18 de junho de 2014

Viagem

A estrada estava escura enquanto seguiamos a caminho de casa, todos relativamente cansados se isolaram em pequenos cochilos e comentários aleatórios. Outros passam rápido por nós e costuram os outros carros sem qualquer atenção, é incrível como a estupidez humana se potencializa dentro de um veículo!

Me ocorre uma dúvida: Somos nós quem cortamos a estrada ou ela que passa por nós? Quem deixa mais marcas? Tanto faz, seguimos a caminho de casa. Casa. Que piada!

Vejo mais um cachorro na estrada, suor nos rosto e a garganta ressecada. Até ontem podíamos chegar tão longe e hoje só queremos ter um lugar para não precisarmos chegar mais em qualquer outro.

As estrelas se esconderam hoje, junto com a lua que resolveu não aparecer. Fazem dias quentes e noites frias, preciso colocar meu casaco. Preciso olhar você e seus olhos, além dessa estrada. Não quero mais asfalto, quero toque. Não quero mais asfalto e o tempo correndo nesse ritmo contínuo e cansativo, quero estrelas no céu e um abraço ao silêncio, sem despertador.

A única censura que deveria haver seria a de não haver abraço, nesse frio. A estrada continua escura enquanto seguimos, se completa e mal lembro do que fiz durante o dia. Sei que foi bom e nada deu errado. Sei que pelo menos, sigo em paz. Preciso chegar logo a qualquer lugar, para não ter que chegar mais.

Onde estão as estrelas? E a lua onde foi parar? Parece que essa estrada não chega perto de onde vai acabar. Se um sorriso faz falta já aprendi como contornar, vou pegar o primeiro retorno à esquerda e voltar para buscar. 

As estrelas se esconderam hoje, junto com a lua que resolveu nem aparecer. O céu nublado esvaiu aquela linda imagem, até ontem podíamos chegar tão longe... Minhas mãos continuam a gelar. Não quero mais chegar, quero olhar o teu olhar, além daquela estrada.

Se a lua resolver aparecer, eu paro o carro e chego aqui mesmo. Faço do acostamento o meu lar, porque eu não quero mais falar. Não me chame, disseram que não estou mais aqui. Saí, fui viajar.





8 de junho de 2014

Diga-me

Oh, vida! Por que bater tanto? Me diga, por favor, qual é a necessidade disso... Imploro em ao menos saber a razão da dor que sinto. Diga-me, vida! 

Não era nada, inatingível e incólume. Estava bom assim quando, de repente, lá vem de novo. Acho que lá vem outra vez, não! Estava bem melhor assim... Não acreditar em nada é mais prático, não há mudança, não há expectativa, nada além do nada que nos encontramos.

Diga-me vida, por favor, pra que bater tanto? Quando me dissestes que era o que queria, respeitei. Respeitei enquanto me falava e mesmo assim, escolhi acreditar. Maldito! Eles esperavam por mim enquanto eu passava ao seu lado e me olhavam como se esperassem meu fraquejar, mesmo diante de uma trêmula e confusa insegurança essa não é sequer uma opção.

Já passaram muitas coisas por aqui, algumas até ficaram um pouco, mas logo se foram. Não há muito tempo para algo que não esta interessado em prender, prezar pela liberdade é algo que machuca e por vezes, retruca.

Oh, vida! Pra que bater em quem não merece? Pra que chutar tanto o que não faz questão de qualquer coisa? Diga-me! 

Sem querer esperávamos o diferente chegar e todas as vezes que tínhamos certa confiança de que estávamos em sua presença... Ah! Meros tolos! Reles crédulos. Malditos medíocres. HAHAHA

Não há. Não há mérito. Não houve. Não haveria por quê.

Diga-me, vida... Faça-me o favor de sentar aqui comigo agora e dizer pra que tanto? Já entendi, não quero mais lições. Estou bem assim. Pode chamar o fim, por gentileza? Obrigado. Ficarei aqui na companhia do silêncio a esperar.

Tamanha prepotência imaginar que tudo isso seja alguma coisa ao atingir-nos. As coisas são como são e não mudariam por hipótese alguma. Tamanha prepotência, vida. Diga! Qual é o valor de uma palavra?

Inundado de lágrimas inexistentes seguimos um caminho pelo qual já estamos cansados de passar, mais uma e outra vez e mesmo sabendo o final, seguimos. Malditos!

A vontade de largar a sobriedade é parada pela razão de alguma escolha que fizemos, qual seja...

Quando tudo isso acabar e perguntarem o que houve, não seria boa ideia. Diga-me vida, por que bater tanto assim? Afinal, qual é o valor de uma palavra... Da sua palavra?


5 de junho de 2014

Ela

Como uma criança ela disse que nem sentia, mal sabia o que dizia. Como uma criança reagiria? Aquele sorriso desconcertante, sincero. Quando acaba de fazer uma besteira - diga-me - quem consegue se preencher de cólera diante de um desses?

Como uma criança, ela falava cheia de propriedade, tinha certeza de que não fazia a menor ideia. Não ousaria corrigir. Só concordo, esperando ela sorrir. 

Transforma o dia cinza em um quadro, as nossas cicatrizes emolduram aquela imagem. Há um coração ali, perdido cheio de razão. Ela se cala sim e se irrita quando acerto, diz que não.

Como uma criança ela olha ao invés de pedir. Ela clama, sem abrir a boca. Por que dizer o que está na cara? Beira o absurdo ter que gritar o que tá pintado em nosso horizonte.

Ela é mesmo como uma criança que encanta o ambiente quando faz bico e vira a cara pra gente. Vestida de mulher para enganar os medíocres. Como uma criança ela disse que não sentia, que mal sabia o que dizia.