14 de agosto de 2016

Fica

Ora, vejo longe aquilo que já considerei parte de mim
Vejo de longe algo que sei não haver mais por aqui
Pior quem de tão longe acaba por deixar de existir
E torna tão insignificante a verdade que fazia parte de um sentido ou algo assim

Nem de lá nem de cá
Se perdeu no limbo do desprezo
Ignora a falta que faz e as coisas seguirão
De qualquer jeito

Segue a dor das perdas cotidianas que agora insistem em virar rotina
Na verdade não era o medo de perder você que afligia
Era o receio de saber que se esse vínculo se perdesse e não fizesse diferença, o que mais importaria?
"Estarei condenado a rabiscar?
Depressa recorro ao meu tinteiro.
Escrevendo rios de tinta.
Que belas ondas!
Talvez a escrita não esteja muito nítida...
Que importa? Ninguém lê o que escrevo."

Friedrich Nietzsche 

12 de agosto de 2016

Solitatis

Era uma saudade atrás da outra, como se já não bastasse as faltas guardadas no peito, não bastava se acostumar. Não fosse o bastante as cicatrizes marcadas no coração, agora inventou de colecionar.

É, colecionar saudade.

Como um anjo aparecido depois de tanto tempo desejando, com um carinho guardado, meio de lado, meio de canto. Veio, e logo fez do ambiente o seu lar, transformou tudo na maior bagunça e não ficava um segundo sem parar, sem pular.

Ficou e transformou completamente a rotina, fez de qualquer poça a sua piscina. Que sina! Estava grande, tão grande que mal cabia mais naquele lugar. Salutar, elementar que ocupava mais espaço do que o disponível, sinceramente, não poderia ficar.

Era alegria, era um lar, vindo de um encantamento genuíno e só faltava falar. Era lindo, puro, completamente doce e o que não falava com palavras, o olhar traduzia, sem vacilar.

Era agora uma ida sem volta, para um lugar mais feliz com gramado por toda a sua volta. Era agora um caminho em outra direção, paralelos, mas distantes a cada curva, mudando pouco a pouco a cada ocasião.

Era uma saudade atrás da outra, como se já não bastasse as faltas guardadas no peito, não bastava se acostumar. Não fosse o bastante as cicatrizes marcadas no coração, agora inventou de colecionar.

É, colecionar saudade.

Todas elas tinham uma história diferente, vinham de sangue, vinham de olhares, de proximidade e de toda gente. Era uma de nem saber quanto, uma de lá tão longe que nem se lembrava mais e aquela que fez chorar o coração da gente, era a saudade mais recente.

Evita falar o nome, evita pensar, evita viver, evita chorar, mas quando vê o rosto já foi o palco para a corrida da dor que se esvai em lágrimas. Tudo é dor e tão tamanha apequenesse nossos corações, aperta, machuca e lembra que um dia foi tão grandioso e apesar de simples, tão bom.

Colecionador de saudades, sim. Não se busca uma a cada esquina, mas sem saber como reciclá-las, resolveu que era melhor limpar a poeira da angústia da falta e as manchas de orgulho para guardá-las na vitrine das experiências que nunca mais serão.

Sem dúvida, há saudade.

Com carinho, à saudade.

7 de agosto de 2016

Confundindo

Nos triviais que se instala uma mudança completa, ela vem e traz consigo o caos. 

Senta à mesa sem ter sido convidada e insiste na história sortida que traz à superfície uma conexão. 

E aqui estamos na armadilha montada em que nos propomos cair, nós queremos sucumbir e sentir o sabor do descontrole ao mesmo tempo em que abraçamos o caos.

Por que fazer chorar se os olhos brilhavam ao te ver e toda a verdade guardada não fazia mais questão de se manter adormecida, talvez isso assustasse, é verdade, mais talvez ainda, ainda assuste.

Não há rima e nem roteiro, são todos efêmeros e passageiros demais. 

Mas obrigado, muito obrigado por ter devolvido a inspiração, pois com o velho, ranzinza e sábio tempo ensinou: É possível viver sem algo, sem alguém, sem algum lugar, sem quase tudo, menos sem a inspiração carregada no peito. 

O propósito de tudo foi voltar a ser exatamente como era, mas dessa vez mais forte em si mesmo.

Me dê mais um gole e deixe que eu celebre ao seu maior legado em mim: As boas memórias.

E agora já é tão claro quanto o brilho da lua que só acontecerá de novo se aquele perfume, aquela sensação ou algo parecido tocar a alma de um maltrapilho bêbado e sozinho.

Mas livre!

5 de agosto de 2016

Heaven hell

São constantes batidas em meus ouvidos conduzindo a minha mente para o mais profundo estado de transe.

Vem até mim uma virada sensacional que transforma meu corpo em mero objeto em meio aos graves insistentes e por incrível que pareça, naquele caos eu sou completo.

Lá se vai mais uma garrafa morna corpo adentro molhando o caminho que percorre e todas aquelas almas e todos aqueles corpos e todo aquele calor junto, misturado, entrelaçado.

Sou rei, sou dono, sou pleno e uma voz distorcida me diz exatamente o que fazer e o tempo não para. A noite ganha contornos cada vez mais interessantes, assim como os olhares se entendem.

A falta de voz é preenchida pelas voltas dos bpms e todos dançam na mesma melodia, a mesma que dita o ritmo do que será daquilo tudo.

Que êxtase impressionante, por um momento alia alegria, felicidade, euforia e paz. BUM!

Não há mais nada a se dizer. Aliás, nunca ouve. Somos todos um só ritmo, uma só melodia e quem sequer faz ideia se tratamos de uma coisa boa ou ruim, basta avaliar os sorrisos em volta.

Foda-se, amanhã é outro dia.