostra que todos se entregam demais as pessoas e as situações que têm a oportunidade de viver, mas ao invés de prudência, deve ser pura inveja de não conseguir entregar-me de tal forma a tudo o que acontece.


Estivemos hoje em lugares que nunca estivemos, mas sempre sonhamos estar. Nos sentimos bem e nos divertimos lá, fizemos besteiras e rimos um dos outros. Mas do que adianta? Se quando voltarmos para casa estaremos tão tristes de não termos sido capazes de manter o que era mais importante em nossa existência, ou quem.


Estamos aqui, do mesmo jeito que sempre buscando em outras pessoas o que nos faz falta, transferindo para outras situações a expectativa do que gostaríamos de ter vivido em determinado momento. Há horas que nos sentimos tão dentro e estamos tão perto do que já foi nosso presente e agora é apenas um passado que nunca saiu de nós.


Com tanta vergonha de pedir ajuda até chegar lá, com tanto receio de dizer que simplesmente não é possível continuar do jeito que está. Estamos aqui, todos nós, usando as datas comemorativas para sermos felizes como não conseguimos ser o ano inteiro, cheios de responsabilidades e anseios.


Se você vier me perguntar por onde andei no tempo em que você sonhava, de olhos abertos lhe direi: amigo, eu me desesperada. Vou levando do jeito que sempre foi mas que não deveria ter sido, vou carregando as consequencias da minha desistência por lugar, vou chegando fisicamente cada vez mais perco mesmo sabendo que as almas se perdem cada vez mais nesse mundo de loucuras e fugas. Finjo, logo existo!



@adilsongl

7 de janeiro de 2011

Imaginada tentativa

Nossa... Quanto tempo se passou enquanto dormia? O que realmente está acontecendo, aquele sonho tão estranho parecia tão real ou era a realidade que tendia ao sonho descabido? Ei, você, por favor! Pode me dizer as horas? Obrigado. Acho que o sono durou alguns anos e aqueles sonhos foram os fatos em que nos incorporamos para tentar mudar tudo o que havia. Trágico!


A cada dia que passava as memórias ficavam mais e mais vastas, vagas e desbotadas. Já não havia um rosto nítido para que a nostalgia se completasse mas a saudade mantinha-se na mesma intensidade, se não pior!


Quem sabe fosse uma fase para que adquirissemos conhecimento e maturidade afinal... Não! Afinal nada, esqueça! O impulso nos leva a lugares improváveis e prova que o inconsiente vive, sobrevive e reina em nossas atitudes, cada uma delas. O que há de racional nisso tudo? O que há de real no pouco de resta? Afinal, o que há? Há?


Sabe, acho engraçado tudo isso ser o fim do mundo agora e o inicio de todos os problemas e daqui a pouco não ser mais nada. Será? Espero... Enfim estamos aqui, tão perto e tão longe separados por alguns muros e ruas. Posso ver daqui o passado, posso assistir bem na minha frente aqueles momentos... Eu posso! Tu podes?


Hoje viajaste por onde nem imaginava que existia não é? Foi embora e se arrependeu, voltou e pensou por que não voltei antes? Agora aqui me pego a imaginar o que teria sido se não tivesse sido como foi, como fui, como fostes... E se um pouco mais de paciência tivesse tido voz ao impulso? E se o orgulho não fosse tão rude...


Imagino aqui como será que está tua sala e o teu sorriso. Tento imaginar com que tom está tua voz e com que perfume lembraria de ti. Há medo, há temores, há receio, há um valor inestimável no vestígio esperançoso que carregamos em mãos, com o coração à pular pela boca. O que dizer, o que falaria? Não importa, fomos até lá e estivemos ali de novo mesmo que solitários.


A cada dia que passava as memórias ficavam mais e mais vastas, vagas e desbotadas. Já não havia um rosto nítido para que a nostalgia se completasse mas a saudade mantinha-se na mesma intensidade, se não pior!


Fomos, estivemos, enfrentamos, um homem é isso. Um homem corajoso não é isento de medo e sim de covardia. Fomos, estivemos e enfrentamos em nome das necessárias memórias para continuarmos vivos e de pé, em nome das fotos já amareladas e das palavras que ecoam no infinito da alma, cada vez mais longínquas. Em nome da vida enfrentarei a morte dos sentimentos que me mantém aqui, vivo, de pé e respirando.



@adilsongl